FRANÇA || O mais novo dos 51 acusados de terem violado Gisèle Pelicot “reconheceu os factos, mas não a intenção”, uma vez que achava que a mulher se encontrava bêbeda. O julgamento está a decorrer na cidade de Avignon, no sul de França
No dia 2 de novembro de 2019, Joan Kwai não assistiu ao nascimento da filha. Em vez disso, esteve em casa do casal Pelicot, em Mazan, a violar Gisèle Pelicot, que se encontrava inconsciente - A revelação foi feita pela acusação durante o julgamento que tem como figura central Dominique Pelicot, eletricista de 71 anos que é acusado de ter drogado a sua mulher ao longo de quase dez anos para que outros homens pudessem abusar dela. No banco dos réus estão 51 homens.
Joan K. é o mais novo acusado - tinha apenas 22 anos quando participou nos abusos a Gisèle Pelicot. O jovem, hoje com 26 anos, afirmou: "Achei que estava a lidar com um casal que queria fazer um ménage à trois". Contou que Dominique Pelicot lhe garantiu que a mulher "não reagia porque estava bêbeda". “Não prestei atenção ao rosto dela, apenas ao corpo”, disse Joan Kwai durante o seu testemunho no 16º dia do processo judicial. É suspeito de ter visitado a casa do casal na cidade de Mazan para violar Gisèle Pelicot em duas ocasiões, tal como o demonstram os vídeos mostrados em tribunal e que datam de 2 de novembro de 2019 e 18 de julho de 2020. Chegou a marcar uma terceira visita que foi cancelada à última hora por Dominique Pelicot.
Descrito pelos investigadores como tendo uma "tendências depressivas", o rapaz nasceu na Guiana Francesa e juntou-se ao irmão em Avignon aos 16 anos, antes de se alistar no exército. Joan Kwai mantinha um relacionamento com uma mulher que conheceu na internet, mas o tempo que passaram juntos foi marcado por “numerosos” conflitos e “relações extraconjugais” de ambas as partes, disse em tribunal. No momento da separação, a parceira de Joan K. estava grávida.
Tal como vários dos outros acusados, Joan Kwai “reconheceu os factos, mas não a intenção” de violar Gisèle Pelicot. A maioria dos homens manteve até agora uma história semelhante, afirmando não ter conhecimento do estado da mulher. Muitos deles insistem que foram “enganados como parte de uma conspiração” organizada pelo casal. No entanto, as imagens assustadoras recolhidas pelas câmaras instaladas pelo marido da vítima não dizem a mesma coisa.
Dominique Pelicot foi detido em setembro de 2020 depois de uma equipa de segurança o ter visto a filmar por baixo da saia de quatro mulheres num supermercado em Carpentras, a poucos minutos de Mazan. Uma busca em sua casa revelou milhares de fotos da sua mulher numa pasta no computador intitulada "Abuso" e os promotores dizem que ele sedou Gisèle entre 2011 e 2020 para que dezenas de homens pudessem violá-la.
Os detetives listaram um total de 92 abusos cometidos por 82 homens, dos quais 51, incluindo o marido, foram identificados. Pelicot é acusado de sedar a mulher colocando Temesta, comprimidos para dormir e para a ansiedade, na sua refeição noturna.
Num caso separado, Pelicot foi acusado de violar e assassinar uma agente imobiliária de 23 anos em Paris, em 1991. O antigo eletricista também admitiu uma violação em 1999, depois de testes do DNA o terem ligado ao caso.
O julgamento deve prolongar-se até dezembro.
