Ucrânia pede missão da ONU em Chernobyl - o que se passa na antiga central nuclear? 

28 mar 2022, 03:41
Tropas russas saídas da Bielorrússia conquistaram a zona da central nuclear de Chernobyl  (AP Photo/Efrem Lukatsky)

Os fogos continuam nas florestas em redor da central nuclear, as manobras militares russas na região de interdição não param, e haverá cada vez mais armamento concentrado na cidade mais próxima do reator que provocou o desastre de 1986. O governo da Ucrânia avisa que Chernobyl pode voltar a por a Europa em perigo. E apela à intervenção das Nações Unidas

 

As florestas à volta da malograda central nuclear têm sido alvo de violentos incêndios, as forças russas continuam a militarizar a região - que oficialmente continua a ser uma zona de interdição - e são cada vez maiores os receios de um novo acidente em Chernobyl, que possa voltar a por em risco a Ucrânia e a Europa.

Este domingo, ao fim do dia, a vice-primeiro-ministra ucraniana, que tem o pelouro dos territórios interditados de Chernobyl, chamou a atenção para o perigo que se está a acumular naquela região, e fez um pedido à ONU para que envie uma missão internacional ao local, para avaliar os riscos.

Numa publicação na sua conta na rede social Telegram, Iryna Vereshchuk acusou as forças invasoras de continuarem a militarizar a zona de exclusão de Chernobyl. A ocupação “irresponsável” da central, famosa pelo maior incidente nuclear da história, aumenta o risco de fuga de radiação, que poderá atingir toda a Europa, alertou Vereshchuk.

Não havendo informações seguras sobre o que se está a passar no local, que está sob controlo dos russos desde o primeiro dia de guerra, a governante ucraniana apelou às Nações Unidas para que enviem uma missão de peritos capaz de avaliar os riscos.

 

Estruturas de isolamento em risco?

 

Segundo a vice-primeira-ministra ucraniana, são vários os perigos que a central de Chernobyl enfrenta. Por um lado, os grandes incêndios nas florestas que rodeiam as instalações. Por outro, o transporte e armazenamento de grandes quantidades de armamento, que por alguma razão os russos estarão a concentrar na região.

Tanto os fogos como as movimentações de rockets e outras munições poderão provocar danos nas estruturas de isolamento da central que foram construídas após a explosão de 1986. Esses danos, a ocorrerem, poderão permitir a libertação na atmosfera de poeiras radioativas, que “contaminarão não só a Ucrânia, mas também outros países europeus", alertou a ministra ucraniana.

Segundo Vereshchuk, as forças russas "ignoraram estas ameaças, continuando a transportar e a armazenar uma quantidade significativa de munições nas imediações da central nuclear" e na cidade mais próxima da central desativada. “Os ocupantes russos transportam todos os dias dezenas de toneladas de foguetes, cartuchos e munições de morteiro. Centenas de toneladas de munições estão a ser armazenadas na cidade vizinha de Pripyat Chernobyl, que fica também a uma curta distância da central nuclear".

O facto de os russos poderem utilizar "munições antigas e de qualidade inferior", avisa a governante, "aumenta o risco da sua detonação mesmo durante o carregamento e o transporte".

 

Fogos florestais ameaçam zona de exclusão

 

Segundo as autoridades da Ucrânia, cerca de dez mil hectares de floresta na zona de exclusão estarão a arder. "É impossível controlar e extinguir completamente os incêndios devido à captura da zona de exclusão pelas forças de ocupação russas", escreveu a vice-primeira-ministra.

“Como resultado da combustão, os radionuclídeos são libertados na atmosfera, que o vento pode transportar a longas distâncias, o que ameaça a radiação não só na Ucrânia mas também em outros países europeus. A perda de controlo sobre a zona de exclusão e a incapacidade de extinguir totalmente o fogo pode ameaçar as instalações de radiação na zona".

O aviso é claro: “No contexto da segurança nuclear, as ações irresponsáveis e não profissionais dos militares russos representam uma ameaça muito séria não só para a Ucrânia, mas também para centenas de milhões de europeus".

Daí o pedido de intervenção lançado pela nº2 do governo ucraniano ao Conselho de Segurança das Nações Unidas: "tomar medidas imediatas para desmilitarizar a Zona de Exclusão de Chernobyl e estabelecer uma missão especial da ONU" para verificar a situação no terreno e impedir que se repita um acidente nuclear em Chernobyl.

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