Certidão de batismo, declarações do próprio, transcrição da leitura do testamento e textos do seu biógrafo são os documentos que apontam a naturalidade de Gago Coutinho para a freguesia de Santa Maria de Belém, em Lisboa
Imagem: Gago Coutinho (à esquerda) e Sacadura Cabral na chegada a Pernambuco, no Brasil, após a primeira travessia aérea que ligou Portugal àquele país. Foto: Bettmann/Getty Images)
Na passada quarta-feira foi aprovada em conselho de ministros a mudança do nome do Aeroporto Internacional de Faro para Aeroporto Gago Coutinho. Foi assim que o governo decidiu prestar homenagem ao navegador, que, disse na altura o secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, era "natural de São Brás de Alportel, no distrito de Faro". No entanto, vários documentos e uma placa em Lisboa contam uma história diferente. Terá Gago Coutinho nascido mesmo no Algarve?
Rui Miguel da Costa Pinto, que dedicou grande parte da sua vida a estudar a biografia do navegador, tirou outra conclusão. O biógrafo, entretanto falecido, deixou vários textos onde afirma que Gago Coutinho nasceu na Ajuda, em Lisboa, a 17 de fevereiro de 1869.
São textos apoiados por vários documentos, nomeadamente a certidão de batismo de Gago Coutinho, que se pode consultar online no Arquivo Nacional Torre do Tombo, onde se pode ler que o navegador foi batizado em junho de 1869, na freguesia de Santa Maria de Belém, a mesma onde, diz mais à frente, nasceu. Na certidão é também possível perceber que ambos os progenitores são naturais do distrito de Faro, sendo portanto a ascendência algarvia do navegador indiscutível.
Sabe-se até a casa onde o navegador terá nascido, no atual número 27 da Calçada da Ajuda. No local existe uma lápide que assinala o nascimento de Gago Coutinho e que foi colocada em 1952 na presença do Ministro da Marinha, ainda durante a vida do navegador: “E permitam-me que, em poucas palavras de homem de rua, vos explique o que de sentimental representa para mim esta casa – antigamente número 5 – onde nasci, há 83 anos, de madrugada”, disse Gago Coutinho citado por um jornal da época, que se pode ler no site do biógrafo do navegador.
Para além disso, também na transcrição da leitura do testamento, que foi feita perante duas testemunhas, pode-se ler que “faleceu Carlos Viegas Gago Coutinho, no estado de solteiro, de noventa anos de idade, natural da freguesia de Santa Maria de Belém, concelho de Lisboa”.
Documentos que estão no Arquivo Histórico da Marinha Portuguesa referem também a local de nascimento do navegador como sendo Lisboa, como se pode ver em baixo no "Mapa da Inspeção feita pela Junta de Saúde Naval e do Ultramar", de 24 de abril de 1891.
Carlos Viegas Gago Coutinho foi um homem de vários ofícios – Oficial da Marinha de Guerra Portuguesa, Navegador, Geógrafo e Historiador.
Tornou-se num nome icónico da história portuguesa depois de, juntamente com o aviador Sacadura Cabral, efetuar a primeira travessia aérea do Atlântico Sul, no hidroavião Lusitânia, em 1922. Uma aventura descrita na reportagem "60 horas de Gazolina", emitada recentemente na TVI, estação parceira da CNN.