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O Psicólogo Responde: É possível prevenir a demência?

29 jan 2022, 10:00

Atualmente, ainda não existe uma forma eficaz de prevenir uma demência e não foi descoberta uma cura para esta doença, mas sabe-se que a opção por um estilo de vida saudável desde que nascemos ou a alteração dos nossos hábitos na idade adulta nos poderá proporcionar um cérebro saudável com o avançar da idade, reduzindo o risco de vir a desenvolver demência.

Existem muitos fatores que contribuem para o curso do envelhecimento, como os fatores genéticos, demográficos, de saúde e do estilo de vida, que interagem quer para proteger, quer para aumentar a suscetibilidade para o declínio cognitivo nas pessoas em idade avançada. A implementação de programas de prevenção comunitária de deterioração cognitiva deve ser uma realidade e devem incluir a promoção da participação em atividades de lazer na idade adulta. As pessoas mais velhas têm que ser desafiadas a participar na sociedade de forma ativa, não parando após a reforma, mantendo os seus interesses, tendo acesso às novas tecnologias, estando integradas em estruturas da comunidade e podendo participar em ações de voluntariado, assim como devem poder partilhar as suas ideias e opiniões.

O controlo de fatores de risco para o desenvolvimento de demência tem que acontecer durante toda a vida. Devem ser seguidas as recomendações (World Health Organization, 2019) que apontam para a necessidade de serem implementadas intervenções de atividade física, da cessação do uso de tabaco, de intervenções nutricionais, de controlo de doenças orgânicas, como o controlo da hipertensão, diabetes, colesterol e o tratamento da depressão. Devem ser implementadas medidas de atividade social que reduzam o isolamento, não esquecendo o uso das intervenções cognitivas. Num envelhecimento saudável é necessário serem valorizados os aspetos psicológicos, como a necessidade da gestão de stress e a implementação de medidas que têm em vista o bem-estar e a qualidade de vida.

A sociedade deve estar organizada de modo a proporcionar oportunidades de “crescimento” às pessoas em todas as idades, investindo na escolaridade ou possibilitando aos mais velhos aprenderem coisas novas, como uma nova língua, uma atividade artística ou a aquisição de uma nova competência. Deve ser potenciada a manutenção de uma vida ativa com estimulação cognitiva, pois existe uma plasticidade cerebral em todas as idades, sendo possível nas idades mais avançadas melhorar o funcionamento cognitivo, principalmente nas pessoas com alterações associadas ao envelhecimento normal. No envelhecimento, o cérebro recruta áreas cerebrais adicionais para gerar a mesma quantidade de recursos do que os adultos mais jovens.

Para manter um cérebro ativo pode-se do ponto de vista prático: (a) fazer jogos de raciocínio, como palavras cruzadas, puzzles de letras e números, jogar xadrez, damas ou cartas, ler, escrever, conversar, cozinhar novos pratos ou fazer jardinagem; (b) ter uma alimentação saudável, diversificada e adequada à sua dentição e condição de saúde, com o uso de pouco sal, açúcar, fazendo uma dieta com legumes e fruta e optando por uma boa hidratação; c) praticar exercício físico, andando, dançando, correndo, andando de bicicleta ou passeando no jardim; d) participar em atividade sociais, mantendo o contacto com a família e amigos, participando em clubes sociais, culturais ou outros grupos, saindo e conversando com os seus vizinhos e amigos; e) ter o sono regularizado.

Algumas pessoas podem ter uma “reserva cognitiva”, que lhes possibilite ter a capacidade para enfrentar e resolver desafios da sua vida quotidiana e que lhes permita que o seu cérebro tolere uma lesão cerebral até um determinado limiar em que ainda não há a evidência de sintomas de doença neurodegenerativa. Tal depende de fatores genéticos, escolaridade, participação em atividade de lazer, ocupação profissional, estilo de vida, atividades de socialização e nível socioeconómico que contribuem para explicar, para além das diferenças individuais, a capacidade cerebral em resistir a processos de demência diante de uma patologia cerebral estabelecida.

E se não for possível evitar o aparecimento de uma demência? O que é, afinal, uma demência?

Uma demência é uma doença cerebral adquirida, progressiva que provoca um declínio cognitivo global, perda de autonomia e funcionalidade. Todos os tipos de demência resultam da disfunção e da lenta e progressiva morte de células cerebrais. A maioria dos casos diagnosticados como demência ocorre acima dos 65 anos, mas existem casos em pessoas mais jovens. Importa compreender que a demência NÃO faz parte do processo natural do envelhecimento. Embora ainda não tenha cura, cuidados adequados podem fazer a diferença.

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