Exclusivo. À conversa com Ben Affleck no “The Tender Bar”: “Nem todos os filmes são experiências maravilhosas com boas pessoas”

17 jan 2022, 23:38

É um reencontro com um amigo de longa data. Dez anos depois de terem conquistado o Óscar de melhor filme como produtores de “Argo”, Ben Affleck volta a trabalhar com George Clooney e está a aproveitar o lançamento para refletir sobre a carreira. À CNN Portugal, diz que fazer Cinema “pode criar uma ligação realmente intensa”, mas só se as pessoas forem “generosas e carinhosas”. O que nem sempre aconteceu nos 25 anos que já leva a trabalhar em Hollywood.

“The Tender Bar” convida-nos a visitar a América suburbana dos anos 80 para conhecer um jovem escritor interpretado por Tye Sheridan (e por Daniel Ranieri enquanto criança) que nunca teria chegado onde chegou se não fosse a influência de um tio que gostava tanto de literatura que até tinha um bar forrado de livros em Long Island. É na pele desse tio que Ben Affleck está de volta à liga das nomeações para os prémios do ano como melhor ator secundário: a primeira foi para o Globo de Ouro, a segunda para o prémio do Screen Actors Guild e é provável que haja mais entretanto. O mundo do entretenimento está a aplaudir mais uma vez um cineasta multifacetado que não se pode queixar de falta de oportunidades, embora nem todas tenham sido positivas. A pior de todas foi a rodagem de “A Liga da Justiça” às ordens de Joss Whedon em 2017 - foi uma “experiência horrível”, como revelou ao Los Angeles Times. 2021 trouxe uma nova versão desse encontro dos super-heróis da DC Comics, mas assinada por Zack Snyder, o realizador original, e trouxe ainda o reencontro com Matt Damon no argumento e no elenco de “O Último Duelo”. O épico medieval realizado por Ridley Scott correu mal nas bilheteiras mas sinaliza a nova prioridade de Ben Affleck, que é só fazer aquilo de que realmente gosta e lhe dá prazer. Mesmo que seja um papel secundário numa pequena produção como “The Tender Bar” que teve estreia mundial no Festival de Londres mas que é cinema para ver em streaming.  

George Clooney diz que gostou muito de o ver agarrar um papel realmente bom, até porque isso não acontece muitas vezes. Como foi trabalhar novamente com ele no papel do tio Charlie?
Ben Affleck: Penso que ele tem toda a razão. Isto é uma arte feita da colaboração. Dependemos dos outros atores. A escrita é muito importantem o William Monahan adaptou um livro realmente maravilhoso e o George também trabalhou no argumento. Por isso, ter um papel tão interessante como este é realmente satisfatório, permite-nos fazer mais como atores. Se nos pedem para interpretar um pedaço de cartão, não há realmente muito para fazer… Isso, claro, é muito menos interessante do que interpretar um ser humano realmente matizado. Os atores estão, de facto, à mercê, de certa maneira, não só do argumento mas também do realizador. Tivemos muita sorte em ambos os aspetos e com as outras pessoas do elenco. Muita sorte. O Daniel (Ranieri), o George, o argumento…. Fabuloso!

Daniel, parabéns pelo teu primeiro filme. Do que gostaste mais nesta experiência?
Daniel Ranieri: Adorei passar tempo com o Ben, o George, o Tye (Sheridan)… Eles foram tão simpáticos comigo. Adorei esta experiência com eles. Filmar com eles foi estupendo.

Ben Affleck: Dependemos realmente das pessoas com quem trabalhamos. Tivemos sorte.

Gostavas de continuar a representar daqui em diante?
Daniel Ranieri: Sim, adorava continuar a representar!

De uma forma muito apelativa, “The Tender Bar” mostra o quanto se pode conseguir com tão pouco. É essa mensagem para as pessoas?
Ben Affleck: Esse é um axioma que considero verdadeiro de várias formas e nas artes performativas. Há um certo paradoxo… Como intérpretes, como realizadores ou como argumentistas, quanto mais tentamos dizer às pessoas para sentirem algo de determinada maneira, quanto mais lhes dizemos o que devem sentir e quanto mais óbvio isso for, menos ressonante e interessante se torna tudo para elas. As pessoas ficam com a ideia de terem um vendedor à porta a tentar vender-lhes algo. Realizadores como o George compreendem que se tudo for matizado, contido e realista, tal como a vida real, o público vai ficar curioso e mais interessado. Por isso sim, penso que é verdade…

Qual é a melhor memória que guardam da rodagem deste filme?
Daniel Ranieri: Para mim, é a cena final em que todos acabámos a chorar, sem saber como dizer adeus uns aos outros…. Claro que sabíamos que íamos ver-nos outra vez, mas era a cena final…

Ben Affleck: O Daniel teve muita sorte com o primeiro filme dele, porque nem todos são assim, como te disse…

Daniel Ranieri: Sim, ouvi isso…

Ben Affleck: Vais perceber isso. Nem todos os filmes são experiências maravilhosas com boas pessoas, mas quando são e sentimos que estamos a criar algo importante para nós… E quando as outras pessoas são magníficas, bondosas, generosas e carinhosas, pode ser muito intenso. Podemos criar uma ligação realmente intensa. É o que nós queremos de todas estas experiências. Tivemos muita sorte. Foi adorável. Adoro este filme, estou tão orgulhoso dele…. Adoro o que tive oportunidade de fazer, mas o mais importante para mim, na minha vida, será a memória duradoura de ter trabalhado com o Daniel, o George, a Lily (Rabe) e as outras pessoas.

“The Tender Bar” está disponível na Amazon Prime Video

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