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Diretor de Informação da TVI

O que falta a Rui Rio para ser primeiro-ministro?

2 dez 2021, 07:50

Nunca como agora a pergunta fez tanto sentido. Com quatro anos na oposição, duas derrotas eleitorais e três meias vitórias, Rui Rio só conseguiu o pleno internamente. No partido. O que lhe falta, então, para conquistar o país? 

A resposta tem tanto de simples quanto de complexa. Falta ser alternativa. Falta explicar aos eleitores que não é a mesma coisa votar em António Costa ou em Rui Rio. Ou que votar em Rui Rio é, na verdade, o mesmo que votar em António Costa e vice-versa porque o cenário de Bloco Central estará sempre em cima da mesa. Se quisermos ser mais ácidos, falta explicar que Costa e Rio não são, na verdade, irmãos gémeos, separados à nascença, que andam há anos a tentar disfarçar o óbvio. 

Rui Rio conquistou, nas últimas diretas, uma oportunidade única: a de ser primeiro-ministro. Depois da vitória de Passos Coelho em Lisboa — desculpem, de Carlos Moedas — e dos flic flacs à retaguarda do presidente do PSD sobre o calendário das eleições internas, a verdade é que as diretas dos sociais democratas marcaram uma viragem na lógica político-partidária dos últimos anos: os militantes mandaram mais do que o aparelho. E esta é uma ótima lição para o futuro. Porque é assim que deve ser. Até porque os aparelhos dos partidos já morreram de podre, só ainda ninguém os avisou. 

Mas com esta vitória vem também uma enorme responsabilidade. Depois de seis anos de geringonça, que Portugal alternativo tem Rui Rio a propor aos portugueses? Que políticas, que estratégia económica, que modelo de sociedade defende o presidente do PSD para o país? Como pretende o presidente do maior partido da oposição colocar a economia a crescer com números que se vejam? Como e quando é que os portugueses podem aspirar a ter salários dignos de um país de primeiro mundo? Como é que se explica ao comum dos mortais que paga um Estado, dito social e de direito, que, no final, nos falha na saúde, na justiça e na segurança social? 

E não vale replicar a cartilha de Sá Carneiro em vão, porque a pergunta que cada social democrata deve colocar, ao dia de hoje, é que raio de social democracia é esta, que não consegue agregar nem os liberais na economia, nem os conservadores nos costumes. Que é incapaz de levantar uma parede à extrema-qualquer coisa, javarda, anti tudo e mais alguma coisa, onde não mora qualquer política que não seja a de destruição dos alicerces de uma democracia com mais de 40 anos. 

Rui Rio tem, nas próximas eleições legislativas, uma enorme possibilidade de levar o PSD a ser o partido mais votado. E, quem sabe, a ser governo. O embalo das diretas e das últimas autárquicas, conjugado com uma esquerda desfeita e sem horizontes futuros, são uma oportunidade única para Rui Rio chegar ao poder. Mas estar “picado” não chega. É preciso explicar ao que vem, que democracia defende e, sobretudo, com que “diabos” está disponível a assinar pactos. 

O que falta a Rui Rio para ser primeiro-ministro? Neste momento, quase nada. E quase tudo. 

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