Voar sem asas: os comboios mais rápidos do mundo

CNN , Ben Jones
10 fev 2022, 10:58

Perante as alterações climáticas a nível mundial, os voos de curto curso são cada vez menos desejados por muitos viajantes. O fenómeno de flygskam (vergonha de voar) nasceu na Escandinávia e já inspirou muitos viajantes a reduzir a sua dependência das companhias aéreas.

Até que alguém prove o contrário, os comboios de alta velocidade são a alternativa mais eficaz aos aviões para viagens até aos 100 km. Transportando passageiros entre cidades a velocidades de 290 km/h ou mais, oferece uma atrativa combinação de velocidade e conveniência.

A capacidade dos comboios para transportar rapidamente grandes quantidades de pessoas torna-os muito mais eficientes que conceitos de pouca capacidade e ainda com provas para dar como o do Hyperloop.

Desde os anos 80, investiram-se centenas de milhares de milhões de dólares em linhas de comboios de alta velocidade e grande capacidade por toda a Europa e Ásia, seguindo os exemplos do Shinkansen japonês e do TGV francês.

Na última década, a China assumiu a liderança mundial no segmento, construindo uma redeferroviária de 38 mil quilómetros que chega a quase todos os cantos do país.

Espanha, Alemanha, Itália, Bélgica e Inglaterra estão a expandir a rede europeia, esperando-se que outros países se sigam na década de 2030.

Em 2018, África ganhou a sua primeira linha de alta velocidade com a abertura da linha Al-Boraq, em Marrocos, e o Egito prepara-se para juntar ao clube antes do final de 2020.

Noutras partes do mundo, Coreia do Sul, Arábia Saudita e Taiwan já criaram as suas linhas de alta velocidade, e Índia, Tailândia, Rússia e EUA estão entre os países que se comprometeram a construir uma nova rede, em que os comboios possam percorrer as suas maiores cidades a velocidades superiores a 250 km/h.

Mas onde poderá viajar nos comboios mais velozes do mundo em 2022?

1: Shanghai Maglev - 460 km/h (China)

O comboio comercial mais veloz do mundo também é único, sendo a única ligação atual no mundo que transporta passageiros através da levitação magnética (Maglev) em detrimento das convencionais rodas de aço em carris.

Ligando o aeroporto de Pudong, em Xangai, à estação de Longyang Road, no centro da cidade, atinge uma velocidade comercial máxima de 460 km/h, completando a viagem de 30 quilómetros em apenas sete minutos e meio.

Utilizando tecnologia alemã, os comboios Maglev sobrevoam uma pista elevada numa viagem suave e sem qualquer fricção devido aos potentes imãs.

Através da experiência obtida em mais de uma década de serviços regulares, a China desenvolveu os seus próprios comboios Maglev (600 km/h) e tem planos ambiciosos para uma rede de Maglevs, com uma linha entre Xangai e Hangzhou incluída.

2: 'Fuxing' CR400 - 350 km/h (China)

Os comboios Fuxing chineses podem transportar 1200 passageiros a velocidades de 350 km/h. Chogo/Xinhua/Getty Images

Para além de possuir a maior rede de linhas de alta velocidade no mundo, a China tem também os mais velozes comboios comerciais do planeta.

Os comboios “Fuxing" CR400 atingem uma velocidade comercial máxima de 350 km/h, mas já conseguiram atingir os 420 km/h em testes. Uma declaração de intenções da crescente indústria tecnológica de linhas ferroviárias chinesas, os comboios Fuxing foram desenvolvidos a partir de gerações anteriores de comboios de alta velocidade, que se baseavam em tecnologia importada da Europa e do Japão.

Até 16 carruagens podem transportar até um máximo de 1200 passageiros, exibindo essa impressionante família de comboios todos os extras possíveis como entretenimento nos bancos individuais, monitores com vidro inteligente, carregadores sem fios, “cabines inteligentes” e até versões concebidas para condições climatéricas extremas e condução automática, apresentando recentemente os únicos comboios de alta velocidade automáticos no mundo.

As versões mais velozes do CR400 estão em serviços nas rotas principais entre Pequim-Xangai-Hong Kong e Pequim-Harbin.

3: ICE3 - 330 km/h (Alemanha)

Os comboios alemães Inter-City Express são conhecidos como “Minhocas Brancas”. Philipp von Ditfurth/picture alliance/dpa/Getty Images

A marca alemã mundialmente famosa InterCity Express (ICE) cobre uma vasta família de comboios de alta velocidade em serviço por diversas rotas.

No entanto, o membro mais veloz da família dos “Minhocas Brancas” é o ICE3 (330 km/h), em cena desde 1999. Estas incríveis máquinas foram construídas para a linha de alta velocidade de 180 quilómetros entre Colónia e Frankfurt e reduziram o tempo de viagem entre as duas cidades de duas horas e meia para apenas 62 minutos, desde 2002.

A velocidade de serviço normal é de 300 km/h, mas o ICE3 está autorizado a acelerar até aos 330 km/h se estiver atrasado. Em testes, atingiu uma velocidade máxima de 368 km/h. A chave para o desempenho do ICE3 são os 16 motores elétricos distribuídos ao longo das oito carruagens do comboio, debitando uns fantásticos 11 mil cavalos.

A frota ICE3 percorre toda a Alemanha e inclui comboios para rotas internacionais, ligando as principais cidades alemãs a Paris, Amesterdão e Bruxelas.

O design também forma a base da família de comboios de alta velocidade “Velaro”, da Siemens, que foi vendida à Espanha, Rússia, Turquia, China e Eurostar para a sua segunda geração de comboios internacionais.

4: TGV - 320 km/h (França)

Os TGV franceses foram o primeiro serviço de alta velocidade na Europa. Thomas Coex/AFP/Getty Images

França é a recordista mundial de velocidade em comboios convencionais, com uns incríveis 574,8 km/h marcados a 3 de abril de 2007. A 150 metros por segundo, é quase o dobro da velocidade máxima registada do serviço do Train a Grand Vitesse (TGV), reconhecido mundialmente como pioneiro na tecnologia de alta velocidade.

A primeira rede de comboios de alta velocidade da Europa conitnua a ser a mais conhecida e bem-sucedida, com um alcance muito para lá das fronteiras francesas. A indústria ferroviária francesa tem vindo progressivamente a elevar a fasquia dos feitos conquistados com os comboios convencionais desde a 2.ª Guerra Mundial, quebrando recordes em 1955 (331 km/h), 1981 (380 km/h) e 1990 (515,3 km/h).

Atualmente, as linhas de alta velocidade espalham-se de Paris a Lyon, Marselha, Bordéus, Nantes, Estrasburgo, Lille, Bruxelas e Londres, com comboios a atingirem os 320 km/h em algumas das rotas. Ao longo dos últimos 40 anos, os comboios evoluíram através de várias gerações e a rede ferroviária expandiu-se.

Os emblemáticos TGVs laranja dos anos 80 deram lugar a comboios “Duplex” de alta capacidade mais avançados, capazes de chegar aos países vizinhos da Alemanha, Suíça e Espanha.

A linha de alta velocidade também é um grande sucesso de exportação, com a tecnologia TGV a ser vendida a Espanha, Coreia do Sul, Taiwan, Marrocos, Itália e EUA, nos últimos 30 anos.

O longo nariz do Shinkansen japonês foi criado para reduzir o ruído sónico nos túneis. Kiyoshi Ota/Bloomberg/Getty Images

5: JR East E5 - 320 km/h (Japão)

O Japão apresentou ao mundo o novo conceito de linhas de alta velocidade em 1964 e continua a ser líder mundial, superando os limites da velocidade, capacidade e segurança nas linhas do Shinkansen.

A maioria dos Shinkansen trabalham atualmente a uma velocidade máxima de 300 km /h, mas os “comboios-bala” E5 da Japan Railways East (JR East) chegam aos 320 km/h no Tohoku Shinkansen, que segue de Tóquio a Shin-Aomori.

Cada comboio tem 731 lugares e 32 motores de indução elétrica, que debitam uns impressionantes 12 900 cavalos. Construídos a partir de uma liga leve de alumínio, os E5 têm “suspensão ativa”, permitindo-lhes negociar as curvas a velocidades superiores.

O extraordinário nariz comprido das carruagens motrizes foi desenhado para reduzir o ruído sónico criado pelos comboios quando entram nos túneis a alta velocidade.

Apresentados em 2011, foram construídos 59 comboios e, desde 2016, também são utilizados a norte de Aomori, no Hokkaido Shinkansen, que está ligado à principal ilha japonesa de Honshu pelo túnel subaquático Seikan, de 54 quilómetros, sob o Estreito de Tsugaru.

6: 'Al-Boraq' 320 km/h (Marrocos)

O marroquino Al Boraq é o comboio mais veloz de África. Duffour/Andia/Universal Images Group Editorial/Getty Images

A primeira e, até agora única, linha de alta velocidade de África abriu em novembro de 2018, ligando a cidade costeira de Tânger a Casablanca, em Marrocos.

Chamado de 'Al-Boraq' em homenagem a uma criatura mítica que transportou os profetas islâmicos, o serviço é a primeira fase da rede de alta velocidade de 1500 quilómetros que o país tem planeado construir.

Comboios elétricos derivados do TGV Euroduplex de construção francesa operam numa nova linha entre Tânger e Kenitra a velocidades até 320 km/h.

O projeto de dois mil milhões de dólares inclui ainda a modernização da secção de 137 quilómetros entre Rabat e Casablanca para maiores velocidades, reduzindo o tempo de viagem de quatro horas e 45 minutos para apenas duas horas e 10 minutos.

Uma vez construída a linha proposta até Casablanca, o tempo de viagem será reduzido para apenas 90 minutos.

Al-Boraq também detém o recorde de velocidade em África, onde durante os testes iniciais em 2017 um dos 12 comboios Alstom chegou aos 357 km/h na nova linha, mais do dobro de qualquer um dos comboios velozes atualmente em funcionamento no continente africano.

7: AVE S-103 - 310 km/h (Espanha)

Espanha investiu fortemente na rede de alta velocidade nos últimos 30 anos. Oriol Paris/Moment Editorial/Flickr Vision/Getty Images

Espanha juntou-se ao clube da alta velocidade em 1992, utilizando a tecnologia do TGV importada de França. Desde então, desenvolveu os seus próprios comboios velozes e construiu a maior rede da Europa dedicada a linhas de longo curso, chegando de Madrid a Sevilha, Málaga, Valência, Galiza e Barcelona.

AVE, diminutivo de Alta Velocidad Espana (Alta Velocidade Espanhola), mas também uma referência a “pássaro”, costuma trabalhar a uma velocidade comercial máxima de 310 km/h. As joias da frota são os comboios Talgo S-102 e o “Velaro”, sendo este último uma versão mais potente que o ICE3 alemão.

Certificado para uma velocidade máxima de 350 km/h e 404 lugares sentados, os S-103 faz serviço entre as duas maiores cidades espanholas com os comboios velozes nativos Talgo S-102.

Em julho de 2006, um S-103 bateu o recorde de velocidade espanhol em linhas férreas com 404 km/h, um recorde mundial na altura para um comboio comercial de passageiros de origem.

Durante décadas, a rede ferroviária espanhola foi conhecida pelas baixas velocidades e longos atrasos, mas nos últimos 30 anos a AVE transformou as viagens de longo curso pelo país, uma revolução que parece prosseguir com a expansão da rede para chegar a todos os cantos do país.

8: KTX - 305 km/h (Coreia do Sul)

 

Os comboios sul-coreanos KTX reduziram para metade os tempos de algumas viagens. Ed Jones/AFP/Getty Images

Desde 2004, a Coreia do Sul rapidamente expandiu a sua rede de alta velocidade, contornando as linhas clássicas onde o terreno complicado tornava as viagens lentas e pouco competitivas.

A começar pela rota Seul-Busan em 2004, os comboios KTX podem atingir os 330 km/h, ainda que o limite normal seja de 305 km/h. Os comboios KTX-I de primeira geração, baseados na tecnologia francesa do TGV, reduziram os tempos de viagem entre Seul e Busan de mais de quatro horas para apenas duas horas e 15 minutos.

A Coreia do Sul é um de quatro países no mundo a desenvolver um comboio capaz de atingir mais de 420 km/h, para além de França, Japão e China. O protótipo HEMU-430X de nova geração chegou aos 421,4 km/h em 2013, superando o anterior recorde coreano de 352,4 km/h conseguido pelo comboio KTX-HSR-350x de segunda geração.

Os mais recentes comboios utilizam tecnologia nativa e apresentam cabines pressurizadas e vidros triplos para reduzir o ruído e eliminar o desconforto nos seus muitos túneis.

Com cerca de duas partidas por hora nas principais rotas e com comboios que podem chegar às 20 carruagens, o KTX é um sistema de transporte de alta velocidade em massa, que transporta milhões de passageiros por ano. Os comboios KTX também fazem a ligação de Seul para sul, até Gwangiu, Mokpo e Yeosu, e para nordeste, até Gangneung, linha esta construída para servir os Jogos Olímpicos de Inverno na cidade anfitriã de Pyeongchang, em 2018.

9: Trenitalia ETR1000 - 300 km/h (Itália)

 

A Seta Vermelha italiana ou Frecciarossa pode atingir os 400 km/h. Alessandro Rota/Getty Images

O deslumbrante comboio de alta velocidade italiano Frecciarossa (Seta Vermelha) foi apresentado em 2017 como resposta a um novo rival privado.

Concebido para atingir uma velocidade máxima de 400 km/h, vive à altura do nome com um design aerodinâmico em forma de seta,10 mil cavalos de potência e um desempenho eletrizante.

Apesar de estar autorizado a circular a uma velocidade máxima de 360 km/h em serviços de passageiros, um comboio atingiu os 394 km/h em testes em 2016.

Os comboios de 200 metros de comprimento têm 457 lugares distribuídos por quatro classes, que vão da confortável económica à empresarial, premium e executiva, constando a última de apenas 10 poltronas reclináveis e serviço personalizado.

Os serviços do Frecciarossa funcionam em toda a rede italiana de alta velocidade em forma de T, com ligações de Turim, Milão e Veneza a norte, a Bolonha, Florença, Roma e Nápoles.

As normas comerciais pedem apenas uma velocidade de 300 km/h, mas é suficiente para revolucionar a viagem intercidades em Itália, aumentando consideravelmente a quota de rotas cruciais como Milão-Roma e contribuindo para a recente queda da companhia aérea nacional Alitalia.

Depois de extensos testes nos últimos dois anos, a Italian State Railways entrará em competição com o TGV francês na rota Milão-Paris em 2022, com os comboios italianos a serem uma alternativa robusta aos velhinhos TGVs.

Será entregue uma outra fornada de Setas Vermelhas em Espanha, onde competirão com os serviços nativos da AVE e Ouigo Espana nas rotas de alta velocidade que saem de Madrid.

10: Haramain High Speed Railway - 300 km/h (Arábia Saudita)

Os comboios sauditas  Haramain foram adaptados para sobreviver ao calor do deserto. Bandar Aldandani/AFP/Getty Images

Calor abrasador e tempestades de areia não parecem ser o ambiente ideal para sofisticados comboios elétricos de alta velocidade, mas a Haramain High-Speed Railway (HHR) da Arábia Saudita faz a ligação entre as cidades santas de Meca e Medina a velocidades que podem chegar aos 300 km/h.

Utilizando 35 comboios espanhóis Talgo especialmente adaptados para serviços no deserto com temperaturas até 50 graus Celsius, a viagem de 450 quilómetros leva apenas duas horas.

Cada comboio tem 13 carruagens com 417 lugares em classe económica ou executiva, e a HHR tem capacidade para transportar 60 milhões de passageiros por ano. Essa capacidade de transporte é levada ao extremo aquando do Hajj, a peregrinação anual de mais de dois milhões de muçulmanos à terra santa de Meca. Desde o lançamento da HHR em 2018, esse é um meio de transporte popular entre Medina e Meca, o que não admira quando a viagem equivalente de carro pode levar até 10 horas.

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