Irão: Funerais de vítimas da repressão desencadeiam protestos contra o regime

Agência Lusa , DCT
18 nov 2022, 17:28
Protestos no Irão (ALIREZA MOHAMMADI / isna / AFP)

Segundo a IHR, na sequência dos protestos, que as autoridades iranianas consideram “motins”, as forças de segurança já prenderam mais de 15.000 manifestantes

Vários funerais de vítimas da repressão policial no Irão estão a desencadear manifestações espontâneas contra as autoridades de Teerão, onde são gritadas palavras de ordem hostis ao regime iraniano, reportam hoje diversos meios de comunicação social locais.

  Os protestos mais recentes ocorreram hoje na cidade de Izeh, na província do Kuzistão (sudoeste), após o funeral de uma criança, morta, segundo a família, pelas forças de segurança iranianas, indica a organização não-governamental Iran Human Rights (IHR), com sede em Oslo, e o portal ‘1500tasvir’, associado à oposição.

O Irão é palco de um movimento de protesto desencadeado a 16 de setembro pela morte de Mahsa Amini, uma jovem curda de 22 anos presa três dias antes pela polícia dos costumes acusada de ter violado o rígido código de vestuário da República Islâmica por utilizar incorretamente o ‘hijab’, o véu islâmico.

Segundo a IHR, na sequência dos protestos, que as autoridades iranianas consideram “motins”, as forças de segurança já prenderam mais de 15.000 manifestantes.

Hoje, com base em fotografias divulgadas pela agência noticiosa estatal Isna e em vídeos publicados nas redes sociais pelo IHR e pelo portal ‘1500tasvir’, dezenas de pessoas protestaram e gritaram palavras de ordem contra o regime de Teerão após o funeral de Kian Pirfalak, um menino de nove anos supostamente abatido pela polícia.

No vídeo divulgado pelo IHR, uma mulher retratada como a mãe da criança é ouvida a acusar as forças de segurança de matar Kian na quarta-feira. 

A imprensa oficial iraniana atribuiu o ataque a “terroristas”, que não identificou, em que dizem ter morrido sete pessoas.

“Ouçam-me para descobrir como o ataque aconteceu, porque eles mentem quando dizem que foi um ataque terrorista. Foram polícias à paisana que mataram o meu filho. Foi isso que aconteceu”, diz a mulher no vídeo. 

Segundo a imprensa estrangeira associada à oposição iraniana, além de Kian, um adolescente de 14 anos, Sepehr Maghsoudi, também foi morto no ataque a Izeh. 

“Morte a Khamenei”, gritaram manifestantes durante e depois do funeral de Kian, segundo se pode observar num outro vídeo publicado no portal ‘1500tasvir’, em mais uma referência ao 'Líder Supremo' da República Islâmica, o ayatollah Ali Khamenei. 

Os funerais dos manifestantes mortos na repressão dão, geralmente, origem a ações de protesto para denunciar a morte de Mahsa Amini e, mais abrangentemente, para atacar o poder. 

O governador da província de Kuzistão, Sadegh Khalilian, acusou “elementos estrangeiros”, que não identificou, de estarem por detrás do ataque de quarta-feira, segundo a agência noticiosa iraniana Fars, associada ao regime iraniano.

Nos últimos dias, centenas de pessoas têm-se manifestado em grande parte das cidades curdas do Irão em protestos de novo marcados por episódios de violência e de repressão, dois meses após a morte de uma jovem curda iraniana.

As manifestações coincidiram esta semana com o terceiro aniversário do chamado “novembro sangrento” de 2019, quando mais de 300 manifestantes, segundo a Amnistia Internacional (AI), foram mortos durante a repressão de uma onda de contestação no Irão motivada pelo aumento do preço dos combustíveis.

Segundo um balanço emitido quarta-feira pela IHR, pelo menos 342 pessoas foram mortas na repressão do movimento de contestação desencadeado em 16 de setembro passado.

As autoridades qualificam os protestos que abalam o país como “motins”, acusando os “inimigos” do Irão de procurar desestabilizar a República Islâmica.

Desde domingo, a justiça iraniana já condenou à morte cinco pessoas relacionadas com os “motins”.

A Amnistia Internacional denunciou “a assustadora utilização da pena de morte para reprimir o levantamento popular com acrescida brutalidade”.

Quinta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Hossein Amir-Abollahian, acusou Israel e os serviços de informações ocidentais de “planificarem” uma guerra civil no Irão.

No mesmo dia, o general Hossein Salami, chefe dos Guardas da Revolução, o exército ideológico do Irão, acusou, por sua vez, “os Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, França, Israel, Arábia Saudita e seis aliados” de uma “enorme conspiração contra a nação iraniana”.

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