opinião
Economista e Professor Universitário

Kamala Harris ou Donald Trump? O risco de uma terceira guerra mundial é real

23 ago, 15:49

As eleições presidenciais norte-americanas de novembro de 2024 representam uma encruzilhada não só para os Estados Unidos, mas também para o mundo. De um lado, Kamala Harris, atual vice-presidente e representante do Partido Democrata, e do outro, Donald Trump, ex-Presidente pelo Partido Republicano. A escolha entre estas duas personalidades terá implicações profundas, tanto no quadro macroeconómico como na diplomacia internacional, especialmente no contexto da invasão militar da Ucrânia e do conflito no Médio Oriente.

Em termos de política económica, Harris e Trump apresentam abordagens diametralmente opostas. Kamala Harris defende a continuação das políticas de investimento público em infraestruturas e energias renováveis, apostando mais numa transição verde que espera vir a impulsionar a economia e a criar emprego a longo prazo. A política fiscal de Kamala Harris tende a favorecer a classe média, com um foco em programas sociais e na redução das desigualdades.

Por outro lado, Trump pretende dar continuidade à sua política de corte de impostos para empresas e grandes fortunas, argumentando que isso irá estimular o crescimento económico e a criação de emprego.

Trump também promete desregulamentar ainda mais os mercados, em contraste com a postura mais reguladora de Harris.

Mas é no campo da diplomacia que as diferenças entre os dois candidatos são mais pronunciadas. Kamala Harris, em linha com a administração Biden, vê a diplomacia multilateral e o reforço das alianças tradicionais como fundamentais para a segurança global. A atual vice-presidente dos Estados Unidos tem insistido na importância da unidade transatlântica e no fortalecimento da NATO. A sua postura firme em relação à Rússia indica uma continuidade no apoio à Ucrânia, nas dimensões militar e financeira. Harris também defende, como vai referindo, o "direito de Israel se defender", ao mesmo tempo que mantém a pressão sobre regimes como o do Irão.

Donald Trump, por sua vez, é um defensor da diplomacia transacional, em que as alianças são vistas de forma instrumental e muitas vezes subordinadas a interesses económicos imediatos. Trump é, aliás, conhecido pelo seu ceticismo em relação à NATO.  Durante o seu mandato, Trump não escondeu a sua preferência por uma política externa menos intervencionista, tendo manifestado abertura para o diálogo com líderes considerados pelo Ocidente como autoritários, como Vladimir Putin. Esta abordagem, que pode ser vista como pragmática, é adjetivada por alguns como perigosa.

Um dos maiores temores na atual conjuntura internacional é o de uma terceira guerra mundial. Se Kamala Harris representa a continuidade de uma política que se tem mostrado ineficaz na prossecução do fim aos conflitos mundiais, Trump poderia, com a sua postura imprevisível e potencialmente beligerante, criar as condições para fazer perdurar o contexto global de larga escala complexo que se vive. Neste cenário, infelizmente, a escolha parece ser entre a opção má e a menos má.

Com o mundo a caminhar para um descontrolo diplomático cada vez mais pronunciado, as eleições de 2024 parecem apresentar uma escolha entre um quadro mau e um quadro muito mau. A liderança disruptiva de Trump poderia alterar significativamente o rumo dos acontecimentos, levando ou à atenuação dos quadros geopolítico e geoestratégico globais ou a uma deterioração ainda maior das relações internacionais. Em contrapartida, Harris parece ser a opção que representa a continuidade a um quadro de liderança global que não tem sido capaz de pôr cobro a uma das mais importantes e trágicas páginas negras da história da Humanidade.

O risco iminente de uma terceira guerra mundial é real. O futuro da paz global pode muito bem depender da escolha que os norte-americanos fizerem em novembro de 2024.

Comentadores

Mais Comentadores

Patrocinados