Sindicatos esperam ter mais de dois milhões de pessoas em manifestações em todo o país a protestar contra o aumento da idade de reforma. Trabalhadores das refinarias juntam-se à greve e querem impedir o abastecimento de combustíveis
Comboios parados, metro em Paris com "circulação restrita", principalmente nas horas de ponta, redução de cerca de 20% a 30% nos voos civis, mais de um terço das escolas fechadas, indústrias paradas, lixo por recolher, estradas bloqueadas por camionistas. A greve geral convocada para esta terça-feira em França, devido à reforma do sistema de pensões e ao aumento da idade de reforma dos 62 para os 64 anos, quer parar o país - e, de acordo com os sindicatos, deverá afetar inclusivamente o setor da energia e o abastecimento de combustíveis.
A CGT - Confederação Geral do Trabalho admitiu que o objetivo era “paralisar toda a economia”, ao nível da produção, distribuição e importação de combustíveis: "Todas as refinarias" em França estão envolvidas, incluindo as administradas pela TotalEnergies e Esso-ExxonMobil, dizem os sindicatos.
Este é o sexto dia de luta desde meados de janeiro. Segundo a polícia, são esperados entre 1,1 e 1,4 milhão de manifestantes nas ruas, incluindo 60 mil a 90 mil em Paris. Ao todo, há 265 manifestações marcadas pelo país, com destaque para Nantes, Marselha, Lyon e Rennes. Os sindicatos esperam mobilizar nesta terça-feira mais de dois milhões de pessoas - querem ainda mais pessoas do que no dia 31 de janeiro, quando a polícia contabilizou 1,27 milhões de manifestantes e os sindicatos afirmam que foram mais de 2,5 milhões a sair à rua.
Espera-se que a interrupção seja maior e dure mais tempo, pois os sindicatos ferroviários convocaram greves contínuas e indefinidas, que podem afetar todos os comboios nacionais, bem como as rotas internacionais, incluindo o Eurostar. O ministro dos Transportes, Clément Beaune, disse à estação de televisão France 3 que este seria “um dos dias de greve mais difíceis” para os viajantes desde o início dos protestos.
A greve alastra-se à indústria metalúrgica (siderugias, fábricas de automóveis e aeronáutica). No setor energético, a greve começou na sexta-feira, o que levou a uma descida imediata na produção elétrica equivalente a ter sido desligado um reator nuclear. Três dos quatro terminais de GNL que importam gás natural liquefeito (GNL) para França estão encerrados. Nas refinarias, os embarques de combustível foram suspensos na manhã de terça-feira, informou a CGT-Chemistry à Agence France-Presse (AFP). “A greve começou em todos os locais, (…) com proporções muito variáveis de grevistas, mas com embarques suspensos na saída de todas as refinarias esta manhã”, declarou Eric Selli, representante do sindicato. "Não há mais remessas de produtos das refinarias francesas", sublinhou.
Apesar dos protestos, o Governo não tem dado sinais de que vá recuar nas suas pretensões. Os sindicatos e a esquerda sabem que o tempo está a esgotar-se antes que a reforma se torne uma realidade - o que é mais uma razão para aumentar a pressão agora.
O presidente Macron considerou esta reforma do sistema de pensões "essencial" por causa dos défices previstos para o sistema de providência da França nos próximos 25 anos, de acordo com a análise do Conselho Consultivo de Pensões independente. Além de aumentar a idade da reforma em dois anos, o governo diz que os trabalhadores terão de contribuir ao longo de 43 anos para o fundo de pensões para terem direito a pensão completa.