Hong Kong: memorial do massacre de Tiananmen removido durante a noite

23 dez 2021, 06:31

Escultura que estava no campus da Universidade de Hong Kong desde 1997 foi removida. Em Hong Kong era o último vestígio público do massacre que Pequim quer apagar da história

A Universidade de Hong Kong (UHK), a mais antiga instituição de ensino superior do território, retirou do seu campus o memorial às vítimas do massacre de Tiananmen, que estava em exposição desde 1997. A obra foi desmontada e retirada durante a noite, de quarta para quinta-feira.

Trata-se de uma escultura de oito metros de altura, da autoria do artista plástico dinamarquês Jens Galschiøt, entitulada “Pilar da Vergonha”, que foi instalada no campus da universidade no mesmo ano em que a soberania de Hong Kong foi devolvida à China.

O governo chinês tudo tem feito para apagar a memória do massacre de 1989, em que um número indeterminado de manifestantes pró-democracia foi assassinado pelas forças governamentais na principal praça de Pequim. Desde 1990 que o aniversário do massacre é assinalado em Hong Kong a 4 de junho, mas a vigília deste ano valeu penas de prisão para os ativistas envolvidos, incluindo destacados militantes pró-democracia como Jimmy Lai, o dono do jornal Apple Daily, entretanto retirado de circulação. 

O memorial da UHK era o último vestígio público em Hong Kong de uma data que Pequim tem feito por apagar da história. “A sua criação, em 1997, foi um marco de liberdade em Hong Kong; a sua destruição em 2021 será a lápide da liberdade em Hong Kong”, afirmou Samuel Chu, presidente da ONG pró-democracia Campaign for Hong Kong, em declarações ao The Guardian.

Todos os anos, no aniversário do massacre, estudantes, pessoal da faculdade e ativistas pró-democracia mantinham a tradição de limpas e restaurar a escultura, como forma de homenagear as vítimas (que terão sido entre algumas centenas e 10 mil, de acordo com estimativas de diferentes organizações).

Autor exige devolução da escultura

O Pilar da Vergonha representava 50 rostos humanos em angústia, e partes de corpos torturados, numa invocação das vítimas do massacre de 1989. Na manhã de quinta-feira, no local onde estava a estátua, havia apenas um forte aparato policial, para evitar manifestações de desagrado pelo desaparecimento do memorial. Os meios de comunicação social também foram mantidos à distância. Apesar disso, foram partilhadas nas redes sociais imagens do local vazio onde antes estava a obra de arte.

A direção da UHK tinha anunciado em outubro que iria remover a escultura, em consequência da repressão cada vez maior sobre a liberdade de expressão no território, após entrada em vigor da nova Lei de Segurança Nacional, imposta pelas autoridades de Pequim. A decisão mereceu protestos e repúdio dos ativistas pró-democracia.

Segundo a direção da universidade, a decisão foi tomada em consequência de aconselhamento jurídico, segundo o qual a escultura poderia significar uma violação da legislação da cidade. 

A universidade garante que a estátua ficará guardada, mas o autor da obra já exigiu que a peça lhe seja devolvida.

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