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Paulo Portas: "Há uma certa diferença entre ser Emmanuel Macron que tem a pasta e o código para a arma nuclear ou ser Marine Le Pen"

MJC
24 abr 2022, 22:45

No seu espaço de comentário semanal, Global, Paulo Portas garante que a vitória de Macron em França "é uma boa notícias para a União Europeia" mas lembra que Marine Le Pen conseguiu o melhor resultado de sempre para a extrema-direita

A vitória de Emmanuel Macron nas presidenciais francesas "uma notícia boa para a União Europeia e é uma menos boa notícia para Putin, que é o nosso primeiro problema neste momento na Europa, embora fosse uma notícia esperada", afirma Paulo Portas.

No seu espaço de comentário "Global", no Jornal das 8 da TVI, Paulo Portas recorda que "a França é o único país da União Europeia que tem uma arma nuclear. Portanto, há uma certa diferença entre ser Emmanuel Macron que tem a pasta e o código para a arma nuclear, ou ser uma candidata como Marine Le Pen."

"Macron tem uma reeleição um pouco melhor do que eram as expectativas há duas semanas, mas não nos podemos esquecer que ele perde 8% dos votos do primeiro mandato para o segundo. Isso em em França significa 2,5 a 3 milhões de votos", sublinha.

Quanto a Marine Le Pen, apesar de ter dito no seu discurso que considera o seu resultado uma vitória, Paulo Portas não concorda: "Em eleições, quem ganha, ganha, e quem não ganha, perde".

"Quando o programa dela foi mais escrutinado, Le Pen tropeçou em dois problemas - a Rússia e a Europa. Esses dois temas, nomeadamente no debate, não a ajudaram", analisa. "Marine Le Pen tem uma percentagem inferior ao que julgou poder ter, mas que é em qualquer caso o melhor resultado de sempre. No discurso de derrota, ela já está a cavalo outra vez, como dizem os franceses."

Do ponto de vista programático, os dois problemas que Macron vai ter, para além da situação internacional, são a reforma das pensões (porque é preciso aumentar a idade da reforma) e a confusão entre imigração e Islão, considera Portas. "Eu acho que o problema em França, como na Bélgica ou na Alemanha, não é tanto a imigração. O choque cultural que se verifica em muitas periferias de muitas cidades é aquilo a que Miterrand chamava o limite da tolerância - que é quando os franceses sentem que há uma maioria de muçulmanos nos sítios onde vivem e que não estão muito dispostos a aceitar a constituição francesa. Esse é que é o problema. A Europa é capaz de um dia dizer: vir ver na Europa sim, mas é preciso aceitar os valores da Europa."

Ucrânia: "É uma luta contra o tempo"

Para falar da situação na Ucrânia, Paulo Portas mostra a obra "A Fonte da Exaustão",  que o escultor ucraniano Pavlo Makov levou à Bienal de Veneza e que é um símbolo "da enorme revolta e do enorme cansaço que aquele povo deve estar a sentir". Os russos têm ocupado muitas pequenas e médias vilas no caminho no Donbass. A guerra para a Ucrânia é muito mais difícil no Donbass do que nos arredores de Kiev, porque os russos já lá estão há muito tempo, já controlam uma parte do território e conhecem bem o terreno. É uma luta contra o tempo. Ou as armas chegam a um exército mobilizado mas cansado a tempo, ou pode ser uma vitória dos russos.

Sobre a visita de Guterres a Moscovo e a Kiev, Portas comenta: "A ordem não é particularmente feliz mas para mim o que é mais relevante é que as Nações Unidas, no sentido político, têm sido uma inexistência, no facto militar e político mais grave que o mundo ocidental viveu em muitos anos".

Na opinião de Paulo Portas, aquilo que Putin está a tentar fazer com o cerco em Mariupol é matar os ucranianos à fome. "Não há qualquer comunicação entre as cerca de 2 mil pessoas que estão no interior e o exterior. A Rússia cercou completamente. Se tentasse um assalto, teria uma guerra de guerrilha, que seria muito arriscado e perigoso." A Rússia sabe que tem o tempo a favor. Não há medicamentos e não há alimentos e o ethos, ou seja, a vontade de resistir, tem os seus limites".

O comentador deixa ainda uma palavra para Boris Johnson, que "está com problemas: ele mentiu, mentir ao parlamento é um crime". A maioria conservadora impoôs um inquérito, por causa das festas em Downing Street durante o covid-19. Em maio haverá eleições locais e a probabilidade de derrota é de 85%. Além disso, a taxa de desaprovação da sua atuação como primeiro-ministro está em 65%.

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