Ucrânia suspeita de armadilha após Rússia ter anunciado retirada de tropas em Kherson

9 nov 2022, 17:02
Ucranianos protestam contra a presença russa em Kherson (Olexandr Chornyi/AP)

A confirmar-se, está será uma das maiores derrotas russas desde o início do conflito

O ministro das Defesa russo, Serguei Shoigu, ordenou esta quarta-feira a retirada das tropas russas da margem ocidental do rio Dniepre, abandonando a cidade ucraniana de Kherson, uma das maiores conquistas russas desde o início da invasão, a 24 de fevereiro.

Num vídeo publicado e partilhado nos meios de comunicação russos, Shoigu alega que a "vida e a saúde" dos soldados russos "tem prioridade" e como tal, a decisão foi tomada para permitir a "segura transferência de equipamento militar" para a outra margem do rio Dnipro. 

A tarefa vai ficar a cargo do comandante das Forças Armadas da Rússia na Ucrânia, Sergey Surovikin, que, segunda a imprensa russa, terá reportado ao ministro da Defesa as dificuldades sentidas pelas tropas russas na área. Segundo o líder militar russo, a defesa será feita do outro lado da margem do rio.

O lado ucraniano já reagiu e não garante que não se deixa iludir com a alegada retirada, não deixando de parte a hipótese de se tratar de uma armadilha. O conselheiro presidencial ucraniano, Mykhailo Podolyak, afirmou à agência Reuters que só se pode falar da retirada russa, quando a bandeira ucraniana voltar a estar presente em Kherson. "Até que a bandeira ucraniana esteja a içada em Kherson, não faz sentido falar em retirada russa", disse. 

Numa publicação nas redes sociais, Podolyak sublinha que "as ações falam mais alto que as palavras" e que, para já, a Ucrânia não vê sinais de que a Rússia esteja pronta para abandonar Kherson sem dar luta.

Mas a confirmar-se, está será uma das maiores derrotas russas, que terão de abdicar de uma das mais valiosas cidades capturadas desde o início da guerra. Horas antes do anúncio, surgiram vários relatos da frente de batalha que davam conta da destruição de várias pontes nesta província para atrasar o avanço das tropas ucranianas. 

Diversos repórteres militares russos relataram que várias partes da região norte de Kherson teriam recebido ordem de retirada “após ataques massivos do inimigo” ucraniano, perto da localidade de Snihyrurivka. Um dos mais conhecidos canais de Telegram russos, o RVVoenkor confirmou mesmo que as tropas ucranianas conquistaram a vila e partilharam uma imagem de uma bandeira ucraniana colocada por soldados ucranianos na estação de comboio de Snihyrurivka.

O próprio presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, revelou durante o dia que "intensos combates" estavam a ser travados em diversos pontos da frente de batalha, com as forças ucranianas a conseguir avançar em diversas localidades. 

Este ceticismo foi partilhado pela porta-voz das Forças Armadas da Ucrânia, Natalia Humeniuk, que insistiu que a informação avançada pelo Kremlin tem de ser encarada “de forma crítica”, particularmente quando a fonte “é o exército e as autoridades políticas do país agressor”.

Em declarações à CNN Portugal, o major-general Isidro de Morais Pereira acredita que as forças ucranianas não vão fazer o "assalto final" a Kherson neste momento, enquanto não for clara a situação no terreno, uma vez que há suspeitas de que tropas russas estejam na região disfarçadas de civis.

Segundo a agência russa TASS, mais de 115 mil civis foram retirados de Kherson para o lado controlado por tropas russas.

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