Gouveia e Melo criticado e elogiado: as consequências do caso do capelão exonerado/perdoado

31 mar 2022, 19:20
Almirante Henrique Gouveia e Melo

Um post no Facebook fez novos estragos na imagem da Marinha: o capelão Licínio Luís escreveu em defesa dos fuzileiros suspeitos da morte de um polícia e perguntou "se o senhor almirante nunca bebeu uns copos". O senhor almirante é Gouveia e Melo, que vive dias distantes daqueles em que foi aclamado como líder da vacinação em Portugal. O capelão foi exonerado e depois readmitido - para quê castigar e perdoar com um dia de diferença, para quê fazê-lo publicamente desta maneira - e o que diz isto sobre os métodos de Gouveia e Melo?

O tenente-coronel António Costa Mota não tem dúvidas: o capelão Licínio Luís “não esteve bem” ao divulgar aquela mensagem no Facebook mas a reação “imediata e a quente” do chefe de Estado-maior da Armada, almirante Gouveia e Melo, colocou em causa espírito dos fuzileiros, que são “muito unidos”. Mais: houve “excesso” de ambas as partes.

António Costa Mota, presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA), conhece Gouveia e Melo há mais de 10 anos. “O almirante é uma pessoa hiperexigente - para o bem e para o mal. Está há pouco tempo na Marinha enquanto chefe do Estado-Maior da Armada” e imagine-se qualquer um no “início do seu mandato ter um problema destes” - o envolvimento de fuzileiros na morte de um polícia. “Ele ainda está numa fase de afirmação.”

Para o tenente-coronel, e conhecendo como conhece Gouveia e Melo, não é de estranhar este ter optado pela “exoneração”, até porque “qualquer chefe naquela circunstância sentir-se-ia atingido”. António Costa Mota considera a decisão “desproporcionada” mas não tem dúvidas de que também “é legitima”.

Mesmo assim, preferia que tivesse sido usada uma velha máxima do mundo militar, conhecido pela “frontalidade” e por se resolverem os conflitos pessoalmente: “Louva-se em público, pune-se em privado”. “Ele é o chefe, ele é que determinou o rumo das coisas. Ele não gostou da uma atitude de um militar e, numa primeira fase, exonerou-o. Pronto. Está despachado”. 

"Teria feito a mesma coisa"

Em declarações à CNN Portugal, o general Leonel Carvalho não tem dúvidas em afirmar que, "como general, se fosse comigo teria feito a mesma coisa". E considera mesmo "incrível as declarações feitas pelo capelão". "É inexplicável."

O general lembra que Gouveia e Melo "disse o que tinha a dizer claramente" quando deixou claro que  é inadmissível que haja fuzileiros envolvidos na morte seja de quem for fora das suas missões militares, numa referência ao caso dos mebros da Marinha que são suspeitos na morte de um agente da PSP.  "Espero que isso tenha sido ouvido por todos os militares"., sublinha o general. 

Depois deste caso "que envolveu a morte de uma pessoa" e no qual há suspeitas de estarem envolvidos fuzileiros, para o general Leonel Carvalho não há duvidas de que Gouveia e Melo teve a atitude correta: "Disse as palavras que deviam ser ditas".

E porque decidiu Gouveia e Melo vai reintegrar capelão?

Já esta quinta-feira de manhã foi anunciado, durante uma missa campal, a reintegração do capelão Licínio Luís, que vai ser colocado na Base Naval de Lisboa, onde prosseguirá o desempenho de funções. É algo que também não surpreende o tenente-coronel António Costa Mota porque Gouveia e Melo é “muito inteligente” e está sempre a “avaliar permanentemente as situações”. 

E, neste caso, não só o capelão acabou por assumir que tinha errado, "retratando-se", mas também porque os “fuzileiros reagiram quase todos de uma forma brutal a esta questão da exoneração”. “Eles são extremamente unidos, coesos. Qualquer elemento deles é uma peça absolutamente vital, quase intocável e, caso se quebre, tem um efeito devastador quase em todo o coletivo.”

Ou seja, esta reintegração “beneficia a Marinha, apesar de tudo”, porque o capelão Licínio Luís é respeitado por todos e conta com mais de 20 anos de carreira como fuzileiro.

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