opinião

O Pedro Salgueiro e a falta que o CDS faz

11 fev 2022, 15:05

Há duas imagens desta semana que não me saem da cabeça e que representam bem o estado a que a direita portuguesa chegou. De uma delas, provavelmente, não rezará a história política do país, mas, a outra, dificilmente alguém conseguirá apagar dos manuais políticos do Portugal moderno.

A placa do grupo parlamentar do CDS foi arrancada da casa da democracia 47 anos depois de lá ter sido pregada pela primeira vez. Não é coisa pouca. O partido fundado por Adelino Amaro da Costa, que deu ao longo de anos um contributo fundamental para a construção da democracia tal como a conhecemos hoje, evaporou-se nas urnas, depois de dois anos a cozer em lume brando, com um “Chicão” em frente ao fogão e um pin na lapela do seu sempre eterno colégio militar.

O princípio do fim, toda a gente sabe, começou no dia em que Paulo Portas decidiu sair de cena. Legitimamente, o líder mais longo da história do CDS quis dar lugar a outros e até escolheu uma sucessora.

Assunção Cristas rodeou-se bem e, nas autárquicas de Lisboa, até acabou por sair melhor do que a encomenda — com uma enorme ajuda de Passos Coelho, que, de tão humilhado que foi, acabou por sair pelo seu próprio pé. Cristas parecia lançada para um bom resultado eleitoral nas legislativas seguintes, mas só parecia. O CDS voltou a ser o partido do táxi, só que desta vez o taxista também era deputado.

Tudo isto devia ter levado o partido a refletir, a unir-se, a reinventar-se, mas não. A jovem promessa vinda da jota viu o espaço vazio, tomou conta do aparelho e venceu a corrida interna por falta de comparência de muitas das figuras mais importantes do partido que deixaram o partido acelerar em direção ao abismo.

Lembro-me bem de algumas delas, no fundo do pavilhão onde decorria esse congresso, a recusarem-se a subir ao palco, para não se comprometerem com nada. Como me lembro bem da vaia monumental que Pires de Lima recebeu quando alertou para os riscos que se adivinhavam para o futuro do partido.

Durante os dois anos seguintes, ainda houve quem quisesse inverter o ciclo de decadência em que o CDS entrara. Quem se disponibilizasse, quem quisesse discutir política, quem percebesse que o partido corria um sério risco de extinção. De nada valeu.

E é tudo isto que nos leva à segunda imagem da semana, que provavelmente ficará na memória apenas de alguns — jornalistas de política, assessores, políticos e afins. É a de um homem que não dirá nada à maior parte do país. Num corredor vazio da Assembleia da República, a empurrar um carrinho onde não caberiam todas as memórias de uma vida na política, legenda-se assim o momento: “20 anos. Obrigado CDS”.

Este homem chama-se Pedro Salgueiro, foi assessor do partido durante duas décadas e uma das melhores pessoas com quem me cruzei na política. Não somos amigos, nem precisamos de o ser para ter por ele o respeito que só se tem aos bons, aos honestos e aos profissionais. O Pedro faz parte de uma casta de assessores políticos que começa a escassear. A casta do Zeca Mendonça, da Paula Barata, do António Colaço e de tantos outros que trabalham nos bastidores para garantir que a política e o que nela se decide chega aos jornalistas e, esses, por sua vez, fazem-na chegar às pessoas. As pessoas que decidem, que votam de forma mais informada.

O Parlamento fica mais pobre sem o Pedro Salgueiro. E o país ficará ainda mais pobre sem o CDS, se aquilo que o vai substituir é a demagogia dos oportunistas sem ideologia, sem princípios e sem valores.

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