Itália vai continuar a ser "muito amiga" da Europa? Órban e Putin apoiam a vitória de Meloni e Chega aplaude sozinho em Portugal

26 set 2022, 13:00
Giorgia Meloni

Há quem já fale no fim da esquerda na Europa, enquanto outros esperam novas oportunidades

De Brasília a Moscovo, da esquerda à direita, ninguém parece ter ficado indiferente à vitória de Giorgia Meloni nas eleições italianas, num resultado que marca o regresso da extrema-direita ao poder de um país onde Benito Mussolini foi líder durante mais de 20 anos. 

Na Alemanha, por exemplo, as reações dividem-se entre os radicais da AfD e o governo. Beatriz von Storch, do partido de extrema-direita, preconiza mesmo o fim de uma era para a esquerda na Europa: "Suécia no norte, Itália no sul: os governos de esquerda estão acabados".

A reação oficial do partido, que foi assinada pelos líderes Tino Chrupalla e Alice Weidel, alinha no mesmo discurso, felicitando Giorgia Meloni e os seus parceiros por uma "vitória do senso comum", virando-se depois para dentro: "A Alemanha, com o seu governo de coligação verde e de esquerda, parece sozinha na Europa agora".

Entendimento diferente tem a coligação liderada por Olaf Scholz, que ainda assim não se adiantou muito nas críticas, preferindo dizer que espera que a Itália continue "muito amiga" da Europa, numa altura em que se teme que a chegada da extrema-direita ao poder possa desencadear um processo de saída da Itália da União Europeia, da qual o país foi um dos seis fundadores.

É nessa lógica "construtiva" que alinha a União Europeia, que já veio dizer que espera "cooperação" com o novo governo italiano. Em declarações à imprensa, o porta-voz da Comissão Europeia disse que a organização aceita os resultados eleitorais dos seus países.

"Neste caso não será diferente", garantiu Eric Mamer, acrescentando que ainda se espera uma formação formal de um governo.

Menos diplomáticas foram as reações de Espanha e França. Ainda que não tenha sido em representação oficial do governo, o ministro espanhol dos Negócios Estrangeiros disse que este é um "momento de incerteza", dizendo mesmo que "o populismo acaba sempre em desastre".

"Os populismos ganham sempre importância e acabam da mesma forma: em catástrofe", afirmou José Manuel Albarès, falando numa "resposta que é sempre a mesma: 'vamos fechar-nos e voltar ao passado'".

De França a reação chegou da primeira-ministra, que já garantiu que o país vai ficar atento a eventuais desrespeitos pelos direitos da população, referindo-se mesmo ao aborto em concreto.

"Na Europa temos certos valores, e obviamente que vamos estar vigilantes", reiterou Elisabeth Borne à BFM TV. "São os valores dos direitos humanos e o respeito pelos outros, nomeadamente o direito ao aborto", acrescentou, ainda que referindo não querer comentar diretamente a "escolha democrática do povo italiano".

Mais tarde, o presidente francês disse respeitar as escolhas feitas pelos eleitores italianos, pedindo que, "como amigos e vizinhos", os dois países continuem o trabalho.

"É com a Europa que vamos ultrapassar os nossos desafios", acrescentou Emmanuel Macron.

E se há país em que a Europa tem estado de olho é a Hungria, cujos desrespeitos pelos direitos humanos têm feito Bruxelas emitir vários avisos. Sem surpresa, foi precisamente de Budapeste que chegou uma das maiores felicitações a Giorgia Meloni.

O nacionalista Viktor Órban, primeiro-ministro húngaro, falou numa vitória "merecida", fazendo acompanhar a publicação de uma fotografia em que aparecem os dois líderes.

Já o porta-voz do primeiro-ministro aproveitou ainda para felicitar Matteo Salvini e Silvio Berlusconi: "Nestes tempos difíceis precisamos mais do que nunca  de amigos que partilhem uma visão comum", disse Balázs Orbán.

Bolsonaro e Putin na frente das felicitações

Ainda que não diretamente, os presidentes de Brasil e Rússia também mostraram, sem surpresas, a sua satisfação com os resultados deste domingo. Jair Bolsonaro não falou, mas o seu filho Eduardo, que é senador por São Paulo, repetiu uma expressão tantas vezes utilizada: "A nova primeira-ministra italiana é Deus, pátria e família".

Já a Rússia reagiu pelo porta-voz do Kremlin, que espera uma nova relação com Roma: "Estamos prontos para dar as boas-vindas a uma política que se mostre mais construtiva para com a Rússia", disse o porta-voz, Dmitry Peskov.

Chega aplaude sozinho

Da parte de Portugal ainda não houve nenhuma reação oficial do Governo ou da Presidência, mas no PS já há quem avance com conclusões. O secretário-geral adjunto e deputado socialista João Torres escreveu na rede social Twitter que "temos de manter a atenção e a vigilância em relação à salvaguarda dos valores democráticos".

Também Isabel Moreira reagiu aos resultados, falando numa Itália "envenenada". 

O Chega apressou-se a reagir à vitória de Giorgia Meloni. Ainda antes da meia-noite saudou a “viragem à direita" da Itália e considerou que os resultados das eleições legislativas de hoje neste país abrem caminho a “uma reconfiguração política da Europa”, prevendo que também tenham consequências em Portugal.

“Estamos seguros de que estes ventos de mudança irão chegar a Portugal e que também os portugueses terão direito a virar a página e eleger quem seja capaz de defender os seus interesses”, salienta o partido português, em comunicado.

O Chega congratula-se, em especial, “com a votação obtida pelos seus congéneres europeus, liderados por Giorgia Meloni e Matteo Salvini”.

O presidente da Iniciativa Liberal, João Cotrim Figueiredo, disse respeitar as escolhas dos italianos nas urnas, embora tenha manifestado preocupação com as “ideias políticas” dos partidos vencedores.

“Respeitarei sempre as escolhas livres dos povos, porque é disso que se trata em democracia, e manifesto preocupação e manifesto também uma total falta de afinidade com as ideias políticas que saíram vencedoras em Itália”, declarou o líder da IL, em reação ao sufrágio de domingo.

O PCP considerou que a perspetiva de um governo de extrema-direita em Itália "é inquietante" e obriga à intensificação da "luta contra o revisionismo histórico que branqueia e banaliza os crimes do nazifascismo".

Em comunicado, a direção comunista sustenta que a ideia de um governo de extrema-direita em Itália, a terceira maior economia da Zona Euro, "é inquietante e confirma a necessidade de intensificar a luta contra o revisionismo histórico que branqueia e banaliza os crimes do nazifascismo enquanto promove o anticomunismo".

Cotrim Figueiredo afirmou que, apesar da preocupação, não se pode contestar a escolha dos italianos.

A porta-voz do PAN destacou "mais um dia triste na história da democracia da Europa", afirmando que "as respostas para os problemas que enfrentamos não estão no populismo".

O Livre lamentou os resultados das eleições legislativas em Itália, que disse ver “com inquietação”, mas ressalvou que a esquerda e outras forças progressistas “falharam ao não se aliarem”, abrindo caminho à extrema-direita.

Em comunicado, o partido representado na Assembleia da República pelo deputado Rui Tavares lamentou “a divisão progressista” que "abriu caminho à extrema-direita".

“O Livre olha com inquietação para os resultados das eleições italianas, reiterando a necessidade em repensar as estratégias das forças democráticas, pela defesa da liberdade, da democracia e da Europa”, lê-se o texto.

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