Solução tinha sido apresentada pelo próprio primeiro-ministro no dia das eleições
O presidente francês aceitou, esta terça-feira, a demissão do primeiro-ministro, Gabriel Attal, que vai continuar a assegurar os "assuntos correntes".
É a primeira grande consequência das eleições francesas ocorridas há uma semana e meia, e na qual a Nova Frente Popular, composta por um bloco de partidos de esquerda, conseguiu uma maioria relativa, com o partido de Emmanuel Macron e Gabriel Attal a ficar em segundo lugar.
De acordo com uma nota do Eliseu, Emmanuel Macron aceitou a demissão de todo o governo, que garantiu a continuidade do tratamento "dos assuntos correntes até à nomeação de um novo governo". Esta é, de resto, uma solução que o próprio primeiro-ministro tinha apresentado no dia das eleições, no qual anunciou a saída do executivo.
"Para que este período termine o mais rapidamente possível, cabe às forças da república trabalhar em conjunto para construir uma unidade em torno de projetos e ações ao serviço do povo francês", pode ler-se no comunicado da presidência francesa.
Não existe um prazo definido para que Macron nomeie um novo primeiro-ministro, na sequência da segunda volta das eleições legislativas que deram a vitória, sem maioria, à coligação de esquerda Nova Frente Popular, à frente dos partidos que apoiam Macron.
O primeiro-ministro, agora interino, apresentou a demissão na semana passada, depois de um resultado eleitoral que deixou o parlamento fraturado ter deixado o governo no limbo.
Macron pediu-lhe que se mantivesse temporariamente como chefe do governo, enquanto se aguarda uma nova decisão, numa altura em que a França está prestes a organizar os Jogos Olímpicos de Paris.
No entanto, Attal deverá, segundo analisa a agência noticiosa France-Presse (AFP), manter-se à frente dos assuntos correntes durante "algumas semanas", presumivelmente até ao fim do período sensível dos Jogos Olímpicos, que se realizam em França, de 26 de julho a 11 de agosto.
Ao final da manhã, o governo, liderado por Macron, realizou a sua primeira reunião do Conselho de Ministros no Palácio do Eliseu desde as eleições legislativas antecipadas convocadas pelo chefe de Estado após a derrota retumbante do seu partido nas eleições europeias do início de junho.
Nas legislativas, a coligação de esquerda Nova Frente Popular (NFP) obteve o maior número de lugares, mas não conseguiu ter maioria absoluta na Assembleia Nacional, que está agora dividida em três blocos: o NFP (190 a 195 lugares), seguido do campo presidencial de centro-direita (cerca de 160 lugares) e da extrema-direita e seus aliados (143 lugares).
Macron deu a entender no Conselho de Ministros que esta situação de um governo demissionário - com um papel político mínimo - poderia "durar algum tempo", "algumas semanas", provavelmente até, pelo menos, ao fim dos Jogos Olímpicos, de acordo com participantes entrevistados pela AFP.
Esta nova configuração permitiria assegurar "em nome da continuidade, o funcionamento mínimo do Estado francês", explica uma nota da Secretaria-Geral do Governo (SGG) datada de 02 de julho.
Entretanto, os partidos de esquerda franceses chegaram a acordo sobre uma candidatura única à presidência da Assembleia Nacional, anunciou hoje o líder do Partido Socialista (PS) francês, Oliver Faure, que não adiantou, contudo, o nome acordado.
"Chegámos a acordo sobre uma única candidatura à presidência da Assembleia Nacional", disse Faure aos jornalistas na sede do parlamento, evitando dar o nome ou a filiação do candidato, por considerar que isso é algo que corresponde "aos presidentes dos grupos parlamentares" dos quatro partidos, que negociaram.
O acordo foi obtido depois de os partidos que compõem a Nova Frente Popular (NFP, socialistas, comunistas, ecologistas e França Insubmissa (LFI) terem intensificado os seus confrontos verbais devido à falta de consenso sobre um candidato ao cargo de primeiro-ministro.
O nível de desacordo chegou a tal ponto que o secretário nacional do Partido Comunista (PCF), Fabien Roussel, avisou: "se não chegarmos a uma solução nos próximos dias, será um verdadeiro naufrágio".
As declarações de Fabien Roussel foram feitas depois de o coordenador nacional do LFI, Manuel Bompard, ter rejeitado a proposta de Laurence Tubiana para o cargo de primeiro-ministro, apresentada pelos outros parceiros do NFP.
"É uma proposta que não me parece séria", disse Bompard à France 2, na qual afirmou que a chegada de Tubiana à chefia do governo significaria "deixar entrar pela janela os ‘macronistas’ que foram afastados" nas eleições legislativas.
O LFI anunciou segunda-feira que estava a abandonar as negociações para chegar a acordo sobre um nome comum da esquerda para nomeação como primeiro-ministro, a apresentar a Emmanuel Macron.