Lutou. Venceu. Amou. Morreu. A protagonista chama-se Maria Callas. É uma biografia de 400 páginas. Tive que a reler duas vezes nestes últimos dias. A história é arrepiante.
Dá-se a coincidência de termos nascido no mesmo dia. Ela no dia 2 de Dezembro de 1923. Eu, no dia 2 de Dezembro de 1960.
Começa assim: “Tive de me valer a mim mesma”. Disse ela um dia.
Foi a maior cantora de ópera do século XX. Nasceu em Nova Iorque depois dos pais terem emigrado da Grécia. Teve uma infância difícil. A mãe tinha perturbações mentais. Os pais acabaram por se separar. Começou a estudar música muito pequena, mas teve que se submeter a muitas provas até que o seu valor fosse reconhecido. Até chegar aos grandes palcos internacionais. Só depois dos 30 é que foi reconhecida.
“Por obséquio, introduza uma nota humana na sua história. É que, por vezes também sou humana”. Disse ela à sua biógrafa. E foi. De uma forma levada ao limite. Tão humana que morreu prematuramente.
Profissionalmente, vingou. Quanto aos homens, foi destroçada. Foi mal amada. Vítima de violência física e psicológica. O principal responsável pela sua desgraça foi Aristóteles Onassis, o armador Grego, à época talvez o homem mais rico do mundo. Conheceram-se em Veneza. Mantiveram uma relação de altos e baixos durante muitos anos. Onassis nunca quis casar com ela. Usou-a. Gostava de dizer: “ Abordo cada mulher como uma potencial amante”.
Depois de anos de sofrimento, mas que para ela tinham sempre uma réstia de esperança, foi trocada. Humilhantemente trocada. Onassis conheceu Jacqueline Kennedy e casou com a viúva de JFK.
Aristóteles Onassis tinha dois filhos: o rapaz morreu num acidente de viação. A filha, Cristina, suicidou-se.
Maria Callas foi encontrada morta no seu apartamento, em Paris.
“De todas as criaturas que sentem e pensam, nós, mulheres, somos as coisas vivas mais maltratadas” (Medeia, Eurípides)