França volta a ser palco de mobilizações nacionais contra a alteração do sistema de pensões. Sindicatos prometem seguir com a contestação nas ruas, mas sem cair "na violência e na radicalidade"
Cerca de um milhão de pessoas manifestaram-se este sábado em França contra a reforma do sistema de pensões do governo, estimaram os organizadores do protesto, 300 mil das quais em Paris, depois de o presidente, Emmanuel Macron, ter anunciado a intenção de aumentar a idade da reforma de 62 para 64 anos.
As autoridades policiais disseram que na capital francesa foram detidas 26 pessoas e que, entre os manifestantes, se encontravam encapuzados que protagonizaram ataques a diversos estabelecimentos comerciais.
Esta jornada de protesto, a sétima mobilização semanal consecutiva, foi convocada pelos principais sindicatos franceses, liderados pela Confederação Geral de Trabalhadores (CGT), e contou com a participação do líder da França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, que esteve presente na manifestação de Marselha, que juntou cerca de sete mil pessoas.
Sindicatos pedem resposta a Macron
“O que é preciso fazer mais?”, questionou-se Philippe Martínez, líder da confederação sindical CGT, na frente da manifestação que percorre Paris esta tarde, naquela que já é a sétima jornada de grandes mobilizações nacionais desde janeiro contra a alteração do sistema de reformas. Martínez foi mais além e desafiou o governo de Emmanuel Macron a consultar os cidadãos, se está tão seguro que a sua iniciativa é a necessária e a única possível.
“Hoje a única coisa que podemos dizer é: se [Macron] está tão seguro de si mesmo, que consulte os franceses”, disse o líder da CGT, em resposta à postura do presidente francês face à contestação nas ruas dos sindicatos, que esta semana pediram, sem êxito, ser recebidos no Eliseu. O responsável acusou ainda Macron de "brincar com o fogo" e de provocação.
Também Laurent Berger, secretário-geral da Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT) afirmou, na manifestação de hoje, que os que dirigem o país “devem abandonar esta forma de negação do movimento social”, apelando também a uma consulta aos franceses. “De tanto se brincar com o fogo, fazem-se disparates”, advertiu o sindicalista.
Os sindicatos adiantaram que esperam uma grande jornada de luta, porque o apoio ao movimento social contra a reformas das pensões é, nas palavras de Martínez, “mais do que absoluto”. Disseram também que, apesar de o processo parlamentar prosseguir de forma acelerada, a batalha ainda não está perdida e prometeram seguir com a contestação nas ruas, mas sem cair “na violência e na radicalidade”, garantiu Berger.
A principal alteração proposta por Macron passa por aumentar a idade mínima da aposentação dos 62 para os 64 anos, algo a que os sindicatos se opõem frontalmente. O principal argumento do executivo é garantir o equilíbrio financeiro do sistema de pensões até 2030, afirmando que, se nada for feito, dentro de 10 anos o défice será de cerca de 150 milhões de euros.
O projeto de lei está a ser debatido no Senado, onde o ministro do Trabalho francês, Olivier Dussopt, anunciou na sexta-feira o recurso a um mecanismo constitucional para ultrapassar as centenas de emendas apresentadas pela oposição com o objetivo de bloquear a tramitação e forçar um voto sobre o conjunto do texto.
Na prática, o recurso ao artigo constitucional vai permitir o voto na câmara alta — onde a direita tem maioria — do texto que apenas vai incluir as emendas propostas pelo executivo de Macron. Com isto, evita-se o cenário de chegar ao final do prazo dado ao Senado, que termina à meia-noite de domingo, para que a câmara alta não pudesse pronunciar-se sobre a reforma.
A esquerda na oposição criticou duramente esta medida, assim como os sindicatos.