Com a chegada tardia da gripe, a permanência da variante de SARS-CoV-2 mais transmissível e a época das alergias à porta, eis o que precisa de saber para se proteger
Com o número de casos de gripe a subir, com predomínio da gripe A, a estabilização do contágio por Ómicron e a época de alergias a chegar, março despede-se com um "cocktail" que pode trazer tosse, espirros e confusão de sintomas. Mas há aspetos que unem e separam os vírus respiratórios em si. Mas o certo é que ambos podem ter influência nas alergias.
O que une a gripe e a covid-19
São dois vírus respiratórios que se transmitem da mesma forma e atuam, maioritariamente, no trato respiratório superior nos casos de infeção aguda – isto, se tivermos em conta a variante Ómicron e não as variantes anteriores, que eram menos transmissíveis, mas mais agressivas para os pulmões e propensas ao desenvolvimento de doença grave. No caso da gripe, seja A ou B e independentemente do subtipo, o vírus Influenza atua de igual modo, como explicamos aqui, apresentando sintomas como febre, tosse, dores musculares e dor de cabeça – podendo tudo isto variar de pessoa para pessoa.
O vírus Influenza e o vírus SARS-CoV-2 costumam provocar sintomas semelhantes, explica a médica Patrícia Maia, embora, “por norma, a gripe não costume dar falta de ar, como a covid pode dar”. Tanto a covid-19 como a gripe costumam provocar sintomas como febre, fadiga, dores corporais, garganta inflamada, falta de ar e vómitos ou diarreia, de acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA.
“Não há nenhum sintoma específico que distinga a covid-19 da gripe em termos de diagnóstico”, refere o diretor do Centro Materno-Infantil do Porto, Alberto Caldas Afonso, em declarações à CNN Portugal a propósito da maior incidência do subtipo H3N2, também conhecido como gripe A.
“A gripe e a covid-19 sobrepõem-se muito, quanto tínhamos a [variante] Delta tínhamos muito mais queixas de falta de paladar e de cheiro, o que nos levava a pensar mais no diagnóstico de covid, mas ambas causam febre, dor no corpo, dor de garganta, dor musculares. Ambas são similares”, explica a coordenadora de Medicina Geral e Familiar do Hospital Lusíadas Lisboa, que destaca que a perda de olfato e paladar podem também ocorrer em casos de gripe devido “à congestão nasal”, mas com uma persistência menos duradoura.
Na prática, diz, se em causa estão “doenças ligeiras”, tanto a gripe como a covid-19 manifestam-se de forma idêntica.
Então, o que separa os dois vírus respiratórios?
Pouco. Segundo Patrícia Maia, “acabamos por tratar ambas de forma sintomática em casos ligeiros, mas em relação à covid-19 é importante ser testado, pois é a única forma de fazer o diagnóstico por causa do isolamento”.
Quanto à testagem, esta acaba por ser uma das diferenças: para a covid-19 testam-se todas as pessoas com sintomas, para a gripe são apenas aquelas que vão aos serviços de urgência dos hospitais.
No que diz respeito à forma como os vírus se fazem sentir, embora a sintomatologia seja idêntica, há ainda uma diferença a assinalar: “a gripe tem um início mais rápido e intenso, a covid vai-se instalando e o período de incubação vai ser mais prolongado”, refere a médica, frisando que, porém, “é difícil fazer uma distinção muito precisa, uma vez que não fazemos testagem para gripe num quadro que seja ligeiro”.
E qual o papel destes dois vírus nas alergias?
“Tudo isto está interligado”, atira Luís Rocha, pneumologista e dirigente da Fundação Portuguesa do Pulmão. “Um doente atópico, um doente com alergias ou asma alérgica, deve ter a sua doença controlada e a terapêutica otimizada, porque se tiver outras infeções víricas a sua doença vai ficar agravada”, alerta o pneumologista, que adianta ainda que pode “haver alguns sintomas sobreponíveis, mas o doente com alergias sabe que há uma sazonalidade, sabe que há pólenes de gramíneas nesta época” e, por isso, estará mais atento a um eventual agravamento de sintomas. “Se houver sintomas com variação, um sintoma que se arrastou e que pensou que era alergia, mesmo com a medicação, deve fazer o despiste [à covid-19]”, explica o médico.
Quanto a sintomas, este é dos aspetos que mais distancia a alergia das duas infeções respiratórias causadas por vírus. É certo que uma alergia pode causar tosse e pingo no nariz, mas os sintomas tendem a ser diferentes daqueles que se verificam em infeções respiratórias, diz Patrícia Maia, frisando que as alergias podem causar “reações oculares e cutâneas e espirros, mas, por norma, não causam febre, dores no corpo, fadiga, não provocam a diarreia e os vómitos que podem surgir na covid e na gripe”.
A proteção contra um é a proteção contra todos
A vacinação é um dos principais escudos-protetores contra estes dois vírus respiratórios, e apesar de o subtipo de gripe A que tem causado mais casos de gripe em Portugal fugir “um bocado à vacina preconizada”, esta mantém-se eficaz na proteção, salvaguardam os especialistas entrevistados pela CNN Portugal.
Para travar a cadeia de contágio dos vírus Influenza e SARS-CoV-2, nada como adotar as regras de etiqueta de higiene e todas as medidas de mitigação do novo coronavírus – e que ao longo destes dois anos travaram a entrada da gripe em Portugal.
“Quando nos protegemos de um [vírus] acabamos por nos proteger do outro. Tivemos quase que uma ausência de gripe à custa da proteção da covid, como a higienização de mãos, o uso de máscara e o afastamento, isso ajudou muito, porque são doenças respiratórias que se transmitem por gotículas”, explica a médica Patrícia Maia.
Também Luís Rocha defende as medidas de proteção individual, até porque protegem as outras pessoas. “As pessoas devem ter os mesmos cuidados que tinham relativamente à covid, até por causa das pessoas com imunossupressão, que são mais vulneráveis”, destaca.
Apesar de o isolamento ser apenas uma obrigatoriedade para os casos confirmados de covid-19, o pneumologista diz que esta deve ser também uma recomendação para quem tem gripe. “As pessoas com gripe devem ficar isoladas porque transmitem o vírus aos outros”, diz o médico.
No que diz respeito às alergias, a solução é a mesma. Tanto Patrícia Maia como Luís Rocha defendem que o uso de máscara e a higienização das mãos são determinantes para evitar reações.