A Leste tudo de novo: quando a radiação é o menor dos problemas (por Filipe Caetano, enviado da CNN Portugal à Ucrânia)

17 fev 2022, 20:18
Vilcha, Ucrânia

Um dos locais de eventual invasão russa é a fronteira norte com a Bielorrússia, junto a Chernobyl. A zona está a ser severamente vigiada pelas forças ucranianas e só podemos estar aqui com autorização especial

Seguimos viagem com um elemento da Guarda Fronteiriça, que permite a autorização de passagem nos vários pontos de controlo. As estradas estão em muito mau estado e por todo o lado há sinais de radiação. Dizem-nos que não há perigo, mas vemos edifícios abandonados, antigas vilas completamente vazias. Na zona de exclusão não é permitida a presença de humanos e a natureza vai ganhando o seu espaço.

Este é, porém, o menor dos problemas para esta região. A poucos quilómetros daqui estão instaladas tropas russas e bielorrussas, alegadamente para exercícios militares. São o sinal de uma ameaça permanente, o que torna o posto fronteiriço de Vilcha um dos mais perigosos de toda a região.

A Guarda de Fronteira sabe que este não é um posto qualquer. Existe uma circulação escassa de veículos, na sua maioria camiões cisterna. A inspeção é feita de forma cuidadosa, com a preciosa ajuda de animais treinados. Trata-se de um local severamente militarizado, com veículos blindados, pessoal armado e entrincheirado (vimos mais a serem construídas).

Esta é uma das zonas identificadas pelo governo britânico como possível entrada das tropas russas em direção a Kiev, que fica a cerca de 150 quilómetros de distância. “Definimos deveres de guarda da fronteira do Estado e estamos a cumprir esses deveres. Adoraríamos ter uma melhor infraestrutura de engenharia para equipar a nossa linha de fronteira, mas sabemos que a situação está sob controle total”, conta-nos Yurii Shahraichuk, sub-coronel da Guarda de Fronteira da Ucrânia.

Diz que “está tudo calmo”, mas quando chegamos ao último ponto de controlo da fronteira vimos os guardas a esconderem uma arma “RPG”, que pode atingir tanques de guerra. “Observamos tudo o que acontece na fronteira e não existe uma escalada, nem provocações na fronteira, pelo menos para já…”

Os homens aqui instalados sabem que são a primeira linha de proteção da Ucrânia e estão prontos a agir: “Os guardas de fronteira são muito patrióticos e têm a moral em alta. A nossa principal tarefa é tornar a fronteira inviolável”. Mais um sinal da estranha normalidade vivida num país que esgota o armamento, o equipamento militar e os kits de primeiro socorro. Como se diz aqui: “Preparar para o pior, mas esperar o melhor”.

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