Macron já escolheu o novo primeiro-ministro. Convenceu a direita, falta-lhe convencer as esquerdas

3 set, 13:33
Emmanuel Macron (AP)

Quase caídos os nomes do Thierry Beaude e do outrora primeiro-ministro socialista Bernard Cazeneuve, Emmanuel Macron, com a governação em “banho maria” desde julho, pondera lançar a carta a Xavier Bertrand (um antigo crítico seu) para a mesa. Os Republicanos concordam que avance um homem seu, mas pedem garantias de que não é um primeiro-ministro a prazo. Emmanuel Macron reunir-se-á agora com outros partidos para garantir (e não deve ser fácil) essa estabilidade

O presidente francês, Emmanuel Macron, pondera nomear Xavier Bertrand (um antigo ministro da Saúde e do Trabalho, entre 2005 e 2012) como novo primeiro-ministro, avança a imprensa francesa. Bertrand pertence ao partido Republicanos, da direita mais conservadora e liderado por Éric Ciotti. 

Esta opção por Bertrand será, naturalmente, um piscar de olho a toda a direita francesa, uma vez que Emmanuel Macron foi, também ele, um derrotado nas eleições de julho — não tendo o seu “delfim” e jovem primeiro-ministro Gabriel Attal conseguido um bom resultado, acabando muito atrás da coligação das esquerdas, a Nova Frente Popular, e até do partido de Marine Le Pen, o Reagrupamento Nacional. 

A chamada “barragem republicana” derrotou Le Pen e o candidato desta, Jordan Bardella, mas sem nenhuma maioria, pelo que Macron acabaria por reconduzir, temporariamente e em nome da “estabilidade”, — e também da serenidade na realização dos Jogos Olímpicos — o demissionário Attal no cargo.

Esta terça-feira Macron reuniu-se, por telefone, com Gérard Larcher, presidente do Senado, e um barão dos Republicanos, igualmente com Laurent Wauquiez, líder dos Republicanos na Assembleia Nacional, e Bruno Retailleau, o presidente dos Republicanos no Senado. Outros nomes foram, antes, ventilados, como os de Thierry Beaudet, um homem da sociedade civil, presidente do Conselho Económico, Social e Ambiental, e Bernard Cazeneuve, ex-primeiro-ministro socialista. Nenhum parecia reunir consenso alargado, à esquerda e à direita, e é Xavier Bertrand, opção talvez mais conservadora, quem parte na frente, tendo os três homens-fortes dos Republicanos dado aval a Macron. 

Um aval que impõe também condições e a necessidade de garantias: os três, escreve o jornal Le Parisien, exigem de Macron que garanta a viabilidade da nomeação, ou seja, que contacte todos os partidos na arrumação parlamentar sem maioria em França, não correndo o governo o risco de cair perante futuras moções de censura. E também pretende, não de Macron mas do próprio Bertrand, escreve o mesmo jornal, que, sendo de direita e da sua direita, não pondere avançar com políticas para agradar à esquerda — que para todos os efeitos venceu as eleições (embora a coligação seja um saco de gatos, atiram os críticos). 

Um dado para se entender que Macron está entusiasmado com a possibilidade da nomeação de Xavier Bertrand é que o Eliseu anunciou que o presidente irá reunir-se na tarde desta terça-feira com “outros grupos políticos e partidos”, certamente na procura do que sempre defendeu: estabilidade governativa. Se a vai ter, é a pergunta de um milhão de euros. 

Os analistas franceses não põem as mãos no fogo pela resposta da coligação da Nova Frente Popular (que une socialistas, comunistas, ecologistas e o França Insubmissa), embora muitos admitam que aquela força cumpriu o seu papel, de derrotar Le Pen, e não parece ter vontade de se recoligar para governar — havendo até hoje mais discórdia do que na altura das eleições. 

Sobre Macron nomear Bertrand, a verdade é que a relação entre ambos nunca foi amigável, mas antes de confronto. Em 2022, o ex-governante pediu apoio ao ex-presidente Nicolas Sarkozy e, feito o beija-mão, anunciou que concorreria contra Macron nas presidenciais seguintes, em 2024. Bertrand descrevia Emmanuel Macron como um "liberal anglo-saxónico” e um “banqueiro de negócios” — numa referência ao passado de Macron no Rothschild —, descrevendo-o ainda como um líder fraco nas questões da imigração e segurança. “Se Macron fosse de direita, teria feito da segurança uma prioridade. Não é. Eu é que sou o representante de uma direita social e popular”, concluiu Bertrand.

Relacionados

Europa

Mais Europa

Patrocinados