A SpaceX perderá até 40 dos satélites que acabou de lançar devido a uma tempestade solar

CNN , Jackie Wattles
13 fev 2022, 15:00
Foguetão. Paul Hennessy/SOPA Images/LightRocket/Getty Images

Espera-se que até 40 satélites do projeto Starlink da SpaceX saiam de órbita graças a um mau timing.

A empresa lançou os satélites diretamente contra uma tempestade solar.

Um lote de 49 satélites de Internet do projeto Starlink seguiu no mais recente lançamento da SpaceX, a 3 de fevereiro, e agora a empresa prevê perder a maioria graças a um evento climático espacial conhecido como tempestade geomagnética. Este evento acontece quando fluxos de partículas carregadas, ou ventos solares, emitidos pelo Sol interagem com o campo magnético da Terra. As partículas carregadas de energia podem aquecer a atmosfera superior, fazendo com que se torne mais espessa. (Sim, ainda há atmosfera em zonas do espaço sideral mais próximas da Terra. A atmosfera terrestre vai desaparecendo ao longo de milhares de quilómetros.)

Neste caso, a tempestade afetou a zona da órbita para onde foram lançados os mais recentes satélites do projeto Starlink da SpaceX, e tornou a atmosfera suficientemente densa para que os satélites não conseguissem manobrar até à órbita pretendida.

Não se sabe bem a dimensão do impacto financeiro. A SpaceX não divulgou quanto custa construir um satélite do projeto Starlink, embora a presidente da empresa, Gwynne Shotwell, tenha dito em 2019 que o preço estava bastante abaixo do milhão de dólares por satélite.

Esperava-se que os satélites que a SpaceX lançou na semana passada se juntassem aos cerca de 2000 satélites Starlink já em órbita, num projeto da empresa para aumentar drasticamente os seus negócios de Internet a nível global, um empreendimento inédito que pretende permitir que todas as pessoas, mesmo as que se encontram nas áreas mais remotas do mundo, possam ter acesso à Internet de alta velocidade.

A SpaceX disse que provavelmente precisará de até 42 000 satélites, todos a trabalhar em coordenação, com o objetivo de fornecer um serviço ininterrupto e de alta velocidade. Em janeiro, o serviço tinha cerca de 145 000 utilizadores em 25 países.

Não está totalmente claro como é que a SpaceX avaliou o clima no espaço antes do lançamento da semana passada. A empresa não respondeu a um pedido de comentário e raramente responde às perguntas dos jornalistas.

Mas já foram adiados lançamentos de foguetes por causa de eventos climáticos espaciais, disse Bill Murtagh, coordenador do programa no Centro de Previsão do Clima Espacial da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica. E os responsáveis pelos lançamentos estão sempre atentos ao clima espacial, antes do lançamento dos foguetes.

“Diferentes empresas têm diferentes critérios” para decidir se um evento climático espacial afetará ou não o seu lançamento, acrescentou Murtagh.

James Spann, responsável pelo clima espacial no departamento da NASA que estuda o Sol, também disse que é difícil prever com exatidão como é que uma tempestade geomagnética como esta poderia afetar o Starlink. Como a tempestade não era muito grave, não é irracional pensar que não teria impacto no lançamento.

E embora a perda de 40 satélites não seja ideal, Spann sublinhou que os dados que a NASA e a NOAA vão obter da observação do comportamento dos satélites Starlink face à tempestade, ajudarão a melhorar a criação de modelos climáticos espaciais, no futuro.

“Esse é o lado bom”, disse ele à CNN Business. “Vamos usar os dados para garantir que, no futuro, as hipóteses de sucesso sejam ainda melhores do que são agora.”

Ainda assim, os dados de GPS dos satélites Starlink “sugerem que o aumento da velocidade e da gravidade da tempestade fizeram com que a resistência atmosférica se tornasse até 50% maior do que em lançamentos anteriores”, escreveu a SpaceX numa atualização do seu site. “A equipa Starlink comandou os satélites em modo de segurança, onde voariam de perfil (como uma folha de papel) para minimizar a resistência - para ‘se protegerem da tempestade' de forma eficaz”, segundo diz a empresa.

Mas os dados iniciais sugerem que o aumento da resistência causado pela tempestade impediu que os satélites desligassem o modo de segurança e “até 40 dos satélites farão a reentrada - ou já a fizeram, - na atmosfera da Terra”, diz a publicação da SpaceX.

A empresa frisou que os satélites falhados não devem representar qualquer risco para outros satélites, durante a descida, e devem desintegrar-se quando atingirem a zona mais espessa da atmosfera da Terra, para não serem um risco para pessoas ou propriedades no solo.

Todas essas medidas de segurança são projetadas logo de início, disse a empresa. A SpaceX disse que coloca intencionalmente os seus satélites Starlink numa altitude mais baixa do que a órbita pretendida para, no caso de um satélite se avariar, não ficar a voar descontrolado em órbita durante muito tempo – um esforço importante na mitigação dos detritos espaciais.

Mas o lançamento a altitudes mais baixas também pode ser uma das principais razões para estes satélites Starlink terem sido tão afetados pela tempestade geomagnética.

Numa nova declaração à Comissão Federal de Comunicações, que tem de aprovar o lançamento dos satélites, a NASA mostrou-se preocupada por o grande número de satélites que a SpaceX propõe lançar se poder tornar uma ameaça para a Estação Espacial Internacional e outros ativos importantes no espaço.

O clima espacial

A cada década, mais ou menos, o Sol completa um ciclo solar de atividade calma e tempestuosa, e inicia um novo.

Eventos como as erupções solares e as ejeções de massa coronal (CME) - quando a atmosfera mais externa do Sol cospe plasma e campos magnéticos - podem ter impacto na rede elétrica, nos satélites, no GPS, nas companhias aéreas, nos foguetes e nos astronautas no espaço.

O clima espacial é conhecido por causar perturbações nos sistemas de comunicação terrestres, ao afetar as frequências de rádio.

O nosso ciclo solar atual, o Ciclo Solar 25, começou oficialmente em dezembro de 2019. Neste momento, estamos a sair de um período de relativa calma e espera-se que o ciclo atual atinja a fase mais ativa em 2025.

Numa escala de um a cinco, a tempestade geomagnética que afetou os satélites do projeto Starlink, na semana passada, foi um dois, o que é bastante ligeiro, disse Murtagh. O Sol provoca “várias centenas” de tempestades dessa magnitude a cada ciclo solar de 11 anos, disse Murtagh.

“Uma bela manifestação visível [do clima espacial] é a aurora boreal, que toda a gente adora. Essa é a parte agradável e bonita. Mas as consequências, como descobrimos agora, podem ser bastante significativas para algumas tecnologias”, disse Murtagh.

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