Aldeia Global

8 jun 2000, 16:26

Entrevista a Jorge Valdano

«A «McDonaldização» da cultura e do futebol é um risco claríssimo a que estamos expostos. Por isso é tão importante defender as personagens-referência, que fazem a diferença e permitam que algumas coisas não morram.» 

- De que forma os novos fenómenos de comunicação, como a Internet, podem condicionar o futuro do futebol? 

- Tudo o que deixa a sua marca no mundo deixa-a também no futebol. Quando eu era pequeno, só tinha a possibilidade de imitar os jogadores da minha terra. Agora, os jovens de Las Parejas têm acesso a todos os jogadores do Mundo. 

- O que nos leva outra vez ao problema da diluição dos estilos... 

- Sim, oitenta por cento da informação circula num só sentido: dos países ricos para os pobres. Isso aplica-se também ao futebol. Como este é um fenómeno assente nas classes populares, o estilo futebolístico continua a ter mais que ver com os ritmos próprios de cada povo, o clima, os estilos musicais. Em resumo, tem a ver com um sentimento profundo que não é fácil modificar. Mas é verdade que a «mcdonaldização» da cultura e do futebol é um risco claríssimo a que estamos expostos. Por isso é tão importante defender as personagens-referência, que fazem a diferença e permitam que algumas coisas não morram. 

- Não lhe parece mais fácil defender esses princípios fora do meio, como você está actualmente? 

- É sempre possível defender princípios. Fizeram-me muitas vezes essa pergunta, quando aceitei treinar o Tenerife. E também aí foi possível construir algo de muito agradável. O que Camacho está a fazer na selecção espanhola é outro bom exemplo disso mesmo. De qualquer forma, no futebol todos temos razão e todos a perdemos, conforme os factos. 

- Está disponível para continuar essa luta no lado de dentro? 

- Não o fiz por estar envolvido em outro tipo de projectos, que considero muito estimulantes. Sempre fui muito curioso em relação ao que me rodeia, e num dado momento tive medo de esgotar a minha vida em redor do futebol. Por isso quis explorar outros mundos. Mas não descarto um regresso, como treinador ou em outra abordagem. De toda a forma, continuo muito próximo deste meio.

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