Trata-se de "um dos furacões mais intensos de que há registo" - ventos vão superar os 280 km/h
O furacão Melissa, que vai atingir a Jamaica e depois Cuba, é descrito pelo climatologista Mário Marques à CNN Portugal como “um dos furacões mais intensos de que há registo, eventualmente no top 10 em termos históricos”. Mantém a categoria 5 há mais de 48 horas e deve continuar nessa escala por mais 24 horas.
Segundo o especialista, o que torna o Melissa particularmente perigoso não é apenas a sua força mas “a sua progressão extremamente lenta”. Mário Marques explica que, “quando um furacão é mais intenso, a sua progressão é muito mais lenta” e essa lentidão fará com que o sistema permaneça muito mais tempo sobre o mesmo território, provocando chuvas intensas, ventos destrutivos, inundações prolongadas e consequentemente maior destruição.
O “olho do furacão vai passar mesmo sobre o centro da Jamaica” e, além dos ventos superiores a 280 km/h, o Melissa está a causar uma elevação do nível do mar “de quase três metros, sem contar com a ondulação de oito a nove metros”. Esta combinação provoca o chamado "galgamento marítimo", responsável por vastas inundações em zonas costeiras. “É uma situação extremamente perigosa”, sublinha Mário Marques.
O climatologista mostra-se preocupado com o facto de as autoridades não terem conseguido convencer as pessoas a deixarem as suas habitações e alerta que “isso aumenta a vulnerabilidade e o impacto sobre a população”. Mário Marques sublinha que as pessoas “devem ir para os abrigos indicados pelo governo, sair das zonas costeiras o mais rápido possível e procurar locais mais elevados e estruturas mais resistentes ao vento”, onde exista o essencial para suportar as quatro horas críticas de passagem do furacão.
A intensidade do Melissa “é como se se libertasse numa cadência de segundos uma dezena de bombas atómicas de Hiroshima”. O aumento da temperatura da água do mar faz com que o sistema encontre “muita energia associada e muita alimentação de vapor de água”, o que torna estes fenómenos mais intensos.
O sistema nasceu de “uma onda tropical vinda de África central” que, ao alcançar águas anormalmente quentes, à volta de 32 graus no sul das Caraíbas, acumulou muita energia e vapor de água - o que criou o ambiente perfeito para o seu crescimento exponencial. Mário Marques explica que o calor extremo do oceano serve de combustível para estas tempestades e que os furacões funcionam como “válvulas de escape” para libertar a energia acumulada.
Mário Marques recorda o furacão Katrina, de 2005, como o mais semelhante ao Melissa e refere que “o Katrina foi muito intenso, também categoria 5, e as águas do Golfo naquela altura estavam com uma anomalia muito positiva, perto dos 31 graus”. O especialista lembra ainda que algumas ilhas, como Porto Rico e a ilha de São Martinho, “foram devastadas por furacões de categoria 4 e 5 e ainda não recuperaram totalmente”.
Entre a Jamaica e Cuba, o furacão irá permanecer nessa altura na categoria quatro e só quando estiver a atravessar Cuba é que deverá enfraquecer para a categoria três ou dois, por isso “ainda vai afetar Cuba com um impacto significativo”.
Em Portugal, embora o país não esteja na rota destes sistemas, Mário Marques alerta que “o litoral é a área mais vulnerável” e que estamos “pouco preparados, não só em termos de previsão e acompanhamento, mas sobretudo na prevenção”.