Ansiedade, depressão e agressividade? Pegue num papel e numa caneta. O ‘journaling’ pode ajudar

CNN Portugal , FMC
23 out 2022, 11:00
Escrever

Adotar esta ferramenta pode ser crucial para um maior autoconhecimento e autoestima, para diminuir ansiedade, depressão e agressividade e para a longo-prazo para identificar o crescimento ao longo do tempo

Pegar numa caneta e num caderno pode ser o primeiro passo para aprender a lidar com ansiedade, depressão e agressividade, ou mesmo uma alternativa para acabar com o hábito de passar horas a percorrer as redes sociais.

O ‘journaling’ é uma espécie de diário e está longe de ser uma técnica nova, mas segundo duas psicólogas ouvidas pela CNN Portugal, pode ser excelente para a promoção da saúde mental, nomeadamente para a reorganização e desconstrução de pensamentos que atormentam o dia-a-dia. 

A psicóloga Débora Bento Correia explica que esta técnica consiste, de forma simples, “em focar no presente e olhar para dentro, acedendo às emoções, dúvidas, medos, vivências.” E a partir daí, é passar tudo para o papel.  

Jordana Cardoso, também psicóloga, lembra que a escrita sobre os acontecimentos diários “é uma prática milenar”, mas alerta que para que a técnica funcione é preciso que, quem a experimentar, se deixe levar “sem filtros”. Ao escreverem sobre o que sentem, sublinha a psicóloga, as pessoas não devem estar preocupadas com a gramática, sintaxe ou com receios que alguém possa ler. “É uma escrita livre, desprendida de preconceitos e com alguma distância da voz crítica interna”, sublinha.

Em termos práticos não há regras na adoção deste hábito. Pode escrever-se livremente sobre qualquer assunto, ou caso seja preferível, seguir alguma orientação, ao responder a algumas questões que foram exemplificadas pelas especialistas: “Qual o desafio que me afeta? Como vejo esse desafio? Que emoções tenho perante certos acontecimentos? “, ou por outro lado, procurar pensar sobre assuntos mais positivos: “O que me deixou feliz hoje? Sou grata por...”.   

Ter um ou vários cadernos dedicados a esta prática é ainda uma mais-valia, segundo as especialistas, para perceber qual a evolução ao longo do tempo. Reler textos antigos permite identificar as mudanças no comportamento, na maneira de ser, estar e pensar e olhar para certos acontecimentos do passado com alguma distância e outra perspetiva.  

O ‘journaling’ pode, desta forma, tornar-se um aliado para trazer clareza e reorganizar o que ocorre no mundo interno. Até porque, muitas vezes, “é fácil ficar preso em pensamentos ruminantes”, com certas preocupações a invadirem a mente de forma repetitiva sem que seja possível fugir. É como estar “na roda do hamster”, como metaforicamente explica Jordana Cardoso. E escrever sobre esses pensamentos ajuda a sair da “roda” uma vez que passar para palavras o que perturba a consciência permite a identificação dos pensamentos negativos, dando oportunidade de os resolver, destaca Débora Bento Correia. De forma geral “melhora o bem-estar", conclui a psicóloga. 

Mas o ‘journaling’ também se pode tornar numa boa técnica para ganhar um maior conhecimento pessoal. Permite conhecer as “vulnerabilidades e fragilidades”, mas também “as potencialidades e forças”. Ou seja, “promove o autoconhecimento e consequentemente aumenta a autoestima”, explica a especialista, acrescentando que a prática recorrente desta atividade, motiva a que, de forma autónoma, sejam encontradas respostas para as dúvidas e soluções para os problemas, e permite formas de agir perante determinados contextos, o que aumenta a autoconfiança. 

Para tal, basta que sejam tirados uns minutos do dia e pensar sobre o que atormenta. Jordana Cardoso afirma que costuma aconselhar os pacientes e os clientes de workshops a tirar “um tempo de preocupação”, ou seja, escolher uma altura do dia para se debruçarem no que lhes está a tirar a paz e o bem-estar.  

Para que não seja contraproducente, é importante que a técnica seja feita com alguma regularidade. As especialistas aconselham cerca de 10 a 15 minutos por dia, diariamente. E quando tal não seja realista, durante cerca de dois a quatro dias por semana.  Importa realçar que quanto “maior a consistência, maior a probabilidade de se conseguir enraizar esta prática no quotidiano e, por isso mesmo, mais benefícios”, concretiza Débora Pinto Correia.

Jordana Cardoso alerta, contudo, que no início algumas pessoas podem apresentar alguma resistência devido ao efeito catártico, visto que ao tirar um tempo de verdadeira reflexão, problemas e pensamentos que possam estar reprimidos manifestam-se. Ainda assim, “a médio-longo prazo, o ‘journaling’ tem um efeito benéfico”, visto que “ajuda na diminuição da ansiedade, depressão e até da agressividade”, salienta a especialista.

De acordo com a especialista, já foram concretizados vários estudos que comprovam a eficácia desta técnica, notando também que as pessoas que acompanha tanto em consultas como em workshops têm mostrado evoluções positivas.

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