O recente anúncio de Robert F. Kennedy Jr. como responsável pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos (U.S. Department of Health and Human Services - HHS) a partir da posse de Donald Trump em 20 de janeiro de 2025 gerou reações intensas de todos os lados. Enquanto alguns estão alarmados, há aqueles que veem sua nomeação como uma oportunidade de confrontar questões urgentes relacionadas à saúde pública nos Estados Unidos. Para muitos, RFK pode representar uma nova abordagem, mesmo que suas opiniões tenham causado polêmica no passado.
O que não ensinam nas universidades americanas
"É impressionante", disse a doutora Casey Means, médica formada em Stanford, ao refletir sobre seu tempo na universidade durante uma entrevista para o apresentador de TV Bill Maher, que foi ao ar na sexta-feira, 12 de novembro. "Durante os quatro anos de faculdade em Stanford, outros quatro de especialização e quatro anos e meio de treinamento cirúrgico, eu não aprendi nada sobre as causas reais das doenças crônicas nos Estados Unidos." Essa lacuna educacional, segundo ela, deixou os médicos despreparados para lidar com questões fundamentais como os impactos dos alimentos ultraprocessados, toxinas sintéticas, pesticidas e a desconexão da vida moderna com o ambiente natural. "Na média, uma criança nos EUA passa menos tempo ao ar livre do que um criminoso em um presídio de segurança máxima", destacou, apontando para um sistema focado em tratamentos compartimentalizados que ignoram fatores holísticos de saúde.
A médica ressaltou que os Estados Unidos gastam 4,5 trilhões de dólares anualmente com saúde, mas a expectativa de vida continua caindo, com taxas alarmantes de doenças crônicas. "Por que estamos gastando tanto enquanto nossa saúde continua a piorar?", questionou. “Nos Estados Unidos, a expectativa de vida de um americano médio é de 73 anos. No Japão ou Suíça, esse número sobre para 83 anos!” De acordo com a Dra. Means, 80% dos custos de saúde estão relacionados a doenças crônicas que poderiam ser prevenidas através de mudanças no estilo de vida, como uma melhor nutrição. "A maioria dos médicos em formação nunca tem um único curso sobre nutrição. Isso precisa mudar."
RFK e a luta contra a corrupção na saúde
Segundo a Dra. Means, “Trump pediu a RFK para fazer três coisas simples: eliminar a corrupção nas agências de saúde dos EUA; produzir pesquisas imparciais e baseadas em evidências para as diretrizes americanas de saúde; e reverter as tendências da epidemia de doenças crônicas em dois anos para crianças e adultos, para que possamos comemorar os 250 anos de independência dos Estados Unidos mais fortes do que nunca. E isso me parece muito bom.” Mas a questão que permanece é se RFK Jr. realmente terá liberdade para agir. "Será que o apoio de Trump resistirá ao primeiro telefonema de um figurão da indústria farmacêutica reclamando que as medidas tomadas pelo novo czar da saúde estão atrapalhando seus lucros?", perguntou Bill Maher. “Trump já é um bilionário que não pode concorrer novamente. Ele realmente precisa se curvar à indústria? Eu acredito que não”, respondeu a médica.
Visões ortodoxas e alternativas na saúde
Um ponto central discutido durante a entrevista foi a necessidade de uma abordagem holística da saúde. "Precisamos de médicos ocidentais, de antibióticos e tratamentos avançados. Mas precisamos também de uma visão que foque na prevenção", disse Bill Maher. “A medicina ocidental funciona bem quando já estamos doentes. A questão é: como evitamos chegar lá?” E continuou: "Nosso maior problema é a epidemia de doenças metabólicas. Nossas células estão metabolicamente disfuncionais devido ao mundo moderno. Precisamos de uma mudança estrutural no modo como encaramos a saúde." Para a Dra. Means, a nomeação de RFK pode ser uma chance de começar essa transformação.
* Fernando Montenegro escreve a sua opinião em Português do Brasil