Pinto da Costa em 2020: "O meu filho não faz dinheiro com o FC Porto"

22 nov 2021, 16:32

Presidente dos dragões garantiu, no ano passado, que ligação do seu filho ao FC Porto era apenas a de associado. Autoridades de investigação suspeitam que há muito mais do que isso

O ano era 2020. Jorge Nuno Pinto da Costa garantiu, em entrevista à TVI (órgão do mesmo grupo da CNN Portugal), que a ligação do filho Alexandre ao FC Porto era única e exclusivamente a de associado.

Esta segunda-feira, cerca de um ano depois, o Ministério Público e a Autoridade Tributária realizaram uma operação que tinha como alvo Alexandre Pinto da Costa por alegados crimes de burla qualificada, fraude fiscal, abuso de confiança, falsificação e branqueamento de capitais.

O filho de Pinto da Costa é suspeito do recebimento de "luvas" milionárias, e não declaradas ao Fisco, no mundo do futebol. Em causa estão transferências de jogadores do FC Porto, clube e Sociedade Anónima Desportiva presididos por Jorge Nuno Pinto da Costa, pai de Alexandre. Além de transferências, estão também em causa suspeitas em torno de 2,5 milhões de comissões alegadamente recebidas num negócio de 500 milhões de euros relacionado com a venda dos direitos de transmissão televisivos do clube azul e branco à então Portugal Telecom, atual Altice.

Mas recuemos um ano: quando questionado sobre qual a ligação do filho ao FC Porto, o atual presidente afirmou que Alexandre Pinto da Costa foi dirigente do clube "há muitos anos", mas pediu a demissão "porque no Porto há um princípio que quem tiver no ativo não pode estar na política".

O meu filho é exemplo do que já tinha acontecido com o Eng. Armando Pimentel. Aceitou um convite para fazer parte de uma lista e foi eleito como vereador da Câmara Municipal do Porto. E, ao ser eleito, demitiu-se do FC Porto. Não iria ter privilégios pelo facto de ser meu filho", disse Pinto da Costa, reiterando: "Hoje não tem nenhuma ligação ao FC Porto a não ser a de associado, que é sócio há 52 anos, desde o dia que nasceu. Na sua atividade é empresário de futebol".

Ora, inquirido especificamente se não tinha negócios com o clube, o Pinto da Costa, o pai, foi perentório: "Não, não. Não faz porque nem sequer pode fazer. Faz negócios com muitos clubes. Connosco não faz negócios. Nem hipoteticamente". 

O que se sabe sobre os negócios 

No centro das suspeitas está um triângulo entre Alexandre e os empresários Bruno Macedo e Pedro Pinho, com quem aquele mantém relações de sociedade e que são considerados, pela investigação, seus testas de ferro para que possa através deles, alegadamente, receber comissões de negócios ligados ao FC Porto. 

Do lado da operadora de telecomunicações, altos responsáveis estão também no centro da investigação – por suspeitas de que foram abusivamente distribuídas luvas no negócio fechado em 2016 com a então PT e em que o FC Porto vendia os direitos televisivos até 2027. 

O negócio de 500 milhões foi intermediado pela BM Consulting, de Bruno Macedo, e gerou comissões na ordem dos 20 milhões de euros. Daí, acredita a investigação, saíram 2,5 milhões para Alexandre Pinto da Costa, filho do presidente do FC Porto, através de Pedro Pinho, ligado a Bruno Macedo. Pinho, recorde-se, é o empresário que na última semana foi acusado pelo Ministério Público de ter agredido um repórter de imagem da TVI a seguir a um jogo do FC Porto. Nessa altura, o clube disse que nada tinha a ver com o dito empresário.

Quanto a Bruno Macedo, recorde-se, já tinha sido detido no último verão por ligações a Luís Filipe Vieira, sob suspeita de também ser testa de ferro do então presidente do Benfica para lhe guardar dinheiro do recebimento indevido de comissões de transferências de jogadores.  

No negócio do FC Porto com a então PT, aquele montante terá sido pago com um objetivo, segundo o procurador Rosário Teixeira, que lidera a investigação. Para que Alexandre Pinto da Costa facilitasse o negócio com a operadora, que era presidida por Paulo Neves. A transferência de 2,5 milhões foi feita após o negócio de intermediação, conforme noticiou recentemente a revista Sábado. Este caso levou a que várias pessoas tivessem estado sob escuta durante meses – inclusive o próprio Pinto da Costa, presidente do FC Porto. O sigilo bancário dos  vários intervenientes sob suspeita também foi levantado.

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