Heimaey, a inóspita ilha vulcânica de onde vem muito do bacalhau que chega à mesa dos portugueses

António José Leite , Hélder Tavares (imagem); Pedro Marcos (edição de imagem)
18 dez 2022, 10:08

Grande parte do bacalhau consumido em Portugal tem carimbo e ADN da Islândia. O peixe é capturado nas águas geladas do Atlântico Norte e depois passa pelo processo de secagem até ser enviado para Portugal. A CNN Portugal esteve nas vulcânicas ilhas Westman, na Islândia. Um lugar isolado de quase tudo, onde há cerca de 50 portugueses a trabalhar na pesca e secagem do bacalhau. São atraídos pelos bons salários e condições.

A pesca de bacalhau é o motor económico das silenciosas e vulcânicas ilhas Westman, rodeadas pelo Oceano Atlântico, situadas a Sul da Islândia. Aqui, há papagaios do mar no verão. Há cavalos, exclusivamente de raça islandesa, e até uma rocha com o formato de cabeça de elefante. Fica perfilada sobre o oceano.

Das 14 ilhas só Heimaey é povoada. Pouco mais de 4 mil pessoas habitam neste paraíso paisagístico, que vive do mar e da pesca.

No verão, há papagaios do mar a esvoaçar pela ilha. (António José Leite/CNN Portugal)

A ondulação é grande. A água é muito fria. Ideal para o bacalhau, capturado às toneladas. Também fomos “pescar”, mas as condições atmosféricas e a ondulação fizeram-nos regressar rapidamente a terra firme.

A Portugal, chegam 3 mil toneladas de bacalhau por ano, embaladas com material plastificado, que regressa à Islândia para ser reutilizado.

Portugal recebe 25% de todo o bacalhau pescado. É um mercado muito importante, apenas superado por Itália e Espanha, que recebem mais toneladas do que Portugal, como nos explicou Sigurgeir Kristgeirsson, CEO da VSV, uma empresa com 75 anos de ligação ao mercado luso.

Os portugueses das ilhas Westman

Assim que é pescado, o bacalhau é desovado, escalado, lavado e depois salgado. Uma "ciência", como analisou Sverrir Haraldsson, diretor de produção da VSV.

As ilhas Westman atraem alguns portugueses. E não é difícil perceber porquê. O salário de um operário, numa das quatro fábricas de tratamento de peixe de Heimaey, é cinco vezes mais alto do que o salário mínimo em Portugal.

Orlando Silva e João Carmo são portugueses e trabalham na indústria do bacalhau na Islândia. Explicam-nos que as rendas de casa ainda incluem água, água quente, aquecimento e eletricidade. O supermercado tem preços semelhantes aos praticados em Portugal. Só os legumes são mais caros. Porque em terra gelada é difícil o cultivo e o preço sobe.

A pesca de bacalhau é o motor económico das ilhas. (António José Leite/CNN Portugal)

A ilha usa energia geotérmica e energia do mar. A água é gratuita. A consciência ambiental está no comportamento de todos. Estes habitantes procuram reutilizar tudo em vez de reciclar.

A importância da alimentação

A pequena Haimaey foi arrasada pela erupção do vulcão Eldfell, em 1973. Em janeiro de 2023 passam 50 anos do momento que mexeu com a história da ilha. Durante seis meses, o vulcão esteve ativo e deixou a ilha coberta de cinza, lava e pequenas pedras.

Kristín Jónhannsdóttir é diretora do museu Eldfell, que conta toda a história com imagens. Vídeos e fotografias que arrepiam. São de uma beleza caótica, quase poética e também estão na nossa reportagem.

As pedras vulcânicas até estão na origem de serviços de mesa. E a alimentação é algo que os islandeses cuidam com apreço.

Einar Björn Árnarsson é chef de cozinha. Até já foi responsável pela alimentação da seleção de futebol islandesa durante o Euro 2016. Com ele saboreamos um incrível bacalhau fresco inspirado no português Bacalhau à Brás.

Para Portugal, vem pouco bacalhau fresco. A cozinha lusa quer bacalhau seco e salgado que só é consumido depois de demolhado.  

Depois de um período superior a seis meses de cura, entre a Islândia e Portugal, o bacalhau pronto a embalar. Neste caso, bacalhau capturado em abril, antes da desova, porque aí o peixe é mais gordo e saboroso. Depois é só demolhar e há 1001 maneiras de o comer.

Europa

Mais Europa

Patrocinados