Conheça Bette Nash: a hospedeira de bordo mais antiga do mundo

CNN , Michelle Cohan. Artigo originalmente actualizado em 2 de dezembro de 2016
10 jul 2022, 16:33
Bette Nash, assistente de bordo mais antiga do mundo

Bette Nash foi reconhecida esta semana pelo livro de recordes do Guiness como a assistente de bordo mais antiga do mundo ainda em serviço. A CNN Portugal recupera um artigo da CNN de 2016 sobre ela. E sobre o que mudou na aviação desde que Bette Nash começou a voar, há mais de 64 anos.

Durante cerca de seis décadas, Bette Nash tem partilhado o seu sorriso contagioso com o mundo - a 10 mil metros de altura. Isto torna bastante possível que ela seja a assistente de bordo mais sénior do mundo ainda a voar.

Aos 86 anos de idade, é seguro dizer que ela viu tudo e serviu todos.

"Os Kennedys costumavam voar connosco", recorda Nash, enquanto prepara umas bebidas na sua rota diária de Washington National para Boston Logan, na American Airlines.

É a sua rota regular, e os passageiros são amigos seus. As saudações incluem um abraço e perguntas sinceras sobre como estão as coisas.

É evidente: Bette Nash está realmente a pilotar este avião.

Sonhos de adolescência

Foi o romance e o glamour de voar, e uma carreira respeitável, que inicialmente a atraíram.

"Quis ser assistente de bordo desde que entrei no primeiro avião - tinha 16 anos, estava sentada com a minha mãe num sofá de couro verde em Washington [Aeroporto Nacional Reagan], e esta tripulação vinha da Trans World Airlines. O piloto e a assistente atravessaram a sala e eu pensei 'oh meu Deus' e disse que aquilo era para mim", recorda Nash.

Nash foi para a universidade, mas nunca se desviou do seu sonho. Pouco depois de acabar o curso, candidatou-se a um emprego como hospedeira de bordo, como eram então conhecidas as assistentes de bordo.

Nash iniciou a sua carreira de uma vida na agora extinta Eastern Airlines a 4 de novembro de 1957.

"E o resto é história", diz ela com um grande sorriso, espreitando os seus clientes felizes a desfrutar das suas bebidas na cabine da primeira classe.

Bette Nash, fotografada em 1958 no seu uniforme da Eastern Airlines.

 

"Quis ser assistente de bordo desde que entrei no primeiro avião", conta Bette Nash
"Naquele tempo, as pessoas chamavam-lhe ‘Escola de Charme’", recorda Nash. "Levavam-te ao salão de beleza, cortavam-te o cabelo todo e arrancavam-te as sobrancelhas"

A era dourada

A história tem visto muitas mudanças no mundo da aviação. Voar hoje em dia está muito longe do glamour das luvas brancas da época dourada de que Nash se lembra.

Quando Nash voou pela primeira vez, os aviões eram um local de luxo - quase umas férias em si. Era uma festa sofisticada no ar, onde todos vestiam o seu melhor fato de domingo e comiam lagosta em pratos de porcelana.

"Fisicamente, trabalhava-se mais naqueles dias", recorda. "Servíamos um grande tabuleiro de refeições. E eu era a única no avião, por isso tinha de tomar conta de todos".

Hoje, olhando à volta do avião apertado, a sua carga de trabalho ainda é significativa, só que agora envolve servir bebidas a centenas, em vez de refeições completas a algumas dezenas. Mas continua a gostar tanto quanto antes.

"Eu adoro as minhas pessoas. Conheço os meus clientes. Sei o que eles querem. A companhia aérea pensa que os nomes são importantes, mas eu penso que as necessidades das pessoas são muito importantes. Toda a gente quer um pouco de amor", diz ela.

Escola de charme

Antes de Nash começar a sua viagem como assistente de bordo, teve primeiro de olhar para o papel a desempenhar. "Naquele tempo, as pessoas chamavam-lhe ‘Escola de Charme’", recorda Nash. "Levavam-te ao salão de beleza, cortavam-te o cabelo todo e arrancavam-te as sobrancelhas".

Segundo Nash, a companhia aérea também tinha uma esteticista a ensinar as assistentes de bordo maquilhagem - o rímel era permitido, a sombra dos olhos não.

Também não se podia estar acima de uma certa altura e peso. "Tiravam as pessoas da folha salarial se pesassem demasiado. Ou davam-lhes uma semana ou mais para perder o excesso de peso", recorda Nash.

Hoje em dia, não há requisitos de altura ou peso nos EUA, mas as companhias aéreas ainda ditam o que se veste. E Nash viu os uniformes mudarem com o humor de cada época. Quando começou, o uniforme, tal como a maquilhagem minimalista, era muito conservador.

Algumas tendências não duraram muito. "Por volta de 1965 ou 1964, mais ou menos, vieram com um uniforme azul real. Era um uniforme do designer Ben Reig. Tínhamos um chapéu e tudo, mas era tão azul que as pessoas não o suportavam. Durou um ano", conta.

Por volta de 1970, explica Nash, o look começou a ficar um pouco radical, com calças, cores arrojadas, vestidos curtos e cabelo realmente grande.

"A certa altura, fomos até às calças justas. Tínhamos as calças justas, as botas altas, uma camisa de gola alta que vinha até aqui e era abotoada por baixo. Depois disso, as coisas começaram a acalmar um pouco".

Uniformes da United em 1939, pelo designer Zay Smith, que eram usados no Douglas DC-3 da companhia.
Uniforme da TWA em 1944, pelo designer Howard Greer
Uniforme dos anos 60 pelo designer Emilio Pucci
Uniforme da United Airlines pelo designer Jean Louis em 1968
Uniforme da Qantas Airways, de 1986, por Yves Saint Laurent
Uniforme por Vivienne Westwood para a Virgin Atlantic em 2014

Tecnologia

Mas nada mudou mais no sector do que a tecnologia. Quando ela começou a voar, todos os horários de voo eram afixados num quadro negro, e os manuais e regulamentos vinham num livro.

Hoje, tudo está num ecrã, e para Nash esta foi uma grande adaptação.

A American Airlines foi a primeira companhia aérea americana a substituir todos os manuais em papel por tablets e iPads. Todos os anúncios de voo são agora lidos a partir do tablet, o que foi um grande desafio para Nash, uma vez que ela não é a mais versada em tecnologia, admite.

"A tecnologia fez realmente a diferença em 'Vou ficar ou vou embora?' Mas mesmo quando penso que me vou reformar ou algo assim, então venho trabalhar e penso, 'Oh, eu não poderia fazer isso'. É estimulante vir para aqui", diz Nash.

"As companhias aéreas estão a evoluir continuamente, e é preciso evoluir com elas".

Antes do wi-fi ou dos aparelhos de entretenimento a bordo, os passageiros passavam o tempo a ler livros ou jornais. Ou a acariciar os seus colares e a olhar para o infinito
Esta imagem retrata um momento a bordo de um Douglas DC-7, uma aeronave popular antes dos jatos de passageiros terem tomado conta do mercado.

Ao arrumar o avião para a aterragem em Washington, Bette Nash conversa com alguns passageiros regulares, acrescentando alguns risos ao ambiente na cabine.

Ela ri-se quando lhe perguntam se pensa que a tecnologia a irá substituir.

"Nunca irão eliminar uma assistente de bordo, porque precisam do toque humano. As pessoas precisam dessa interação humana", explica.

Muito mudou com a indústria aeronáutica nas últimas seis décadas, mas há uma coisa que a tecnologia não mudou: as caras amigáveis da tripulação de cabine que o cumprimentam quando embarca numa aeronave.

Nash ainda usa esse sorriso como um distintivo de orgulho, e não mostra sinais de abandonar os céus em breve.

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