Sismo no Japão: quatro mortos, uma centena de feridos e dois grandes sustos

17 mar 2022, 07:01
Sismo no Japão (Foto: AP/Kyodo News)

No terramoto mais mais grave desde 2011, mais de dois milhões ficaram sem eletricidade, um comboio-bala descarrilou e houve um sobressalto na central nuclear de Fukushima. Alerta de tsunami já foi levantado, mas há o risco de novos tremores de terra grandes nos próximos dias

O primeiro-ministro japonês comunicou esta manhã ao Parlamento que quatro pessoas morreram e outras 97 ficaram feridas em consequência do terramoto que atingiu o Japão na noite de quarta-feira (durante a tarde em Portugal). O sismo teve uma intensidade de 7,4 na escala de Richter, um valor que foi atualizado na manhã de quinta-feira, depois de inicialmente ter sido apontada uma intensidade de 7,3. Dois minutos antes deste sismo, ocorreu um outro, de 6,1. No total, a experiência do abalo de terra acabou por se prolongar ao longo de mais de três minutos.

O segundo sismo da noite passada foi o mais violento desde 2011, quando um terramoto de 9,1 e um tsunami provocaram uma catástrofe na central nuclear de Fukushima e cerca de 18 mil mortos. O sismo voltou a ter epicentro no mar ao largo da prefeitura de Fukushima, a 57 quilómetros de profundidade. As regiões mais afetadas foram Fukushima e Miyagi, na costa nordeste do Japão, mas o abalo foi sentido em quase todo o país. Foi nessas duas prefeituras que se registou a maioria das vítimas, bem como os maiores estragos materiais. Quase todas as vítimas são pessoas com ferimentos ligeiros provocados pela queda de objetos, vidros partidos ou incêndios, mas também idosos que caíram devido ao abalo da terra. 

Na escala japonesa que mede a intensidade dos sismos - cujo valor máximo é 7 - o de ontem chegou ao nível 6 (o de 2011 atingiu o valor máximo da escala). A intensidade 6 significa que algumas pessoas não conseguem manter-se em pé nem andar sem ser de gatas e que objetos podem ser atirados pelo ar.
Apesar da construção de edifícios no Japão seguir normas muito rigorosas para mitigar o impacto de grandes terramotos, a partir de certo nível a queda de objetos é comum, como demonstram, por exemplo, as imagens de videovigilância de diversos supermercados, com prateleiras caídas e mercadorias espalhadas pelo chão.

Risco de réplicas ou novos sismos

As autoridades japonesas alertaram, numa primeira conferência de imprensa cerca de uma hora após o sismo, que podem ocorrer réplicas ou novos sismos de intensidade semelhante nos próximos dias. “Temos de estar alerta”, avisou Hirokazu Matsuno, governante que ocupa um cargo semelhante ao nosso ministro da presidência do Conselho de Ministros. "Há a possibilidade de que outro terramoto tão forte como um sismo de grau 6 [na escala japonesa] possa ocorrer até à próxima semana".

Conforme este aviso era feito, sentiram-se nalgumas regiões pequenas réplicas, que não passaram do grau 4 na escala sísmica japonesa. "Casos do passado mostram que há 10% a 20% de probabilidades de outro terramoto tão forte como um sismo de grau 6 atingir a mesma área na próxima semana", confirmou Masaki Nakamura, responsável da Agência Meteorológica do Japão, também em conferência de imprensa. O alerta vale para os próximos dez dias, mas o período considerado mais crítico é hoje e amanhã. A atenção a possíveis novos abalos centra-se nas prefeituras de Fukushima, Miyagi e Yamagata.

Susto no comboio-bala e na central nuclear

O sismo mais forte ocorreu às 23:36 (14:36 em Portugal), e foi de imediato emitido um alerta de risco de tsunami nas prefeituras de Fukushima e Miyagi. As pessoas foram aconselhadas a afastar-se da beira-mar, e os habitantes de locais considerados críticos foram de imediato removidos das suas casas. 
O alerta de maremoto acabou por ser retirado ao princípio do dia de quinta-feira, sem que se registassem ondas de tsnunami superiores a 30 centímetros. O alerta apontava para o risco de ondas de um metro.

Foi também em Fukushima que se verificaram as consequências deste sismo que despertaram maior atenção: o descarrilamento de um comboio-bala e uma anomalia numa central nuclear. O comboio-bala que fazia a ligação entre Tóquio e Fukushima ficou com uma das carruagens fora dos carris. Mas sem consequências de maior: não há relato de feridos entre a centena de pessoas que viajava nesse Shinkansen, e que tiveram de ser retiradas pelo seu pé, com a ajuda dos bombeiros e da proteção civil.  Os comboios-bala têm um mecanismo de travagem de emergência que é ativado pelo sistema de alerta precoce em caso de terramoto. O comboio que fazia a viagem para Fukushima ficou parado num viaduto, na prefeitura de Miyagi.

Foto: AP/Kyodo News

Outro sobressalto ocorreu na central nuclear de Fukushima, que apesar de ter sido desativada há onze anos continua a ter combustível nuclear e material que vazou no incidente de 2011. As duas centrais do complexo estão a ser vistoriadas, mas não há indícios de radioatividade e as anomalias detetadas após o tremor de terra já terão sido resolvidas. A Autoridade de Energia Nuclear do Japão deu conta de problemas nos sistemas de refrigeração. Na central nuclear Fukushima 1, o arrefecimento de um dos reatores foi suspenso após a descoberta de anomalias, mas a Tokyo Electric Power Company retomou o sistema ao início de quinta-feira. A situação envolvia um tanque ligado às piscinas de combustível usado na central. Após parar a bombagem da água, a TEPCO verificou o tanque e retomou o sistema de arrefecimento por volta das 7:40 da manhã (hora do Japão).

No reactor n.º 5, o sistema de arrefecimento parou automaticamente pouco depois do terramoto, e os alarmes de incêndio foram ativados no edifício da turbina. Mas não foram detetados problemas e o sistema de arrefecimento foi reiniciado.
Na central Fukushima 2, duas das bombas de arrefecimento também pararam temporariamente, mas entretanto voltaram a funcionar. O primeiro-ministro Fumio Kishida garantiu já esta manhã que “não foi detetado qualquer problema nos dados que recebemos até agora sobre centrais nucleares". 
Na central nuclear de Onagawa, na província de Miyagi, que também foi desativada após o desastre de 2011, também não foram detetados problemas.

Milhares ainda sem eletricidade

O corte de energia elétrica foi uma das consequências imediatas do terramoto. Toda a faixa do nordeste do Japão ficou na quase completa escuridão. Segundo a maior companhia elétrica do Japão, cerca de 2,2 milhões de habitações ficaram às escuras, das quais umas 700 mil apenas na região da grande Tóquio. As autoridades apelaram à população para que poupasse tanto quanto possível a bateria dos telemóveis, para precaver situações de emergência caso a reposição da energia demorasse. Porém, em boa parte dos casos o fornecimento de energia foi retomado nas horas seguintes ao terramoto. 

No entanto, a Reuters dá conta de que dezenas de milhares de famílias japonesas continuavam sem eletricidade na manhã de quinta-feira. A última avaliação apontava para mais de 30 casas ainda sem energia elétrica. Um problema que também está a afetar empresas e fábricas. Companhias como a Toyota Motor Corp e o fabricante de chips Renesas Electronics Corp estão a avaliar o impacto do terramoto na respetiva produção.

Ásia

Mais Ásia

Patrocinados