"Vai haver um aumento de 30% nos produtos finais". APED prevê subidas, mas afasta cenários de escassez ou rutura

22 mar 2022, 20:56
Supermercado (Getty Images)

Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da associação de distribuidores alimentares, garante que “não há em Portugal nenhum risco de rutura ou escassez no horizonte e que não vai faltar qualquer produto em território nacional, tal como não faltou durante o contexto de pandemia que vivemos”

Cada ida ao supermercado vai sair gradualmente mais cara aos portugueses ao longo dos próximos meses. O alerta está a ser feito pela Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), com base nas previsões, estudos e informações que têm sido partilhadas pelas congéneres europeias pertencentes ao EuroCommerce, que antevê "um aumento generalizado de 30% nos produtos finais".

“Vai haver um aumento generalizado dos preços de 30% nos produtos finais”, assegurou à CNN Portugal Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da APED, motivado pelos aumentos da energia que encareceu todas as etapas da cadeia de retalho alimentar desde a fase de produção à venda ao consumidor final.

"Estima-se que os produtos aumentem 30% face à subida do preço dos combustíveis e da energia”, refere Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da APED.

Quanto a eventuais cenários de escassez ou de rutura, o especialista diz que estão "completamente afastado". Gonçalo Lobo Xavier garante que, neste momento, "não há nenhuma perspetiva" que aponte para a falta de qualquer tipo de produto alimentar, referindo até que "a grande dificuldade tem sido os cereais, que provinham na sua maioria da região a Ucrânia, mas a Europa já está a encontrar várias alternativas como a África do Sul e a América do Sul”.

Contudo, esta mudança de fornecedores de uma matéria-prima, como os cerais, à escala global gera um novo conjunto de dificuldades ao nível da competitividade nos mercados internacionais, como realça o diretor-geral da APED: “A China já comprou grande parte da produção de trigo da Argentina”. Por isso, o diretor-geral garante que "vai demorar algum tempo para o mercado se reajustar" e que este processo de estabilização do retalho alimentar "deverá durar pelo menos três meses".

“Neste momento, não há em Portugal nenhum risco de rutura ou escassez no horizonte. (...) Não vai faltar qualquer produto em território nacional, tal como não faltou durante o contexto de pandemia que vivemos”, assegura.

Redução do IVA da energia teria "impacto direto e imediato"

Portugal, Espanha, Itália e Grécia criaram uma proposta conjunta que visa a redução do IVA da energia a nível europeu. Após a reunião da sexta-feira passada, entre os quatro primeiros-ministros do sul da Europa, António Costa reiterou que é imperativo "responder a este tema da energia no curto prazo”, lembrando que o próximo Conselho Europeu, com encontro marcado esta quinta e sexta-feira, terá de culminar com "decisões concretas que sejam imediatamente aplicáveis".

“Terá um impacto direto e imediato", Gonçalo Lobo Xavier entende que uma redução dos custos na energia seria "muito bem vinda", mas diz que, para já, ainda não é "possível perspetivar a diferença que faria no preço final dos produtos”. O diretor-geral da APED defende que “a área fiscal, sobretudo nos combustíveis fosseis, tem de ser explorada pelo Governo português".

É a guerra a única responsável pela subida dos preços?

Mas, o que aconteceria, no cenário altamente irrealista, se a guerra acabasse amanhã e fossem retomadas as ligações comerciais? "O fim da guerra seria importantíssimo do ponto de vista humanitário, pelo horror que é, e até poderia ter um efeito positivo nos mercados da energia, mas não acabaria com a inflação", explica o especialista do retalho alimentar.

Gonçalo Lobo Xavier lembra que a "guerra tem tido um impacto direto no aumento dos preço dos produtos finais", no entanto, refere também que este aumento "já se estava a verificar antes do dia 24 de fevereiro".

 “Se a guerra acabasse amanhã, não acabaria a inflação. (…) A guerra tem um impacto direto nesta matéria, mas o aumento do preço dos produtos finais já se estava a verificar antes de dia 24 de fevereiro”, culmina Gonçalo Lobo Xavier.

No dia 23 de fevereiro, em declarações à Lusa, a APED já alertava que a pressão sobre os preços deveria continuar até ao segundo trimestre e avançava que havia produtos alimentares que sofreram aumentos "na ordem dos 10%".

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