Polémicas e muitas polémicas num campeonato que já teve cenas que em Portugal levariam qualquer um ao desespero
FC Porto-Benfica? Não. Chelsea-Liverpool? Nem por isso. E um Inter-Milan ou um Real Madrid-Barcelona? Bem longe. José Mourinho tem inúmeros dérbis e clássicos no seu currículo, mas nunca terá presenciado algo como o que aconteceu no fim de semana, naquele que é o melhor exemplo da loucura que gira em torno do futebol na Turquia.
Para policiar o escaldante Galatasaray-Fenerbahçe estavam 30 mil polícias. Sim, leu bem. Nas imediações de um estádio de futebol estavam mais polícias do que o número total de efetivos da PSP em Portugal - a Direção-Geral da Administração e do Emprego Público refere que existiam em Portugal 20.557 agentes daquela autoridade em 2024.
Claro que Istambul é uma cidade sem comparações com o nosso país - só ali estão cerca de 15 milhões de pessoas -, mas só isso não explica a dimensão do policiamento de um jogo de futebol que nem sequer foi jogado no centro da cidade.
É preciso perceber que ambas as equipas chegavam ao jogo num clima já de si inflamado, estando até José Mourinho no centro de muita dessa chama, na tentativa de catapultar o seu Fenerbahçe para uma derradeira luta pelo título, que acabou por ficar mais difícil depois do empate, que deixou o Galatasaray, campeão em título, com mais seis pontos.
Também é preciso referir que as críticas à arbitragem são algo constante na Turquia, mas que este ano tem havido especial polémica, o que até motivou o pedido para um árbitro internacional nesta partida em concreto, o que foi acedido, com a nomeação de um juiz esloveno. Um jogo de há duas semanas motivou José Mourinho a pedir que se chamasse a polícia, depois de um penálti ter sido claramente mal assinalado a favor do Galatasaray. A situação foi de tal forma extrema que o adversário dos campeões, o Adana Demirspor, abandonou o relvado em protesto, acabando os da casa por vencer a partida por 3-0 depois de a liga considerar que os visitantes desistiram.
Voltando ao dérbi de Istambul, José Mourinho está a ser acusado de “declarações racistas”, tenho o Galatasaray iniciado um processo judicial contra o treinador português. Embora não tenha sido esclarecido que declarações é que o clube entende que foram racistas, entende-se que o facto de o técnico ter dito que o banco da equipa da casa estava a “saltar como macacos” estará na origem do processo.
O Galatasaray escreveu na rede social X que José Mourinho tem tido “declarações persistentemente difamatórias dirigidas ao povo turco” desde que chegou ao país. “O discurso dele escalou para de comentários meramente imorais até uma retórica inequivocamente desumana”, acrescentou o clube.
“Declaramos formalmente a nossa intenção de iniciar um procedimento criminar em relação às declarações racistas feitas por José Mourinho, e fazemo-lo de acordo com as queixas à UEFA e à FIFA”, reiterou o campeão turco.
Este não é o primeiro episódio em que José Mourinho é visado juridicamente na Turquia, onde até já foi suspenso e multado por comentários sobre árbitros. Comentários que voltou a repetir após o dérbi.
“Fui ao balneário dos árbitros no fim do jogo. Claro que o quarto árbitro era turco”, afirmou, afirmando que avisou o árbitro principal, o esloveno Slavko Vinčić, de que era “responsável por um jogo importante”.
“Depois virei-me para o quarto árbitro: ‘Este jogo, se fosses tu o árbitro, este jogo seria um desastre’. E quando digo ele, digo numa tendência geral”, acrescentou, para depois agradecer ao árbitro por não ter assinalado um lance que entende que seria assinalado por um árbitro turco, num “grande mergulho” de um jogador do Galatasaray.
Do lado do Fenerbahçe, o clube tem defendido José Mourinho desde o início. O vice-presidente, Acun Ilicali, referiu à Sky Sports News que o treinador se limitou a “descrever a emoção do banco ao utilizar a palavra macaco”.
“Quando digo que corres como um coelho, não estou a dizer que és um coelho. Então, quando digo que saltas como um macaco, não quer dizer que sejas um macaco”, acrescentou, sublinhando que “José Mourinho não teve uma intenção racista”.