Ator francês não esteve em tribunal para ouvir o veredicto por se encontrar a gravar um filme em Portugal
Gerard Depardieu, estrela do cinema francês, foi esta terça-feira condenado a 18 meses de prisão com pena suspensa por agressão sexual contra duas mulheres durante as filmagens do filme Les Volets Verts, em 2021.
O ator de 76 anos, que não esteve presente no tribunal para ouvir o veredicto por se encontrar em Portugal, foi ainda multado em 20 mil euros e inscrito no registo de criminosos sexuais.
As agressões aconteceram no coração da indústria cinematográfica francesa. Uma assistente de cenografia de 54 anos descreveu, em tribunal, momentos de puro terror: “Ele agarrou-me com muita força. Os olhos estavam vermelhos, estava muito agitado, parecia um louco. Sentia prazer em ver o meu medo. Estava a aterrorizar-me e isso divertia-o”, contou.
A mulher teve de ser retirada debaixo do ator por membros da equipa após ele lhe tocar nas nádegas e no peito, sem consentimento, usando linguagem obscena.
A segunda vítima, uma assistente de realização de 34 anos, relatou três episódios distintos, sempre com o mesmo padrão de poder, abuso e silêncio. Entre outras situações, foi empurrada contra uma porta no set de filmagem e apalpada. “Fiquei paralisada”, disse sobre a primeira agressão.
Nas ocasiões seguintes, tentou resistir, disse “não”, mas foi ignorada. “Ele falava sobre sexo o dia todo, importunava toda a gente com essa conversa no set”, disse a vítima.
Durante o julgamento de quatro dias, em março, Depardieu rejeitou as acusações, dizendo que "não era bem assim". Reconheceu que usou linguagem vulgar e sexualizada no cenário do filme e que "agarrou as ancas" da assistente de cenografia durante uma discussão, mas negou que o comportamento fosse de cariz sexual.
Alegou ainda estar a ser alvo de uma campanha dos meios de comunicação social para destruir a sua imagem. No entanto, o tribunal não ficou convencido: as explicações do ator foram consideradas pouco credíveis.
A condenação está a ser vista como um ponto de viragem para a indústria cinematográfica francesa, até agora frequentemente criticada por proteger as suas estrelas em detrimento das vítimas.
Depardieu, um nome maior do cinema com mais de 200 obras no currículo, é a mais proeminente figura da indústria a ser condenada por agressão sexual desde o início do movimento #MeToo em França.
Apesar de cerca de 20 mulheres já o terem acusado de comportamentos abusivos no passado, muitos casos foram arquivados devido a prazos de prescrição.
Gérard Depardieu está desde abril em São Miguel, nos Açores, a gravar a longa-metragem 'Ela olhava sem nada ver', da realizadora Fanny Ardant.