A situação ameaça testar os limites do direito marítimo e aumentar as tensões entre Pequim e as capitais da Europa
A tripulação do graneleiro chinês Yi Peng 3 é suspeita de ter cortado deliberadamente dois cabos de fibra ótica com dados essenciais no Mar Báltico, arrastando a âncora por mais de 100 milhas náuticas, cerca de 160 quilómetros. Segundo o Wall Street Journal, o incidente aconteceu na semana passada e a tripulação deste navio chinês está agora sob investigação por suspeita de sabotagem.
O graneleiro chinês Yi Peng 3 - com 225 metros de comprimento, 32 metros de largura e carregado com fertilizante russo - está cercado por navios da União Europeia e da NATO em águas internacionais, que querem investigar a ação chinesa, com Finlândia, Suécia e Lituânia a liderar o processo. A Dinamarca disse que está em “diálogo contínuo” com vários países, incluindo a China, e os suecos já abriram um inquérito independente sobre o caso.
“Foi iniciada uma investigação preliminar porque não se pode descartar que os cabos tenham sido deliberadamente danificados”, disse Per Engström, superintendente da polícia sueca, numa declaração à imprensa esta quarta-feira. “A classificação atual do crime é sabotagem, embora isso possa mudar”, adiantou.
No entanto, conta o New York Times, os serviços de espionagem dos Estados Unidos não estão convictos com a tese de sabotagem. Desde que o navio foi avistado no local onde os cabos foram alegadamente cortados que os Estados Unidos e os países europeus têm teses diferentes sobre o que possa estar em causa.
A situação ameaça testar os limites do direito marítimo e aumentar as tensões entre Pequim e as capitais da Europa.
O graneleiro chinês Yi Peng 3, que navegava com bandeira chinesa e pertence à Ningbo Yipeng Shipping Co. Ltd., partiu do porto russo de Ust-Luga no Mar Báltico a 15 de novembro, de acordo com a Marine Traffic, citada pelo NYT. E uma análise da Reuters aos dados do MarineTraffic mostrou que as coordenadas do navio correspondiam à hora e ao local dos cortes.
O primeiro cabo que fazia ligação entre a Lituânia e a Suécia foi cortado na manhã de 17 de novembro. O segundo, que ligava a Finlândia e a Alemanha, foi cortado na manhã seguinte. O dano interrompeu algumas transferências de dados, mas não cortou as ligações de internet em nenhum dos países. Após este alegado corte propositado, o navio foi forçado a ancorar no Mar Báltico, tendo lá ficado sob escolta durante uma semana.
Suécia pede formalmente cooperação da China na investigação
A Suécia pediu formalmente à China para ajudar a esclarecer o que aconteceu no Báltico, revelou o primeiro-ministro sueco Ulf Kristersson nesta quinta-feira.
“O pedido expressa a nossa determinação em efetuar uma busca ao navio para descobrir o que aconteceu”, disse Kristersson.
Responsáveis dos serviços secretos ocidentais de vários países afirmam estar confiantes de que o navio chinês causou os cortes em ambos os cabos, mas dividem-se quanto ao facto de poder ter sido um acidente ou um ataque.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da China garantiu na quarta-feira que os canais de comunicação com a Suécia e outras partes relevantes estão “desobstruídos”, quando questionado sobre o pedido sueco.