Francisca Van Dunem suspende os sete militares que agrediram imigrantes em Odemira

Catarina Guerreiro , Notícia atualizada
7 jan 2022, 14:29

Decisão acontece após investigação da CNN/TVI sobre agressões a imigrantes por parte de GNR fardados. Serviços da Inspeção-Geral demoraram mais tempo a notificar dois dos sete militares: Hoje a ministra suspendeu-os

Oas sete militares da GNR acusados de agressões, maus-tratos e sequestro de imigrantes em Vila Nova de Mil Fontes, concelho de Odemira, foram suspensos preventivamente por 90 dias pela ministra da Administração Interna. Ficaram também todos proibidos de usar arma, apurou a CNN Portugal junto de fontes oficiais.

A decisão de aplicar as medidas de suspensão provisória surgiu pouco depois de a CNN Portugal/TVI ter revelado descrições e imagens que estão na Justiça e que mostram imigrantes a serem agredidos e humilhados por agentes fardados em Odemira que filmaram os próprios atos de violência. Os sete militares da GNR estão acusados desde novembro de 2021 de um total de 33 crimes contra imigrantes, provenientes do sul da Ásia - a maioria do Bangladesh, do Nepal e do Paquistão.

As suspensões preventivas por 90 dias, que podem ser prorrogadas, e o desarmamento foram as medidas propostas pela Inspeção-geral da Administração Interna (IGAI) para estes agentes. No dia 22 de dezembro de 2021, Francisca Van Dunem, que acabara de suceder a Eduardo Cabrita, assinou um despacho em que determinava a aplicação das medidas.

No entanto, os serviços demoraram mais tempo a notificar dois dos sete militares e por isso, em relação a esses, o processo disciplinar atrasou-se na IGAI e foi esta tarde a despacho pela ministra.

Bofetadas, estalos e gás pimenta

Um destes dois militares suspensos esta tarde é o que participou em quase todas as ações de agressão. Foi este agente quem, segundo a acusação revelada pela CNN/TVI, deu bofetadas, estalos, murros e encostou uma espingarda shotgun ao rosto de um dos imigrantes - que estava aterrorizado e que permanecia dobrado sobre os joelhos a chorar. Enquanto subjugava e agredia os imigrantes, este agente da GNR filmava tudo.

Este militar está, porém, suspenso até março ao abrigo de um outro processo anterior, em 2020, também de agressões e maus-tratos a imigrantes. Ou seja, segundo dados da GNR a que a CNN Portugal teve acesso, este agente está neste momento a cumprir uma pena efetiva de suspensão desde 11 de dezembro.

Quanto ao outro elemento que esta tarde foi suspenso, trata-se do agente que, fingindo estar a fazer uma operação policial, mandou um imigrante soprar num aparelho de medição de taxa de alcoolémia no qual estava colocado gás pimenta. O imigrante sentiu-se mal e pediu ajuda, mas os elementos da GNR - com satisfação, nota a acusação - não deixaram.

Aliás, no despacho de acusação de 10 de novembro de 2021 e ao qual a CNN Portugal e a TVI (ambas estações da Media Capital) tiveram acesso, o Ministério Público não tem dúvidas da forma de agir dos militares: "Faziam-no em manifesto uso excessivo de poder de autoridade que o cargo de militar lhes confere". Mais: "Todos os arguidos agiram com satisfação e desprezo pelos indivíduos". Quanto aos motivos, a procuradora  salienta o “ódio claramente dirigido às nacionalidades que tinham”, associado ao facto de saberem que eram “alvos fáceis".

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