Benfica arrisca descida de divisão caso os indícios sejam provados
As perícias financeiras da Polícia Judiciária (PJ) e do Ministério Público à empresa informática que terá servido de ‘saco azul’ ao Benfica, pela forma como recebeu 1,9 milhões de euros do clube por serviços de consultoria fictícios, encontraram, por ali, pagamentos de milhares de euros ao árbitro Bruno Paixão, conforme apurou a TVI (do mesmo grupo da CNN Portugal). E os indícios no processo são de corrupção desportiva – uma forma encapotada de o Benfica subornar um árbitro. Se ficar provado, o Benfica pode descer de divisão.
Ou seja, através da ‘Best for Business’, do empresário José Bernardes, que já é arguido no processo ‘saco azul’, o próprio Bruno Paixão admite à TVI ter recebido dinheiro – mas apenas por “um serviço de controlo de qualidade” à empresa. Diz que se trata de uma mera coincidência o facto de ter trabalhado, no mesmo período de tempo, durante as épocas em que era árbitro da Liga Portuguesa, para o empresário José Bernardes, suspeito de esconder 1,9 milhões do Benfica.
Há mais do que uma empresa informática na esfera de José Bernardes, que ficou na mira da justiça quando uma entidade bancária onde a sua ‘Questão Flexível’ tinha conta deu um alerta por suspeitas de branqueamento.
A empresa não teria dimensão para receber 1,9 milhões de euros em serviços. E o cliente era o Benfica, tendo a PJ apurado que não terão sido prestados quaisquer serviços: seria uma forma de retirar dinheiro da contabilidade do clube para despesas não documentadas. Nesse caso, já são arguidos, além de José Bernardes, o ex-presidente do Benfica Luís Filipe Vieira e os administradores da SAD Miguel Moreira e Domingos Soares de Oliveira, além da própria Benfica SAD. Todos por suspeitas de fraude fiscal e branqueamento de capitais. Agora, ao encontrar saídas de dinheiro de uma empresa informática de José Bernardes para Bruno Paixão, o Ministério Público tirou daí conclusões quanto ao propósito de o clube ter um ‘saco azul’: entre as despesas não documentadas podem estar pagamentos a um árbitro de futebol.
Paixão, que acumulou polémicas arbitragens durante a carreira, primeiro no campo e depois como vídeo-árbitro, tendo terminado a carreira na última época, nega à TVI ter recebido qualquer pagamento do Benfica. E diz tratar-se tudo de uma coincidência: "Conheço José Bernardes, e, aqui há uns anos, durante alguns meses, tentei implementar um sistema de controlo de qualidade, o ISO 9001, na empresa Best for Business."
Ainda não foi contactado pela PJ, garante, e diz que desconhecia quaisquer suspeitas sobre ele por corrupção desportiva. A TVI sabe que esta informação, extraída do processo ‘saco azul’, foi incorporada noutra investigação ao Benfica por corrupção desportiva, que nasceu do chamado ‘caso dos e-mails’, quando vieram a público, em 2017, trocas de correspondência eletrónica entre dirigentes encarnados e pessoas ligadas ao setor da arbitragem. Esse processo, que aguarda um despacho final do Ministério Público, já incorporou os casos dos ‘Vouchers’ e ‘Mala Ciao’, por diferentes suspeitas.
Entretanto, o Benfica reagiu em comunicado à notícia avançada pela CNN Portugal.