Em tempos, pensava-se que o rubor era a “mais peculiar e mais humana de todas as expressões”, como disse Charles Darwin. Mas um novo estudo descobriu que as galinhas partilham esta peculiaridade e podem também exprimir o seu medo ou excitação desta forma.
“A nossa investigação mostra que as galinhas domésticas são sensíveis e têm formas muito subtis de expressar as suas emoções”, explica à CNN uma das coordenadoras do estudo, Aline Bertin, investigadora do Instituto Nacional de Investigação Agrícola.
Juntamente com investigadores de vários institutos franceses e da Universidade de Tours, o estudo de Bertin descobriu que as galinhas afofavam as penas da cabeça quando estavam contentes e calmas e que corar durante alguns segundos indicava uma reação à excitação - em situações positivas, como esperar para comer ração - bem como a situações de medo, como medo de serem capturadas.
“Nos seres humanos, o rubor é frequentemente associado à vergonha ou ao embaraço, mas também aparece na expressão de uma série de emoções, como a raiva ou a alegria”, acrescenta Bertin. “Embora as emoções de uma galinha não sejam diretamente comparáveis às experimentadas pelos humanos, mostrámos que elas também coram durante uns segundos na presença de emoções fortes”.
Uma expressão de pouca vermelhidão e penas da cabeça afofadas sugere que as galinhas estão calmas e seguras, fornecendo conhecimentos que podem ser utilizados para avaliar o seu bem-estar, concluiu o estudo, publicado a 24 de julho, na revista Plos One.
Embora as expressões faciais tenham sido investigadas em vários outros mamíferos, como cães, cavalos, porcos e ratos, não foram tão amplamente estudadas em aves.
Para compreender como as galinhas expressam visivelmente as emoções, os investigadores passaram quatro semanas numa quinta francesa a observar 17 galinhas de duas raças diferentes, filmando os seus comportamentos de rotina e as suas reações a diferentes estímulos, conforme relata Aline Bertin.
Cada uma tinha as suas próprias peculiaridades e personalidade - algumas “assustavam-se muito facilmente ao mais pequeno ruído, enquanto outras reagiam muito menos”, diz Bertin, acrescentando que estas diferenças individuais são uma área a estudar mais aprofundadamente.
Para chegar a conclusões mais gerais, os investigadores extraíram imagens de cada dois segundos de filme e selecionaram as que apresentavam a galinha de perfil para melhor as estudar.
Embora os investigadores não tenham conseguido explicar o mecanismo pelo qual as galinhas coram neste estudo, concluíram que as bochechas e os lóbulos das orelhas eram mais reveladores das emoções das aves do que a crista ou os barbilhões.
Os investigadores reconhecem as limitações das conclusões, nomeadamente, o facto de filmar as galinhas no seu habitat natural, sem uma fonte de luz controlada, poder dificultar a identificação de mudanças de cor específicas, ao mesmo tempo que as mudanças de temperatura podem também ter influenciado a mudança de cor da pele.
Contudo, para atenuar esta situação, os investigadores analisaram as imagens utilizando termografia de infravermelhos, que não produziu o mesmo efeito, sugerindo que houve pouca alteração na temperatura e que as cores nas imagens estavam relativamente bem equilibradas.
É claro que há uma subjetividade na análise das emoções humanas, que é maior ainda na análise das emoções dos animais.
“Sem linguagem, a experiência subjetiva permanece inacessível”, diz Bertin. Por disso, os cientistas definem as emoções como “respostas comportamentais, fisiológicas e cognitivas a estímulos ambientais” e medem aspetos como o ritmo cardíaco e observam o comportamento de um animal.
Com base nos resultados deste estudo, Bertin espera investigar se estas manifestações de emoção estão ligadas às interações sociais das galinhas, bem como as implicações para o bem-estar dos animais.