Greve, falta de combustível e corrida às bombas. O que se passa nas refinarias em França

13 out 2022, 11:26

Nas refinarias da TotalEnergies e da ExxonMobil, franceses recusam trabalhar e reivindicam salários mais altos e partilha de lucros. Negociações com as empresas estão num impasse e o sindicato ameaça mesmo com uma greve geral, depois de o governo ter feito uma requisição civil para assegurar abastecimento de combustível

Os trabalhadores de seis das sete refinarias francesas estão em greve e o combustível falta em todo o país: nas últimas semanas, os automobilistas têm feito filas nos postos de combustível, confrontados com a possibilidade de não poderem abastecer. Ao final da tarde de quarta-feira, segundo o Le Figaro, 30,8% dos postos estavam com dificuldades em oferecer pelo menos um tipo de combustível, ainda que Emmanuel Macron tenha garantido que a situação vai melhorar na próxima semana.

Para se certificar de que não há ruturas no abastecimento - e que os franceses deixam de acorrer às bombas em pânico perante a possibilidade da falta de combustível - o Executivo de França decretou uma requisição civil de pessoal essencial, visando quatro funcionários da refinaria da ExxonMobil de Port-Jérôme, em Notre-Dame-de-Gravenchon, na Normandia. O Ministério da Transição Energética revelou que dois funcionários foram requisitados para quarta-feira e outros dois para esta quinta-feira.

Uma "decisão escandalosa", disse o líder da CGT, o sindicato que convocou as greves e que tem reivindicado aumentos salariais e partilha de lucros dos dois grandes grupos petrolíferos com os trabalhadores das refinarias. Philippe Martinez já admitiu que, perante a requisição de pessoal essencial, o sindicato poderá responder com uma mobilização geral e agendar para as próximas semanas uma greve comum a todos os setores. 

Os funcionários obrigados a apresentar-se ao trabalho pelo governo não vão assegurar as operações da refinaria e produção de combustível, mas garantir, por agora, a expedição dos produtos petrolíferos através de oleoduto para a região de Paris. As paralisações e manutenção não planeada, segundo a agência Reuters, reduziram em mais de 60% a capacidade das refinarias francesas.

Melhores salários e partilha de lucros

As greves convocadas nas últimas semanas abrangem os funcionários de duas petrolíferas: a francesa TotalEnergies e a norte-americana ExxonMobil. Segundo o Le Monde, os grevistas da TotalEnergies reclamam uma subida dos salários em 10%: 7% para compensar o aumento da inflação e 3% de partilha de lucros do grupo. Na ExxonMobil, que em França se associou à Esso, os funcionários pedem aumentos de 7,5% nos salários e um bónus de 6.000 euros resultante da redistribuição de lucros. 

Em entrevista na France 2, na noite de quarta-feira, Emmanuel Macron previu um regresso à normalidade "no decorrer da semana que vem", tendo apelado à "responsabilidade" de empresas e forças sindicais. Porém, também na noite de ontem, uma nova ronda de negociações na TotalEnergies falhou. A ministra da Transição Energética, Agnès Pannier-Runacher, admitiu já na manhã desta quinta-feira que, se não houver avanços, o governo assumirá as suas "responsabilidades", levantando a ameaça de uma nova requisição civil para "fazer cessar uma situação que pesa hoje aos franceses", disse à estação de rádio RMC. "Se for preciso, tomaremos medidas para desbloquear o abastecimento a partir do depósito de Dunquerque", salientou Pannier-Runacher.

A imprensa francesa adianta entretanto que o governo de Élisabeth Borne vai mesmo avançar com a requisição civil de seis trabalhadores deste depósito, que terão obrigatoriedade de comparecer no posto de trabalho a partir das 14:00 desta quinta-feira e até às 06:00 de sexta-feira.

Em comunicado emitido já nesta quinta-feira, a TotalEnergies tornou pública a proposta de atribuição de um bónus correspondente a um mês de salário a todos os funcionários a nível mundial, bem como a subida da remuneração em 2023 com base na inflação deste ano, lamentando que não tenha sido possível chegar a acordo com a delegação sindical da CGT. A empresa parece ter cedido às pressões, nomeadamente do governo francês: Bruno Le Maire, o ministro das Finanças, dizia já esta quinta-feira, em entrevista na estação de televisão RTL, que "é evidente" que a TotalEnergies tem a capacidade de aumentar salários e que, "evidentemente o deve fazer".

A declaração de Le Maire foi corroborada também pela ministra da Transição Energética que, minutos mais tarde, na já referida entrevista na RMC, dizia que a TotalEnergies "deve aumentar os salários", dirigindo mesmo um apelo à empresa: "A inflação fez com que os assalariados precisem de ser aumentados hoje", afirmou Agnès Pannier-Runacher.

Europa

Mais Europa

Patrocinados