opinião
Diretor TVI Norte

Os “melhores amigos” perdidos na guerra

31 mar 2022, 22:52

Lviv tenta regressar à normalidade. Os restaurantes estão abertos, as lojas têm coisas para vender, mas há muito pouco dinheiro no bolso dos ucranianos.

Muitas famílias sobrevivem com a ajuda alimentar que aqui chega, lentamente, mas a economia familiar vai sofrer ainda mais com este conflito.

Tudo é mais caro, mas o dinheiro ao fim do mês é o mesmo, ou deixou mesmo de chegar. Há muitas empresas que fecharam e muitas outras não estão em pleno e o próprio Estado está com sérias dificuldades no equilíbrio da gestão de uma guerra e na resposta às outras solicitações de quem ficou cá.

Este é um povo que gosta de animais de companhia. Em todas as imagens de refugiados temos sempre centenas de cães e gatos que não ficaram nas zonas de combate. Nos parques das cidades há sempre crianças e animais. Mas na hora da fuga, muitas famílias acabaram por ser obrigadas a deixar tudo, mesmo os animais.

Hoje conhecemos uma associação que os está a recolher nas cidades devastadas e procura famílias de acolhimento por toda a Europa. Naquele barracão, com dezenas de gaiolas bem arrumadas, dezenas de voluntários alimentam os bichos que chegam e procuram organizações que os venham buscar. Na tarde, duas carrinhas da Alemanha e mais um grupo que seguiu para a Polónia. Dizem que tem sido sempre assim, com muitas famílias e organizações a virem trazer alimentos a Lviv e a regressarem com animais de companhia.

Muitos dos cães que ali estavam olhavam resignados para nós, sem perceberem rigorosamente nada do que ali estava a acontecer, nem porque estavam agora fechados e a seguir iriam entrar num carro cheio de desconhecidos. Podemos sempre dizer que são animais, mas sabemos todos que são muito mais do que isso. Fizeram parte de dias felizes de um país que agora mergulha nesta tragédia. Também eles estão perdidos, até dos donos que não os queriam certamente deixar para trás.

Opinião

Mais Opinião

Mais Lidas

Patrocinados