Polícia da Geórgia lança gás lacrimogéneo contra manifestantes pró-UE. Há 43 detidos

Agência Lusa , DCT - atualizado às 10:01
29 nov, 09:32

A Geórgia atravessa um período de crise política desde a vitória contestada do Sonho Georgiano nas legislativas de outubro

A polícia da Geórgia disparou esta madrugada gás lacrimogéneo e canhões de água para tentar dispersar manifestantes que protestavam contra a decisão do Governo de adiar para 2028 as negociações de adesão à UE.

Um mês depois das eleições legislativas ganhas pelo partido no poder, Sonho Georgiano, com a oposição a denunciar várias irregularidades, milhares de pessoas concentraram-se em Tbilisi e em outras cidades do país.

Na capital, os manifestantes bloquearam a circulação à frente do Parlamento e da sede do Sonho Georgiano, agitando bandeiras da UE e da Geórgia.

Depois da meia-noite (hora local), a polícia antimotim disparou granadas de gás lacrimogéneo contra os manifestantes, constataram jornalistas da agência de notícias France-Presse no local.

Agentes encapuzados dispararam balas de borracha e agrediram manifestantes, que ergueram barricadas às quais lançaram fogo, e também jornalistas.

Os meios de comunicação locais noticiaram várias detenções.

A Presidente georgiana, Salomé Zurabichvili, em rutura com o Governo, manifestou apoio, numa mensagem difundida na rede social X, aos "'media' georgianos que são alvo de maneira desproporcionada e atacados em trabalho".

A Geórgia atravessa um período de crise política desde a vitória contestada do Sonho Georgiano nas legislativas de outubro.

"O Sonho Georgiano não venceu as eleições, organizou um golpe de Estado. Não há Parlamento ou Governo legítimos na Geórgia", afirmou Chota Sabachvili, um manifestante de 20 anos.

"Não deixaremos este primeiro-ministro autoproclamado destruir o nosso futuro europeu", acrescentou.

Na quinta-feira, o Parlamento Europeu (PE) adotou uma resolução em que rejeitou os resultados das eleições georgianas, denunciando "irregularidades significativas".

No texto é exigida a organização de um novo escrutínio no prazo de um ano sob supervisão internacional, bem como o estabelecimento de sanções para responsáveis georgianos, incluindo o primeiro-ministro, Irakli Kobakhidze.

Em resposta, Kobakhidze, em funções desde fevereiro e confirmado na quinta-feira pelos deputados, acusou o PE e "certos políticos europeus" de chantagem.

"Decidimos não admitir na ordem do dia a questão da adesão à UE antes do final de 2028", anunciou.

No entanto, comprometeu-se a continuar as reformas necessárias, garantindo que "até 2028, a Geórgia estará mais bem preparada que qualquer outro país candidato à abertura de negociações de adesão com Bruxelas e a tornar-se num Estado-membro em 2030".

Antiga república soviética, a Geórgia obteve oficialmente o estatuto de candidato à adesão em dezembro de 2023, mas Bruxelas suspendeu o processo e acusou o Governo do Sonho Georgiano de grave recuo democrático.

A Presidente, com poderes limitados, declarou o novo Parlamento inconstitucional, e espera uma resposta ao pedido que fez de anulação dos resultados eleitorais junto do Tribunal Constitucional.

Polícia da Geórgia deteve 43 manifestantes pró-europeus em Tbilisi

Pelo menos 43 manifestantes pró-europeus foram presos na Geórgia e 32 polícias ficaram feridos durante um protesto que se prolongou durante a madrugada frente ao Parlamento de Tblisi.

De acordo com um jornalista da Agência France Presse, presente no local, a polícia antimotim disparou balas de borracha, granadas de gás lacrimogéneo e usou canhões de água, atingindo manifestantes e repórteres junto ao edifício do Parlamento.

Os manifestantes ergueram barricadas que depois incendiaram.

Segundo o Ministério do Interior da Geórgia, "43 pessoas foram detidas pelas forças de segurança por desobediência às ordens legítimas da polícia e por atos de vandalismo”.

De acordo com o ministério, 32 polícias ficaram feridos "na sequência das ações ilegais e violentas dos manifestantes".

Dois membros do partido da oposição Coligação para a Mudança, Elene Khochtaria e Nana Malachkhia, ficaram feridas durante os confrontos.

A manifestação denunciava a decisão do governo, acusado de autoritarismo pró-russo, de suspender os esforços de integração na União Europeia até 2028.

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