Primeiro as mentiras, agora uma acusação de 13 crimes: o que se passa com George Santos, que está em liberdade porque três desconhecidos pagaram 455.000€?

CNN Portugal , Com Lusa
10 mai 2023, 21:28
Congressista George Santos à saída do tribunal (EPA)

É mais um caso a agitar a América. George Santos ficou conhecido por inventar parte da sua história de vida

O congressista republicano George Santos, detido esta quarta-feira, declarou-se inocente de todas as acusações que lhe são imputadas pelo tribunal federal de Long Island, no estado de Nova Iorque, EUA. Santos é acusado de 13 crimes - sete de fraude, três de lavagem de dinheiro, um de apropriação indevida de fundos públicos e dois de falsas declarações à Câmara dos Representantes dos EUA. 

O congressista foi libertado após o pagamento de uma fiança de 500 mil dólares (cerca de 455 mil euros), garantida por três indivíduos, cujas identidades não foram reveladas, e não pode sair do estado de Nova Iorque até ser julgado.

A acusação conhecida esta quarta-feira refere “esquemas fraudulentos e deturpações descaradas”, com o objetivo de enganar financiadores, enriquecer e, por fim, ser eleito para o Congresso - o que, de facto, conseguiu. O congressista também terá montado um esquema fraudulento para receber subsídio de desemprego. O republicano pode enfrentar até 20 anos de prisão se for condenado.

Santos pronunciou apenas algumas palavras em tribunal, respondendo afirmativamente às questões feitas pela juíza que presidiu à audiência, que durou cerca de 15 minutos.

O seu advogado, Joseph Murray, disse que Santos planeia continuar a sua campanha de reeleição e pediu permissão ao juiz para viajar livremente, embora tenha entregado o seu passaporte. “Finalmente conseguimos abordar todas estas alegações”, disse Murray a jornalistas junto ao tribunal.

Esta é mais uma polémica a envolver o congressista norte-americano de origem brasileira, de 34 anos, o primeiro republicano eleito assumidamente ‘gay e que ficou conhecido por inventar parte da sua história de vida. 

George Santos foi eleito para a Câmara dos Representantes (câmara baixa do Congresso dos Estados Unidos) nas eleições intercalares do outono passado, após uma campanha parcialmente assente em mentiras. Disse às pessoas que era um abastado negociante de Wall Street de origem judaica, com uma substancial carteira de investimentos em imobiliário e que tinha sido uma estrela do voleibol na universidade, entre outras coisas.

Na realidade, nunca trabalhou nas grandes empresas financeiras que afirmou terem-no contratado, não frequentou a universidade e enfrentou dificuldades financeiras antes de se candidatar ao Congresso – o que acabou por admitir, referindo-se às mentiras que inventou como “enfeites inofensivos” do seu currículo.

Também surgiram dúvidas quanto às suas finanças: nos registos regulamentares, indicou ter emprestado à sua campanha e comissões de ação política relacionadas mais de 750 mil dólares (682 mil euros), mas não era claro como tão rapidamente acumulara tamanha fortuna, após anos em que se debateu com dificuldades para pagar a renda e enfrentou várias ações de despejo.

Numa declaração de rendimentos às finanças, Santos reportara ganhar anualmente 750 mil dólares (682 mil euros), além de lucros de uma empresa da família, a Devolder Organization. Posteriormente, descreveu esse negócio como um intermediário de venda de artigos de luxo, como iates e aviões. A empresa foi fundada no Estado da Florida pouco depois de Santos ter deixado de trabalhar como vendedor para uma companhia acusada pelas autoridades federais de funcionar com base num ilegal esquema Ponzi.

Muitos dos representantes republicanos eleitos pelo Estado de Nova Iorque instaram-no a demitir-se, depois de a sua história de mentiras ter sido descoberta, e alguns reiteraram as suas críticas em relação a ele à medida que alastravam as informações sobre o seu caso criminal.

“O George Santos devia ter-se demitido em dezembro. O George Santos devia ter-se demitido em janeiro. O George Santos devia ter-se demitido ontem (terça-feira). E talvez se demita hoje. Mas, mais cedo ou mais tarde, seja ou não essa a sua escolha, terá de enfrentar tanto a verdade como a justiça”, declarou o congressista Marc Molinaro, um republicano que representa partes do norte do Estado de Nova Iorque.

O presidente da Câmara dos Representantes, o republicano Kevin McCarthy, eleito pelo Estado da Califórnia, foi mais comedido, afirmando: “Acho que nos Estados Unidos se é inocente até prova em contrário”.

Santos já anteriormente tinha sido alvo de acusações criminais, a primeira vez das quais quando tinha 19 anos. Nessa altura esteve no centro de uma investigação criminal no Brasil, motivada por alegações de que usara cheques roubados para comprar roupas numa loja. As autoridades brasileiras indicaram que reabriram o caso.

Em 2017 foi acusado de roubo no Estado da Pensilvânia, depois de as autoridades afirmarem que gastara milhares de dólares, pagos com cheques fraudulentos, na compra de cachorros a criadores de cães de raça. Esse caso foi arquivado quando Santos alegou que o seu livro de cheques tinha sido roubado e que outra pessoa tinha comprado esses cães.

As autoridades federais norte-americanas têm estado a investigar em separado queixas sobre o trabalho de recolha de fundos realizado por Santos para um grupo que ajudava animais de estimação maltratados e abandonados. Um veterano de Nova Jérsia acusou-o de não entregar 3.000 dólares (2.734 euros) que tinha angariado para ajudar a pagar uma cirurgia de que o seu cão necessitava.

E.U.A.

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