Nome no mínimo surpreendente, já que acabou de ser o próprio a causar a mais recente crise política em França. Primeiras reações também não dão grande esperança à estabilidade
Não é mentira, é mesmo verdade. Sébastien Lecornu foi o nome indicado esta sexta-feira por Emmanuel Macron para novo primeiro-ministro de França, precisamente quando se começavam a esgotar as 48 horas dadas pelo próprio presidente.
O novo primeiro-ministro - também já era o antigo -, espera conseguir aquecer a cadeira desta vez, o que não aconteceu no último mês, em que nem conseguiu apresentar um governo de forma pacífica. Assim, o último nome a rodar a cadeira do Hôtel de Matignon, de onde a crise política francesa ameaça sair disparada para o Palácio do Eliseu, volta a ser o escolhido pelo presidente.
Talvez surpreendido com a decisão, Sébastien Lecornu apressou-se a aceitar a nova indicação, sublinhando que o fazia "por dever", sublinhando uma "missão" que lhe é confiada por Emmanuel Macron.
J’accepte - par devoir - la mission qui m’est confiée par le Président de la République de tout faire pour donner un budget à la France pour la fin de l’année et de répondre aux problèmes de la vie quotidienne de nos compatriotes.
Il faut mettre un terme à cette crise politique…
— Sébastien Lecornu (@SebLecornu) October 10, 2025
Quanto a Emmanuel Macron, que mantém uma posição de firmeza, garantiu que vai dar "carta branca" ao novo primeiro-ministro, que tem pela frente a hercúlea tarefa de elaborar um orçamento que possa ser aprovado por um parlamento brutalmente fragmentado.
E se o desagrado já era expectável entre a oposição, o partido França Insubmissa (LFI), o terceiro mais votado nas legislativas e o segundo maior da oposição, apenas atrás do Reagrupamento Nacional (RN) de Jordan Bardella e Marine Le Pen, já veio sublinhar que dificilmente será este o caminho. Em declarações à BFMTV, Éric Coquerel, que representa o partido da esquerda, anunciou uma moção de censura apenas alguns minutos depois. Mais tarde, o líder do LFI, Manuel Bompard, confirmava que esta escolha era, no entender do partido, uma "chapada na cara dos franceses".
Pelo mesmo caminho vai Jordan Bardella, o líder do maior partido da oposição, que utilizou a rede social X para dizer que esta decisão é uma "má piada, uma humilhação para o povo francês". "O RN vai obviamente censurar esta coligação condenada, cuja única razão para existir é o medo da dissolução".
Le gouvernement Lecornu II, nommé par un Emmanuel Macron plus que jamais isolé et déconnecté à l’Élysée, est une mauvaise plaisanterie, une honte démocratique et une humiliation pour les Français.
— Jordan Bardella (@J_Bardella) October 10, 2025
Le Rassemblement National censurera bien sûr immédiatement cet attelage sans aucun…
Não se percebeu se o líder da extrema-direita vai avançar ele próprio com uma moção de censura, mas parece claro que vai votar a favor de uma, que vai inevitavelmente surgir, até porque o Partido Comunista também já veio, tal como o LFI, confirmar esse passo.
De crise em crise
Se Sébastien Lecornu voltar a não conseguir convencer a oposição, o problema passa a ser única e exclusivamente de Emmanuel Macron, cuja cabeça já é pedida até por antigos aliados - Gabriel Attal, um dos participantes da roda viva, foi um dos últimos a dizer que é preciso eleições presidenciais.
Antes do ex e agora novo primeiro-ministro tentaram Élisabeth Borne, o primeiro nome atirado por Emmanuel Macron para chefiar o governo no seu segundo mandato. Durou pouco mais de ano e meio e foi obrigada a sair no início de 2024, depois de muita controvérsia com tentativas de reformar o sistema de pensões, um dos assuntos mais caros para os eleitores franceses.
Seguiu-se Gabriel Attal, menino-prodígio da política francesa que não resistiu à debacle nas eleições europeias, que deram a vitória à extrema-direita de Marine Le Pen. Durou meio ano no cargo.
Tudo menos menino, Michel Barnier assumiu o cargo para uma promessa de estabilidade que nem sequer chegou a iludir os franceses. Foram três meses à frente de um governo sempre frágil, como foi o seguinte, de François Bayrou, mesmo que este útlimo tenha durado 10 meses, o que é um luxo face aos dois antecessores e ao homem que lhe sucedeu.
Agora, Emmanuel Macron tenta sobreviver na política francesa, mas dificilmente conseguirá agradar a opositores suficientes para ter vida fácil, já que está encurralado pela extrema-direita e pela extrema-esquerda. Ainda para mais com um nome que já todos conhecem.