Gisèle Pelicot vai voltar a tribunal porque quer, para mostrar que "violação é violação, que não há violações pequenas"

CNN Portugal , MJC
5 out, 11:30
Gisèle Pelicot, 9 de dezembro de 2024 (AP Photo/Lewis Joly)

O julgamento do recurso pedido por Husamettin D. começa na segunda-feira em Nîmes, França. O operário da construção civil, de 44 anos, foi o único dos 51 arguidos a levar o seu recurso até ao fim. Alega que foi manipulado por Dominique Pelicot.

Um ano após o impacto mundial do julgamento do caso conhecido em França como "as violações de Mazan", Gisèle Pelicot volta a tribunal para testemunhar no julgamento do recurso, que começa na segunda-feira, em Nîmes. Gisèle Pelicot tenciona estar presente para, mais uma vez, "explicar que violação é violação, que não há violações pequenas", afirmou o seu advogado, Antoine Camus à AFP. "Ela teria preferido não passar por essa provação novamente", mas pretende "levar este caso até ao fim".

Gisèle Pelicot, atualmente com 72 anos, foi drogada com ansiolíticos durante uma década pelo seu ex-marido, com quem partilhou 50 anos da sua vida, e depois violada por ele e por dezenas de homens que ele recrutava na Internet, principalmente na sua casa em Mazan (Vaucluse).

Ao contrário do julgamento em Avignon, onde, durante quatro meses, Gisèle Pelicot enfrentou diariamente cerca de 50 homens acusados, desta vez ela enfrentará apenas Husamettin D., que comparecerá em liberdade neste julgamento que deverá durar apenas três ou quatro dias. Segundo o advogado, um dos seus três filhos, Florian, estará ao seu lado para apoiá-la.

Em dezembro, o tribunal criminal de Vaucluse condenou Husamettin D. a nove anos de prisão, mas o homem beneficiou de um adiamento da pena por motivos de saúde. "Não sou um violador, isso é um fardo demasiado pesado para mim. O culpado é o marido dela, nunca pensei que esse tipo fosse capaz de fazer isso à mulher", defendeu-se o operário da construção civil de 44 anos durante o primeiro julgamento.

Husamettin D. "pretende manter o seu recurso na íntegra, tanto no que diz respeito à sua responsabilidade criminal como à pena", afirmou em junho a sua advogada, Sylvie Menvielle. 

Na primeira instância, Husamettin D. explicou ter conhecido na Internet, em dezembro de 2019, um homem que se apresentava como membro de um "casal libertino" cuja mulher "fingia estar a dormir". Foi a casa de Gisèle Pelicot nessa mesma noite. Disse que só quando já estava com ela há pelo menos meia hora, ao ouvi-la a ressonar, é que percebeu que algo não estava normal. O homem contou que, nesse momento, decidiu sair, precipitadamente, mas não considerou útil alertar as autoridades.

Husamettin D. alegou ser vítima do manipulador Dominique Pelicot. O ex-marido de Gisèle, atualmente com 72 anos, contesta veementemente essa posição. "Não há qualquer possibilidade de Dominique Pelicot mudar de opinião ou de postura" no julgamento de recurso, explicou à AFP a sua advogada, Béatrice Zavarro, que recorda que as primeiras palavras do seu cliente em Avignon foram: "Sou um violador e todos os homens nesta sala são violadores".

Dominique não recorreu da sua condenação a 20 anos de prisão, pena que se encontra a cumprir, em regime de isolamento. Apenas sairá para ser ouvido como testemunha, na tarde do segundo dia de audiência. 

Os outros 50 arguidos, com idades compreendidas entre os 27 e os 74 anos, foram condenados a penas que variam entre três anos (dois arguidos com pena suspensa) e 15 anos de prisão (esta foi para um homem que violou Gisèle Pelicot seis vezes).

No início, outros 16 homens também recorreram, mas acabaram por desisti, por várias razões, que vão desde o medo da pressão até ao receio de uma pena mais pesada. Até porque, desta vez, o tribunal será composto por jurados populares.

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