"É a Rússia a tentar mostrar o seu poderio e que toma conta daquilo que lhe apetecer": a importância para os russos de terem conquistado Chernobyl

24 fev 2022, 19:00

Tropas russas saídas da Bielorrússia conquistaram a zona da central nuclear. Chernobyl fica a meio caminho entre a fronteira da Bielorússia e a capital Kiev, "que é o objetivo"

As forças russas tomaram esta quinta-feira o controlo da central de Chernobyl, local do maior acidente nuclear da história. No Twitter, o presidente Zelensky disse que os ucranianos "estão a dar as suas vidas para que a tragédia de 1986 não se repita", acrescentando que as ações russas são "uma declaração de guerra contra toda a Europa". Também um conselheiro do Ministério do Interior da Ucrânia, Anton Gerashchenko, já tinha afirmado que havia registo de combates perto do depósito de resíduos nucleares de Chernobyl, a que a Rússia chegou a partir da Bielorrúsia.

"As tropas dos ocupantes entraram desde a Bielorrússia na zona da central de Chernobyl. Os membros da guarda nacional que protegem o depósito estão a resistir obstinadamente", tinha escrito o conselheiro na rede social Telegram, citado pela agência France-Presse (AFP).

A Rússia efetivamente conseguiu apoderar-se desta zona no território ocidental ucraniano. E levantam-se as questões: porque é que a invasão de Chernobyl é importante? Terá sido uma decisão estratégica? Segundo o general Leonel de Carvalho, esta é uma decisão estratégica, sim, mas não a nível militar. "É uma estratégia de propaganda. Chernobyl não passa de uma região deserta e local com resíduos não só físicos, como psicológicos", começa por explicar o especialista.

A central de Chernobyl foi alvo do maior acidente nuclear de que há registo, que ocorreu em abril de 1986, quando a Ucrânia ainda fazia parte da União Soviética, e obrigou à despovoação da cidade de Pripyat e de outras localidades circundantes e à constituição de uma zona protegida. O reator que explodiu foi coberto por um abrigo, de forma a prevenir fugas de radiação, tendo o resto da central nuclear sido desativada.

"Não encontro outra explicação que não seja o efeito que possa ter em termos europeus e mundiais", refere ainda o general, que prossegue: "Falar de Chernobyl pode ter um grande impacto - tanto para os países estrangeiros como para o povo russo".

Ora, atendendo ao nível de propaganda e manipulação que caracteriza a estratégia russa, esta é, segundo o general Leonel de Carvalho, uma forma de levar as pessoas a determinados pensamentos: "É a Rússia a tentar mostrar o seu poderio e que toma conta daquilo que lhe apetecer".

Também segundo o historiador Manuel Loff, a central está atualmente desativada, mas realça outro aspeto: "Sabemos que Chernobyl fica a meio caminho entre a fronteira da Bielorússia e a capital Kiev, que é o objetivo".

E já em Kiev, a cerca de 130 quilómetros a sul de Chernobyl, o presidente da Câmara local, Vitaly Klitschko, anunciou a imposição de um recolher obrigatório com o objetivo de preservar "a segurança" dos habitantes depois da invasão russa da Ucrânia.

"O recolher obrigatório durará das 22:00 às 7:00", acrescentou o presidente num comunicado, precisando que os transportes públicos não vão mais funcionar durante esse período, mas que as estações de metro devem permanecer abertas para servirem de abrigo no caso de ataques.

A Rússia lançou esta quinta-feira de madrugada uma ofensiva militar em território da Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que as autoridades ucranianas dizem ter provocado dezenas de mortos nas primeiras horas. O presidente russo, Vladimir Putin, disse que o ataque responde a um “pedido de ajuda das autoridades das repúblicas de Donetsk e Lugansk”, no leste da Ucrânia, cuja independência reconheceu na segunda-feira, e visa a “desmilitarização e desnazificação” do país vizinho.

O ataque foi de imediato condenado pela generalidade da comunidade internacional e motivou reuniões de emergência de vários governos, incluindo o português, e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), União Europeia (UE) e Conselho de Segurança da ONU.

 

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