Frederico Pinheiro explica idas à noite ao Ministério das Infraestruturas: "Sempre deixei claro que tinha um horário flexível"

19 mai 2023, 21:14

Em entrevista exclusiva no Jornal Nacional da TVI, do mesmo grupo da CNN Portugal, o ex-adjunto de Galamba diz que nunca lhe foi transmitida qualquer desconfiança do ministro por ir ao local de trabalho em horas consideradas "impróprias". E diz que há matéria jurídica para avançar com uma queixa-crime por difamação contra o primeiro-ministro e o ministro das Infraestruturas, mas ainda não decidiu se irá para tribunal

Frederico Pinheiro, ex-adjunto de João Galamba no Ministério das Infraestruturas, admite que está a ponderar avançar para tribunal contra o primeiro-ministro e ministro das Infraestruturas, por difamação. Em entrevista exclusiva no Jornal Nacional da TVI (do mesmo grupo da CNN Portugal), Frederico Pinheiro garante também que os superiores hierárquicos estavam ao corrente de que frequentava o local de trabalho ao final do dia e durante a noite, e que nunca lhe foi colocado qualquer obstáculo.

O ex-adjunto de João Galamba, que o ministro descreveu como um espião - por consultar documentos e tirar fotocópias a horas consideradas "impróprias" - garante que tinha um horário flexível porque, desde que assumiu funções no Governo, sempre procurou conciliar a vida pessoal com a profissional. 

"Comecei a trabalhar no Governo há seis anos, foi na altura, não por acaso, em que tive o meu primeiro filho, e desde o início que foi importante para mim conciliar as minhas obrigações laborais com as minhas obrigações familiares", diz, explicando, por exemplo, que saía mais cedo para ir buscar os filhos à escola ou participar com eles em atividades lúdicas, regressando ao trabalho ao final do dia. E acrescenta que, por também ser treinador de andebol, duas vezes por semana terminava os treinos às 23:00 e, muitas vezes, deslocava-se ainda ao Ministério para continuar a trabalhar. 

Frederico Pinheiro diz que João Galamba sabia dos seus horários e que nunca lhe foi transmitida qualquer desconfiança. "Nunca escondi, sempre deixei claro que tinha um horário flexível", reforça. "Sublinho e reafirmo tudo o que disse na comissão parlamentar de inquérito. Há uma tentativa de transformar o agredido em agressor, isso não aconteceu e espero que tudo seja elucidado nas instâncias judiciais", acrescenta ainda.

Questionado sobre se tenciona avançar em tribunal contra o primeiro-ministro e o ministro das Infraestruturas, responde que ainda está a ponderar e sublinha que se trata de uma decisão pessoal, uma vez que considera que "existe matéria jurídica para se avançar com uma queixa-crime".

"Tudo isto depende de uma decisão pessoal. Estamos a falar de processos muito morosos, muito intensos e muito complexos", admite, acrescentando que ainda não tomou, por esta altura, qualquer decisão definitiva. "Quando refiro publicamente, na comissão e nesta entrevista, que fui difamado, tenho noção de que a difamação é um crime", sublinha. 

"Não houve ameaça nenhuma da minha parte"

Frederico Pinheiro diz-se ainda surpreendido com as declarações do ministro das Infraestruturas sobre as ameaças que lhe teria feito. "O senhor ministro não está a dizer a verdade, não houve nenhuma ameaça da minha parte. O senhor ministro das Infraestruturas ameaçou-me", garante, acrescentando também que faz parte de uma "narrativa falsa" a alegação de que estaria exaltado quando entrou no Ministério para recuperar o computador. "Não estava exaltado, não foi algo que tivesse alterado o meu estado de espírito de forma significativa", garante, mesmo depois de ter recebido um telefonema de Galamba a dizer-lhe que o iria exonerar. 

"Existe a tal narrativa, que está a ser montada, de que eu recebo um telefonema, que fico extremamente exaltado e decido intempestivamente dirigir-me ao Ministério recolher os meus pertences e, quando chego lá, faço uma série de agressões. Isso não ocorreu, não foi isso que aconteceu. Eu tomo uma decisão racional, porque estava a caminho de casa e passo no Ministério", recorda. "Nunca recebi uma indicação expressa para não entrar no Ministério das Infraestuturas", acrescenta, dizendo que, na noite em que foi buscar o computador, o segurança viu-o entrar na garagem e reagiu de "forma totalmente normal". 

Confrontado com esse episódio, da noite em que voltou ao Ministério para recuperar o computador - que depois havia de entregar ao SIS - diz que há uma história colocada a circular. E comenta a audição na comissão parlamentar de inquérito de Eugénia Correia, chefe de gabinete de João Galamba, que admitiu ter tentado ficar com a sua mochila. "Eu tentei proteger a minha mochila", admite. "Mas há aqui um dado novo", acrescenta, dizendo que nunca tinha sido referida a iniciativa "destas pessoas" que interagiram com ele para lhe "roubarem" a mochila. E insinua: "Quatro pessoas atirarem-se à minha mochila e ninguém me tocar..."

O ex-adjunto de Galamba frisa também que nunca houve roubo do computador, que foi buscar para fazer cópia dos documentos pessoais - revela que fizera a última cópia há cerca de um ano - e que também não houve vidros partidos no Ministério. Aponta ainda outra contradição: "Nunca houve utilização da força para me impedir de sair do Ministério", garante.

"Centenas de interações de apoio"

Frederico Pinheiro diz também que considera "estranho" que tenham sido espoletados meios da Polícia Judiciária e do SIS para recuperar o computador portátil quando ele já se oferecera para o entregar voluntariamente. "Se qualquer cidadão anónimo é contactado pelos serviços secretos a meio da noite, obviamente que se sente intimidado", considera. Declara que quis entregar o computador na presença de uma testemunha, uma procuradora que é sua familiar, mas que foi pressionado e se sentiu ameaçado pelo agente dos serviços de informação. "Não utilizo as palavras de forma leve. Eu peso e pondero tudo o que digo. Se referi na comissão que me senti ameaçado, intimidado, pelo SIS, obviamente que sublinho isso e tenho substância para o afirmar", defende. 

O ex-adjunto de Galamba garante também que ninguém no Ministério das Infraestruturas estava credenciado para aceder a informação confidencial e repete que os documentos classificados que tinha no computador o tinham sido por sua própria sugestão. "Esses documentos estavam, até à minha saída, no arquivo do Ministério, que é livremente acedido por todos os trabalhadores", refere.

Sobre as reuniões com a antiga CEO da TAP, que João Galamba garantiu serem normais, diz que não se recorda de participar "em reuniões deste género" e que foi apanhado de surpresa pelo ministro quando, a 24 de abril, lhe solicitou notas da reunião do início do mês, que diz ter comunicado oralmente.

Frederico Pinheiro aponta ainda que, "no caso do SIS, ou outras situações em que a montagem de toda esta história depende de pessoas exteriores ao gabinete, assistimos a contradições atrás de contradições", voltando a dizer que espera que tudo seja esclarecido "nas instâncias judiciais apropriadas", ainda que tenha afirmado antes que não tomou, até agora, a decisão se avançará ou não para a Justiça.

Questionado sobre a reação das pessoas com quem se cruza na rua, Frederico Pinheiro diz que não deixou de fazer a sua vida normal e que teve mesmo "centenas de interações de apoio" vindas de pessoas que não conhece.

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