Figo: «Por circunstâncias da vida nunca tive a oportunidade de voltar ao Sporting»

23 jun, 11:33
Luís Figo em Alcochete

Internacional português recorda momentos marcantes da carreira e revela-se um apaixonado pelo mundo das artes

Das captações no Sporting à era dos Galáticos em Madrid. Da mão de Abel Xavier no Euro 2000 à desilusão, quatro anos depois, na final do Europeu disputado em Portugal. Luís Figo, Bola de Ouro no virar do milénio, recorda uma carreira de inegável sucesso e revela a sua admiração pelo mundo das artes. Um gosto natural, ou não tivesse também ele sido um artista com a bola nos pés.

Tudo começou mais a sério no Sporting, no qual teve de cumprir um período de testes, ainda em criança. «Decidi ir ao Sporting porque tinha o meu melhor amigo a jogar lá e também porque nessa altura falava-se que o Benfica escolhia muito mais jogadores fisicamente dotados, e eu era mais franzino nessa idade. Deu certo, mas não foi fácil», recordou Figo, numa entrevista ao canal de Youtube Bola Lá.

«Havia tantos miúdos… Faziam treinos de captação, punham-te a jogar 11 contra 11 e se tinhas a sorte de te destacar continuavas. Era quase um milagre», contou. Treinou, sem saber o seu destino no clube, durante sensivelmente um mês. «Nunca mais se decidiam. Vivia do outro lado do rio, com 11 ou 12 anos. Ter de fazer esse trajeto todos os dias, com a escola… Então decidi pedir ao treinador, que na altura era o Bernabéu, para me dizer se sim ou não. Ele confirmou que ia continuar, que ia ser inscrito e que podia falar com o diretor do Sporting para me ajudarem com o passe social e com o jantar no centro de estágios do Sporting», acrescentou.

Esse foi o primeiro passo de uma carreira que o levou aos maiores palcos do futebol mundial. Do Sporting saltou para o Barcelona, daí para o rival Real Madrid, antes de fechar a carreira no Inter Milão, em 2009.

«A minha vida desportiva e pessoal foi sempre decidida conforme as oportunidades. Por circunstâncias da vida, nunca tive a oportunidade de voltar ao Sporting. Era impossível, porque estava no auge da minha carreira, por aquilo que significava, pelo que custava, por tudo. Depois, se não tens essa possibilidade, ela nunca vai acontecer», explicou o antigo avançado, hoje com 52 anos.

Em Madrid, ajudou a dar forma à primeira versão dos Galáticos, ao lado de figuras como Roberto Carlos, Zinédine Zidane, David Beckham, Raúl González ou Ronaldo, o Fenómeno.

«É um privilégio, mas ao mesmo tempo uma responsabilidade. Coincidimos numa época e num projeto com bastantes grandes jogadores a nível mundial. Cada um tem o próprio ego e personalidade, mas não podemos esquecer que jogamos em equipa e que todos dependem de todos. Sempre tivemos bom ambiente. Ainda hoje temos todos uma boa relação. Isso foi fundamental para conseguirmos títulos», revelou o antigo camisola 10 do Real Madrid.

Internacional português em 127 ocasiões, com 32 golos apontados, Luís Figo viveu com a camisola da Seleção vários momentos marcantes. Em 2000 viu a final do Europeu fugir num penálti polémico, no prolongamento da eliminatória com a França.

«No campo, foi um sentimento de injustiça, independentemente se é ou não penálti. No momento não tinha sensação de penálti, mas sendo realista e vendo as imagens é penálti. Mas foi um sentimento de revolta, de injustiça, em que só queres “rebentar” com tudo. É normal, é uma deceção. Depois pensas: se fosse ao contrário, se calhar não apitavam penálti…», atirou.

Quatro anos depois, ficou ainda mais perto da glória europeia, quando Portugal perdeu, na final do torneio, com a Grécia, em pleno Estádio da Luz. «Não chegámos tão frescos fisicamente para conseguirmos ultrapassar as dificuldades da final», acredita o ex-jogador, que prefere focar-se nas memórias positivas que guarda do evento: «Um Europeu como o que vivemos em Portugal vai ser impossível de repetir, em termos da vivência. O país juntou-se à volta da Seleção nacional. Foi único, apesar de termos perdido».

Pelo meio, houve um Mundial no Japão e na Coreia do Sul, cujo «planeamento não foi o melhor», o que ajudou à eliminação da Seleção ainda na fase de grupos. «Estávamos no final de época. Tivemos de fazer estágio em Macau, um sítio muito húmido onde quase não podíamos treinar. Daí fomos para a Coreia (do Sul). Não tivemos uma preparação adequada e acabámos por pagar isso fazendo um Mundial pobre», notou.

Na mesma entrevista, Luís Figo revelou ser um amante do mundo das artes, paixão que cultiva desde os anos passados em Barcelona. «Em vez de comprar carros, comprava quadros», diz. E por falar em carros, ainda guarda o nostálgico Honda CRX. «Foi o meu segundo carro. São recordações de uma época. Vou vender o carro para quê?».

Luís Figo conquistou um total de 26 troféus ao longo da carreira, entre eles uma Liga dos Campeões, duas Supertaças Europeias, uma Taça das Taças e uma Taça Intercontinental. Venceu ainda a Bola de Ouro (2000) e o prémio de melhor jogador do mundo atribuído pela FIFA em 2001.

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