No local do Estádio Adelino Ribeiro Novo vai nascer o novo Centro de Saúde de Barcelos
A demolição do antigo Estádio Adelino Ribeiro Novo, em pleno centro de Barcelos, já começou. O espaço que durante décadas foi a casa do Gil Vicente Futebol Clube vai dar lugar ao novo Centro de Saúde de Barcelos, um equipamento moderno que representa um investimento de cerca de 12 milhões de euros, promovido pela Câmara Municipal.
Na memória ficam alguns resultados históricos, como o triunfo (3-2) que eliminou o Sporting da Taça de Portugal, em 1998/99, ou a vitória (2-1) sobre o FC Porto na última jornada da temporada 1999/2000, que valeu o 5.º lugar no campeonato aos galos.
O Estádio Adelino Ribeiro Novo foi inaugurado em 1933 e, durante boa parte do século XX, serviu de palco principal ao futebol barcelense, com capacidade para cerca de 8.500 espectadores. Desde 2004, com a inauguração do Estádio Cidade de Barcelos, passou a ser utilizado sobretudo para treinos e jogos das camadas jovens, que em 2024 se mudaram para o novo Complexo Desportivo Cidade de Barcelos.
O recinto foi batizado em homenagem ao guarda-redes Adelino Ribeiro Novo, que faleceu em campo em 1946, após um choque violento durante um jogo — um episódio que marcou profundamente a história do desporto local.
«Fecha-se um ciclo de décadas»
Para o professor Ilídio Torres, estudioso da história desportiva do concelho e autor de livros sobre a matéria, a demolição do estádio marca o encerramento de um ciclo importante da memória coletiva barcelense.
«A iniciativa da Edilidade ligada ao desenvolvimento urbanístico da zona do Estádio Adelino Ribeiro Novo ditou o fim de algo muito significativo da História Gilista — fecha-se um ciclo de décadas que ficará para sempre nos anais do futebol barcelense», afirma.
Recordando as origens do campo, Ilídio Torres destaca que o espaço «surgiu por iniciativa do União Futebol Clube Barcelense, em 1922, com a aquisição da bouça da Granja, propriedade de uma senhora da Casa Bagoeira, família do Doutor Francisco Torres». O professor evoca ainda os tempos em que se improvisavam campos «em frente ao Asilo dos Inválidos, na Misericórdia, ou no Campo D. Carlos», e lembra o acolhimento que «a Família Domenech dispensou no seu Campo do Triunfo, lugar das Torgas».
«Relativamente ao Gil Vicente, recordemos que em 1932 viria a herdar os direitos de utilização do Campo da Granja, depois batizado de Adelino Ribeiro Novo. Será mesmo o fim», observa, com nostalgia.
Ilídio Torres acrescenta ainda que, após as últimas intervenções da Câmara Municipal nas décadas de 1980 e 1990, o estádio acabou por ficar sob propriedade camarária, sublinhando que «boatos de que aquele espaço foi doado ao Gil Vicente durante a presidência do Dr. João Machado nunca chegaram a ser confirmados. Verdade ou mentira, são coisas do passado. Que o Gilinho consiga singrar sem dificuldades no futuro. Saudações amigas», conclui.
«Campo histórico com muitas memórias»
Também José Torres, antigo jogador do Gil Vicente, lamenta o desaparecimento do histórico recinto, sublinhando a importância simbólica que teve para várias gerações de atletas.
«É um marco negativo porque é um campo histórico por onde passaram muitos dos jogadores que deram nome e colocaram o Gil Vicente no patamar em que está e onde houve grandes conquistas. Tenho muitas memórias como jogador, como a subida à 2.ª Divisão em 1970/71, que se acabam e trazem tristeza. Mas os tempos modernos não se compadecem com isso», remata.
O ex-futebolista recorda ainda o ambiente único vivido nas bancadas do Adelino Ribeiro Novo.
«Criou-se sempre o mito de que o campo era pequeno, mas tinha as medidas oficiais. O que tornava o campo pequeno era a distância que havia entre as linhas laterais e os adeptos, que estavam muito em cima do campo. As equipas que iam jogar a Barcelos sentiam que o público estava mesmo ali em cima deles. Sou do tempo em que a vedação era um gradeamento com chapas de publicidade, e os adeptos batiam nessas chapas, fazendo um barulho ensurdecedor. As equipas que nos visitavam até se assustavam.»
Com o arranque das demolições, Barcelos despede-se de um dos seus maiores símbolos desportivos, abrindo caminho a uma nova fase no centro da cidade — uma transformação que procura conciliar memória e modernidade.
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Foto: Paulo Sampaio