Hector Cúper - o homem das três finais seguidas

22 mai 2001, 17:41

Liga dos Campeões (final) Quatro anos bastaram para tranformar o estatuto do treinador do Valência: de ilustre desconhecido passou a ser um dos mais conceituados técnicos da actualidade.

Poucos o conheciam quando chegou a Espanha em 1997 para treinar o Maiorca - uma equipa que tinha subido à Primeira Liga na época anterior e cujas aspirações não iam muito além da permanência - mas hoje Héctor Cúper é um dos treinadores com maior prestígio do futebol europeu. 

O técnico argentino - que como jogador só tinha conseguido jogar em equipas do meio da tabela do campeonato do seu país e como treinador tinha apenas o aval de duas boas épocas no Lanús ¿ vai viver no banco do Valência a sua terceira final europeia consecutiva na esperança de esquecer a derrota nas duas anteriores. Entretanto, algumas das melhores equipas do continente lutam por contratá-lo. 

Héctor Cúper nasceu para o futebol europeu em Maiorca no fim do verão de 1997. A equipa voltava à Primeira Liga depois de cinco anos consecutivos a tentar alcançar a subida. O proprietário do clube, Antonio Asensio, contratou muitos jogadores, a maioria deles reservas de outras equipas, especialmente do Valência. Em princípio, o Maiorca podia aspirar a alcançar uma posição tranquila, a meio da tabela, mas surprendeu toda a gente e acabou por lutar até final pelos primeiros lugares. 

Com aquela equipa, Cúper começou a criar a sua lenda no futebol espanhol. Um jogo baseado numa defesa forte, às vezes até um bocado simples e sem brilho, mas com a máxima eficiência possível para uma equipa que começou a época como uma das pequenas do campeonato. A maioria desses defesas, que tinham saído sem prestígio dos seus clubes anteriores, acabaram por ser contratados por outras equipas e muitos deles até acabaram por jogar na selecção espanhola como Marcelino (Newcastle), Romero (Corunha) ou Iván Campo (Real Madrid). 

Nas duas épocas em que esteve no Maiorca, e mais tarde no Valência, sempre houve um argentino a prolongar o seu trabalho sobre o relvado. Na equipa da ilha, o guarda-redes Roa foi quem melhor soube transmitir o carácter do técnico. Um guarda-redes sóbrio, calmo, sempre concentrado na partida, à imagem do comportamento de Cúper no banco.  

A primeira final de Cúper em Espanha aconteceu naquela primeira época no Maiorca. A equipa conseguiu alcançar a final da Taça do Rei, marcou primeiro, viu o Barcelona empatar e aguentou todo o tempo suplementar com apenas nove jogadores. No desempate por grandes penalidades, o Maiorca teve duas oportunidades de conseguir o título, mas falhou em ambas... e a Taça fugiu para Barcelona. 

Era difícil melhorar na época seguinte, mas Cúper conseguiu-o. Os grandes de Espanha arrasaram o clube à procura dos jogadores que o argentino tinha relançado e teve de fabricar uma nova equipa... ainda melhor. A época foi tão boa que a equipa liderou a Liga durante boa parte da primeira volta e acabou na terceira posição, garantindo o apuramento para a Liga dos Campeões. 

Foi um ano de estreias para Cúper. Conseguiu o primeiro título nacional, a Supertaça de Espanha, vencendo o Barcelona no Camp Nou, e jogou também pela primeira vez uma competição europeia. A Taça das Taças foi a oportunidade ansiada por Cúper para se tornar conhecido em toda Europa. Mas o desfecho foi mais uma final perdida: em Birmingham, contra a Lazio, por 1-2, com um golo do checo Nedved a decidir tudo nos últimos minutos. 

Valência: assobios e sucesso 

O treinador argentino deixou o Maiorca no fim da época e foi para o Valência, de onde tinha saído, para o Atlético de Madrid, o italiano Ranieri. O começo daquela época não foi bom para o técnico argentino. O Valência perdeu os quatro primeiros jogos do campeonato e começaram os rumores sobre a saída iminente de Cúper. Na sexta partida, o Valência venceu o Real Madrid no Santiago Bernabéu e tudo acalmou até a meio do campeonato, quando o público voltou a pedir com força a sua saida. 

Embora Cúper tenha obtido grandes resultados no Valência, o público não lhe soube perdoar os períodos de irregularidade da equipa. Durante as duas últimas épocas, o treinador tem sido assobiado pelos adeptos, nunca conseguindo ser tão querido como Ranieri, possívelmente pelo seu carácter muito fechado. 

Mas foi Cúper quem converteu um bom conjunto de futebol numa equipa que podia lutar pelos títulos. Contou, como no Maiorca, com uma defesa forte, com jogadores de qualidade e experiência. Mas teve também um meio-campo de muito maior qualidade e muito mais ofensivo. Com ele, Mendieta começou a demostrar que é um dos melhores jogadores de Espanha. E a seu lado Gerard, Angulo, Farinós ou Kily González completavam um dos melhores meios-campos de Europa. No ataque, Claudio López - um jogador rápido para aproveitar os contra-ataques ¿ era a referência ideal. 

No campeonato a equipa acabou no terceiro lugar. Antes já tinha ganho a Supertaça, a segunda consecutiva de Cúper, também frente ao Barcelona. Mas o melhor chegou na Europa. Na Liga dos Campeões eliminou equipas como o PSV Eindhoven, Fiorentina, Lazio e, nas meias-finais, goleou o Barcelona. Mas desta vez foi o Real Madrid quem se cruzou com Cúper na sua segunda final europeia. E o desfecho foi nova derrota, (0-3) em Paris... 

Na época em curso, a equipa começou forte e ocupou a liderança durante metade da primeira volta, mas voltou a cair de produção durante o melhor período do Real Madrid. Os assobios voltaram ao Mestalla, mas os períodos de irregularidade da equipa não se podem explicar pelo treinador. Cúper mantém o estilo. A defesa é quase idêntica à do ano passado. No meio-campo, Zahovic e Deschamps não conseguem igualar o bom trabalho e os golos de Gerard e nem sequer são titulares. Além disso, Mendieta não é o mesmo jogador da época passada. E, na frente, o norueguês Carew é um jogador de características muito diferentes das do Piojo López - com mais força mas menos velocidade. 

Em Janeiro Cúper recebeu uma prenda de Natal. O médio argentino Aimar chegou para tentar completar o que a equipa perdeu nesta época. Ainda assim, a época volta a ser espectacular para uma equipa que tinha perdido o costume de ganhar qualquer coisa. Com um prémio máximo: mais uma final da Liga dos Campeões. A terceira consecutiva de Cúper. Contra o Bayern, só falta saber se não há duas sem três ou se, pelo contrário, à terceira é que é. 

Pode ser uma boa despedida para o argentino. O presidente, Pedro Cortés, tentou renovar o seu contrato, mas as negociações não deram resultados. Atrás do pano, outros clubes europeus esperam a oportunidade. O Barcelona parece ser o melhor colocado na corrida e pode ajudar a aumentar a lenda de Cúper. Uma lenda que tem o capítulo seguinte daqui a pouco, em Milão.

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