Há três cenários em França após a demissão do primeiro-ministro, todos eles considerados improváveis
O quinto primeiro-ministro francês em menos de dois anos aguentou 27 dias no cargo. Sébastien Lecornu, 39 anos, ex-ministro da Defesa e homem de confiança do presidente Emmanuel Macron, apresentou a demissão esta segunda-feira, um dia depois de ter escolhido os ministros do seu governo. Fê-lo porque entende que "o país é mais importante que o partido" e porque percebeu que a sua governação estava condenada, concretamente o orçamento do Estado, após "três semanas de negociações", na maioria "discretas", com partidos pouco humildes que "pensam que têm todos maioria" no parlamento, afirmou no seu discurso de renúncia.
É assim desde o ano passado, quando Macron decidiu convocar eleições legislativas antecipadas, que resultaram num parlamento dividido em três blocos: esquerda, centro-direita e extrema-direita, por esta ordem de votos conquistados. Depois de Élisabeth Borne, Gabriel Attal, Michel Barnier, François Bayrou e Sébastien Lecornu, o que fará agora o presidente?
À partida, Emmanuel Macron fará o mesmo de sempre, ou seja, deverá nomear um novo primeiro-ministro. Este é um dos três cenários possíveis.
Antes de escolher Lecornu, os analistas antecipavam que o presidente francês poderia finalmente nomear uma figura da esquerda, que venceu as últimas legislativas ainda que sem maioria. Mas Macron voltou a apostar num nome do seu partido, Renascimento, de modo a tentar controlar a extrema-direita. E voltou a não resultar, pelo que voltar a escolher alguém da sua confiança parece improvável, tal como parece improvável escolher alguém de esquerda ou de direita.
Outro cenário passa pela dissolução do parlamento e a convocação de eleições legislativas. Macron tem-se manifestado contra esta possibilidade, muito reclamada pela extrema-direita, com o receio de que o Reagrupamento Nacional de Jordan Bardella possa vencer e chegar ao governo.
O terceiro cenário passa pela renúncia do próprio Emmanuel Macron, que o próprio também já rejeitou por diversas vezes, novamente com receio de abrir caminho à chegada da extrema-direita ao poder.
As próprias presidenciais estão a acentuar a instabilidade em França, uma vez que Macron não pode concorrer em 2027. O próprio Lecornu lamentou no discurso de hoje os "apetites partidários" que ameaçam a governação tendo por base umas eleições que ainda vêm longe.
A França tem o maior défice da zona do euro e todos os cortes orçamentais propostos até ao momento geraram contestação.